Crítica - To the Wonder (2012)

Realizado por Terrence Malick
Com Olga Kurylenko, Ben Affleck, Javier Bardem, Rachel McAdams
Se há coisa que se pode dizer acerca de Terrence Malick é que ele é um realizador invulgar. Um realizador diferente de todos os outros, sejam eles contemporâneos ou pioneiros. O seu modo de filmar e de contar histórias é único, o que é tremendamente salutar em tempos de fórmulas pré-fabricadas e estandardização de procedimentos. Porém, a ideia que fica é que Malick por vezes exagera um pouco na sua improvisação. O homem é um génio atrás das câmaras e um excelente observador de tudo aquilo que o rodeia, disso não sobram grandes dúvidas. Mas por vezes leva a improvisação longe demais, oferecendo ao público diversas obras que só ele compreenderá por inteiro. “To the Wonder” não foge à regra e afirma-se como um filme visualmente belo sobre a natureza humana, onde tudo é filmado com enorme carinho e atenção ao detalhe. “To the Wonder” é Malick liberto de refreios, um pouco à imagem do que já sucedia em “The Tree of Life”. Mas enquanto “The Tree of Life” (apesar de moroso) ainda conseguia encantar o espectador e prendê-lo à cadeira, “To the Wonder” simplesmente se torna cada vez mais aborrecido com o passar dos minutos, levando a paciência da audiência ao limite.
Esta obra poucos diálogos possui, desenvolvendo a sua trama essencialmente a partir das imagens e das narrações (algo irritantes) em voz-off. No entanto, o que se consegue extrair em termos narrativos deste filme é o seguinte: Neil (Ben Affleck) e Marina (Olga Kurylenko) conhecem-se em Paris e apaixonam-se perdidamente um pelo outro. O amor entre ambos é de tal forma intenso que Marina manda a sua vida para trás das costas e acompanha Neil quando este tem de regressar aos Estados Unidos da América. Em território rural das terras do tio Sam, porém, as coisas complicam-se. Ultrapassada a fase de lua-de-mel, o casal começa a desentender-se e a sucumbir a tentações alheias, o que põe à prova máxima a própria essência do amor (talvez venha daqui o título português). A partir daqui tudo fica à interpretação do espectador, à medida que Neil e Marina se vão afastando e reaproximando.
“To the Wonder” é um autêntico teste à persistência do espectador. Como já foi referido, esta obra leva a paciência do espectador ao limite, não sendo obviamente para todos os públicos. Visualmente, é arrebatadora. Sonoramente também. A melhor coisa que se pode dizer acerca deste novo projeto de Malick (talvez o mais romântico e piegas até à data) é que ele transmite uma paz imensa. Os cenários são filmados como se nos encontrássemos num sonho feliz e a câmara trata as suas personagens com uma ternura excecional. Nestes aspetos faz lembrar “The Tree of Life”, embora jamais se torne tão avassalador ou visualmente hipnotizante. O elenco também não está mal (com destaque maior para Kurylenko, que aqui apresenta o primeiro papel digno de registo numa carreira ainda jovem), embora a personagem de Affleck pareça excessivamente deslocada daquilo que a rodeia. O grande problema é que a ausência de diálogos e as constantes reflexões em voz-off são um autêntico martírio para o espectador menos habituado a estas andanças, essencialmente porque abrandam o ritmo da película até níveis quase insuportáveis e porque se tornam excessivamente desgastantes ao fim de algum tempo. Creio que esta obra funcionaria bem melhor num formato de curta-metragem. Pois vinte ou trinta minutos de folhas a esvoaçar e mãos a acariciarem cabelos ainda se suportam bem, mas quase duas horas deste tipo de cinema experimental rebentam completamente com qualquer um, por muito boa vontade que se tenha. “To the Wonder” é um filme belo e filosófico sobre o amor e o espírito humano, mas acaba por estar vazio de grande conteúdo e/ou significado. Os fãs de Malick e do recente “The Tree of Life” não desdenharão esta obra. Contudo, mesmo esses terão de entrar na sala preparados para o que aí vem e perfeitamente convictos de que irão assistir a um espetáculo inferior a “The Tree of Life”.
Classificação – 2,5 Estrelas em 5

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