Entrevista a David Rebordão, o Realizador de RPG e A Curva

É já esta quinta-feira, 29 de Agosto, que estreia em Portugal uma produção sci-fi chamada "RPG", que promete fazer correr muita tinta. Realizado por David Rebordão, "RPG" conta com Pedro Granger, Rutger Hauer, Soraia Chaves e Vitória Guerra no seu elenco, e desenrola-se num futuro não muito longínquo, onde Steve Battier, um multimilionário idoso e com uma doença terminal, aceita a proposta de uma empresa - RPG - que a troco de um elevado valor monetário oferece a um grupo muito restrito de clientes a possibilidade de voltarem a ser jovens. Durante 10 horas, 10 milionários de todo o mundo, homens e mulheres com fama e poder, vão transferir-se para corpos jovens, atraentes e saudáveis, para viver um rejuvenescimento temporário num jogo muito real de emoções fortes em que a cada hora alguém terá de morrer. No corpo de um homem de 23 anos, voltando a viver os prazeres do sexo e experimentando a adrenalina da violência e do poder sobre a vida e a morte, Steve está disposto a tudo para continuar jovem para sempre… Mas nem sempre aquilo que vivemos é o que parece ser. Para preparar o espetador para o lançamento deste filme português, o Portal Cinema esteve à conversa com o realizador David Rebordão, que nos falou sobre praticamente todas as vertentes de "RPG", sem esquecer a influência que a sua curta "A Curva" teve neste seu trabalho e na sua carreira.

 
David Rebordão

Portal Cinema (PC) - A maior parte dos portugueses pode não saber, mas o David realizou a curta “A Curva”, que já se tornou numa espécie de curta de culto entre o público nacional. Antes de falarmos sobre “RPG” será que nos podia falar um pouco sobre a influência que “A Curva” e o seu mediatismo tiveram na sua vida e carreira?
David Rebordão (DR) - Desde o início da minha carreira que sempre tive como objectivo levar os meus trabalhos ao maior número de espectadores possível, e com "A Curva" consegui ultrapassar as minhas melhores expectativas. O seu sucesso vai para além do nosso país, é uma curta de culto a nível internacional. Ainda há pouco tempo um canal japonês fez um documentário sobre a curta e nos últimos 3 anos tenho produzido vídeos de cariz sobrenatural para outro canal no Japão. Quando ninguém te conhece, tens de procurar alguma forma de mudar essa situação para que os outros te possam valorizar e assim colaborar contigo.
Depois de deixar actuar o efeito viral do vídeo, fiz chegar ao conhecimento da imprensa que eu era o autor da curta, e com os números gigantescos de visualizações que o vídeo tinha, passei a ser foco de algum mediatismo. É assim que o Tino Navarro me descobre e me possibilita o concretizar de um sonho, realizar uma longa. É por isso que "A Curva" foi fundamental.

PC - Já passaram nove anos desde o lançamento da curta “A Curva”. O David lançará agora em Agosto um novo projeto intitulado “RPG”. Como é que esta longa-metragem veio parar-lhe às mãos? Como correu esta sua primeira experiência como realizador de uma longa-metragem? Foi difícil dar o salto das curtas-metragens para as longas-metragens?
DR - Na minha primeira conversa com o Tino Navarro, apresentei-lhe um guião que tinha escrito chamado "RPG - Real Playing Game", que acabou por ser depois substituído mas, foi o ponto de partida para esta longa-metragem.
A minha experiência profissional em audiovisual de uma década, seja em publicidade, videoclips, fez com que fosse mais fácil adaptar-me à realização de uma longa.  Foi também importante a minha colaboração com o Tino Navarro, dando-me ainda mais segurança, fazendo com que as coisas tivessem corrido muito bem.

PC - O Tino Navarro e o Artur Ribeiro são os guionistas creditados de “RPG”. O David teve alguma influência na elaboração do argumento? 
DR - A influência que posso ter tido advém de alguns conceitos existentes no primeiro guião. De resto, a história é diferente e não tive envolvimento directo na sua elaboração.

