Crítica - É o Amor (2013)

Realizado por João Canijo
Com Anabela Moreira, Cassilda Pontes, Francisco Torrão

O Programa Estaleiro do Festival Curtas Vila do Conde apadrinhou e patrocinou em 2012 a criação e estreia de “Obrigação”, uma curta de João Canijo que explora, de uma forma quase documental, o quotidiano de um grupo de mulheres das Caxinas que, para além de trabalharem arduamente na venda do peixe que os seus maridos pescaram em alto mar, têm também que governar quase sozinhas a sua família. O aparente sucesso desta curta-metragem levou Canijo a adaptá-la a uma longa-metragem que, por não acrescentar nada ao projeto inicial e por esticar em demasia a base do seu guião, perde todo o valor que poderia ter tido. Para mim, “É o Amor” não funciona como um documentário ou como uma ficção. É um filme chato, lento e dolorosamente extenso que nunca deveria ter sido feito, até porque “Obrigação” promove o mesmo efeito emotivo e narrativo, mas de uma forma muito mais eficaz e interessante. O retrato realista da rotina das mulheres caxineiras tem o seu interesse, mas a força desta visão é destruída pelos excessos e escolhas de João Canijo, um cineasta claramente talentoso que em “É o Amor” tomou algumas decisões bastante questionáveis, como a inclusão do videodiário de Anabela Moreira, uma atriz “infiltrada” entre as esposas caxineiras que, por força da enorme destreza e influência emocional dessas corajosas mulheres, começa a questionar a sua visão moderna sobre o amor. Este videodiário não resulta e afeta o ambiente de realismo do filme. É difícil compreender a sua presença, mas é sobretudo difícil seguir com atenção ou interesse estes monólogos que, no fundo, não passam de introspeções pseudo-filosóficas sem grande abrangência ou sentido prático. A edição de “É o Amor” também não é muito eficaz e contribuiu decisivamente para um resultado final demasiado extenso e enfadonho. O espetador não quer nem gosta de ver cenas muito paradas que nos mostram, por exemplo, um barco que demora dez penosos minutos a partir para alto mar desde uma doca com pouca iluminação. Esta é apenas uma de várias sequências que não precisavam de se arrastar durante tantos minutos e que, por serem tão compridas e chatas, ajudam a abrandar o ritmo e a diminuir a atração desta produção de João Canijo, que perdeu uma boa oportunidade para dar um bom seguimento à sua curta e contar uma envolvente história sobre as Caxinas, uma das regiões mais interessantes e socialmente dinâmicas do nosso país. 

 Classificação – 1,5 Estrelas em 5

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