PC - Foi difícil passar o guião para filme? Quais foram os maiores desafios?
DR - Tudo tem o seu nível de dificuldade, e para um realizador de 1ª obra, que ainda não criou automatismo, a atenção ao pormenor tem de ser redobrada. Toda a arte conceptual que se teve de desenvolver, demonstrativa de um futuro tecnológico, foi um grande desafio. A credibilidade dos ambientes é fundamental para que o espectador se concentre na história. O facto de ser um guião em inglês também obrigou a uma análise diferente do que se fosse em português. Torna-se um grande desafio fazer com que os actores compreendam todas as "nuances" de um guião escrito numa língua que não é a deles.

PC - A versão final de “RPG” corresponde à sua visão inicial? Ou teve de proceder a alguns reajustamentos e alterações por causa do orçamento ou de questões técnicas?
DR - Mal estavam os filmes, se não tivessem sempre de ser reajustados. Penso que é parte integrante do processo, e que normalmente dá bons frutos. Estamos muito satisfeitos com o produto final. Agora só falta seduzir o publico, que é o juiz mais importante.

PC - O que nos pode dizer sobre a história de “RPG”? O que é que o público pode esperar da sua trama? É um filme mais virado para a ação, ou mais virado para o mistério?
DR - O "RPG" é um filme que explora os limites do homem, morais e éticos, que perante determinada situação tem de decidir até onde está disposto a ir. Num futuro próximo isso será posto à prova, por uma empresa chamada RPG, que oferece a possibilidade de alguém em idade avançada poder usufruir de um corpo novo à sua escolha. Durante 10 horas, esses corpos são postos à prova num jogo letal, de forma a potenciar o usufruto dos corpos. Só se pode matar alguém, descobrindo a verdadeira identidade da pessoa que está a usar o corpo, dando assim origem a todo um mistério em volta de cada participante. 
É um filme com uma boa dose de acção, mas a intriga e o mistério são os ingredientes principais e duram até ao ultimo minuto. 

PC - Quais foram os seus maiores desafios durante as filmagens? Quanto tempo demorou o processo de filmagens e pós-produção de “RPG”? Gostou de filmar em Portugal, ou preferia ter filmado no estrangeiro?
DR - Este é um filme com muitos VFX, o que fez com que tecnicamente fosse um desafio. Fizemos muitas coisas que são novas no cinema português e sempre tendo em conta que não somos Hollywood. Tivemos de ser muito criativos e cuidadosos.
Filmámos em digital a 4k e também em 35mm. Quisemos trabalhar fotograficamente, de modo diferente, o cenário de jogo e o centro de comando na empresa RPG. Foram 5 semanas de rodagem e quase dois anos de pós-produção. Estou muito contente de termos filmado em Portugal. É um país óptimo para se filmar, com profissionais de topo a todos os níveis, e além disso o cenário de jogo desde a versão original sempre foi o antigo complexo hoteleiro do Muxito.

PC - O seu trabalho em “RPG” teve alguma inspiração concreta? Houve algum realizador que influenciou as suas opções criativas e técnicas?
DR - Todos nós somos resultado de uma mescla de inspirações com uma pontinha de originalidade. Nunca fui adepto só de uma escola ou estilo, gosto do entretenimento americano misturado com o refinamento europeu.

PC - A parte visual de “RPG” parece ser muito importante. O trabalho da equipa responsável pelos efeitos especiais correspondeu às suas expetativas e visão?
DR - Nós estamos satisfeitos. Foram precisas três empresas de VFX para todo o trabalho. Foram à volta de 700 planos com algum tipo de intervenção de VFX. Foi um grande desafio para todos.

PC - A maior parte do elenco de “RPG” é composto por atores estrangeiros de várias nacionalidades. Foi complicado trabalhar com este elenco tão diversificado? 
DR - Lidei com o melhor de dois mundos. Actores novos, cheios de vontade e entusiasmo, encantados por estar a filmar neste país. E por outro lado, actores mais consagrados, cuja experiência e talento garantem um trabalho de qualidade.  É um verdadeiro elenco global, dos EUA à Albânia, temos actores provenientes de vários pontos do globo. Foi uma experiência enriquecedora.

PC - A escolha do elenco foi difícil e morosa? Que tipo de qualidades procuraram e privilegiaram no processo de escolha dos jogadores?
DR - Tínhamos um número ainda grande de actores para escolher, e queríamos que fossem de várias nacionalidades, por isso fizemos uma pesquisa a nível mundial. Havia também o desafio de conseguir uma figura internacional de primeira linha.
Fizemos sessões de casting em Portugal e Londres. Foi um processo moroso e cheio de particularidades. Estou convencido que o elenco deste filme é um dos seus pontos fortes. O público vai conhecer novas caras e também ser surpreendido por algumas que já conhece. 

PC - A grande estrela internacional do elenco é o veterano Rutger Hauer. Como foi trabalhar com este profissional de elevado calibre?
DR - Mais um sonho tornado realidade. A primeira vez que falei com o Rutger foi on-line e lembro-me de ver o rosto dele no écran, e pensava para mim se aquilo era mesmo verdade ou estava a ver uma cena de ficção com ele. Foi uma experiência inesquecível, e a constatação de que a excelência é sempre um prazer garantido para quem observa. É um actor fantástico, que te surpreende a cada take, e sempre com qualidade.

PC - O elenco de “RPG” também tem alguns atores nacionais bem conhecidos, como o Pedro Granger, a Débora Monteiro, o Duarte Grilo e a Soraia Chaves. Como é que se portaram? Estiveram à altura das expetativas?
DR - Para completar os nomes que referes, não posso esquecer a Vitória Guerra. Todos estiveram excelentes e penso que alguns deles conseguiram um registo que vai surpreender os espectadores. Temos muito actor subaproveitado neste país, é preciso ter mais respeito por eles e proporcionar-lhes boas experiências, como no nosso filme onde tiveram oportunidade de trabalhar com actores estrangeiros de qualidade e assim sentirem-se estimulados a darem o seu melhor. 

PC - O que espera que o público português retire de “RPG”? Acha que é um filme com potencial para agradar às massas e para ser um sucesso de bilheteiras?
DR - São 90 minutos de entretenimento, onde se conta uma história repleta de emoções fortes, através um visual moderno e uma fotografia muito cuidada. O tema do filme é bastante actual, numa altura onde se começam a projectar evoluções tecnológicas que podem permitir uma vida mais longa, podendo por isso despertar o debate sobre o assunto. É um filme que respeita o público, não presumindo sobre a sua inteligência, e oferecendo algo a todos. E são eles que vão decidir se vai ser um sucesso.

PC - Qual é para si, o maior atributo de “RPG”. O que é que o destaca de outros filmes do género?
DR - Um filme feito para o público.  A intenção não é destacar-se, porque em Portugal não há filmes deste género mas, já ficava satisfeito se ficasse ao nível de outros filmes do género internacionais. No que concerne à história, temos a nossa percentagem de originalidade mas, não posso ser mais concreto senão iria revelar demais. 

PC - Já nos pode dizer se “RPG” será lançado no estrangeiro? Há alguma possibilidade de ser exibido no circuito comercial norte-americano?
DR - Com estas características, é um filme onde nós ambicionamos essas possibilidades, mas estamos conscientes de como as coisas funcionam.

PC - O que espera que “RPG” traga à sua carreira?
DR - Tenho esperança que me abra a possibilidade de fazer mais filmes. Ser realizador foi a profissão que escolhi, e nesse sentido tenho desenvolvido uma carreira sólida em várias áreas da profissão. O RPG esteve sempre em "background" a ser desenvolvido, tendo eu a forte convicção de que seria o projecto que me daria a credibilidade que me fará passar para a etapa seguinte. São 8 anos de obsessiva dedicação ao filme e agora chegou a altura de saber se tudo valeu a pena.

PC - Já tem algum projeto futuro em mente?
DR - No que diz respeito a projectos no papel, tenho vários mas, mais do que isso só depois da estreia do RPG.  Este ano começou com a estreia da curta "Jogo Maldito", através de um colectivo que fundei chamado Nexus Films, e agora a longa-metragem. Já me dou por muito satisfeito.
Uma coisa o público pode sempre ter a certeza, tudo o que farei é sempre a pensar neles e com a intenção de os surpreender.

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