MOTELx 2013 - Entrevista à Organização

É já esta quarta-feira, 11 de Setembro, que arranca no Cinema São Jorge, em Lisboa, o MOTELx 2013. Já aqui falamos por diversas vezes da edição deste ano, que promete ser uma das mais concorridas bem-sucedidas até à data, mas quem melhor para falar dos grandes destaques deste certame do que a organização deste festival, com quem tivemos à conversa e que teve a amabilidade de nos falar um pouco mais sobre os principais destaques deste evento dedicado ao cinema fantástico.

Portal Cinema (PC) - Gostaria de começar por falar sobre a Competição Oficial do MOTELx 2013 – Prémio Yorn MOTELx. Quantos realizadores portugueses é que submeteram, este ano, os seus projetos a concurso? O que acharam, em geral, do nível dos projetos apresentados este ano, e como foi feita a seleção?
MOTELx (MX) - Recebemos uma média de 40/50 filmes por ano, o que é excelente tendo em conta o panorama de produção cinematográfica em Portugal, ainda mais por se tratarem de projectos, na sua maioria, feitos de propósito para esta competição. A selecção final é feita com base nos critérios subjectivos dos programadores e este ano verificamos que a actual situação económica e social é o motor das narrativas destes filmes. Trata-se de um bom sinal, pois esta ligação estes os períodos de ouro do género coincidiram sempre e/ou foram alimentados pelo contexto sócio-politico em que estavam inseridos.

PC - Este ano, o Júri da Competição Oficial é composto por Nuno Markl, Safaa Dib e Thierry Phlips. O que levou o MOTELx a convidar estas três personalidades a integrarem o júri? 
MX - O Nuno Markl é amigo do festival desde a 1ª edição, tendo apresentado algumas masterclasses, como p.e. a de George Romero. Trata-se de alguém com profundos conhecimentos cinéfilos e uma devoção pelo género. Há muito que estava nos nossos planos convidá-lo e, este ano, houve abertura da sua agenda para este desafio. A Safaa Dib tem desempenhado um importante papel na divulgação e edição de literatura fantástica e de terror em Portugal através da editora Saída de Emergência. É também uma das organizadoras do Fórum Fantástico. Finalmente, Thierry Phlips é director do Razor Reel Film Festival, em Bruges, que começou no mesmo ano que o MOTELx e faz também parte da Federação Europeia, tal como nós.

PC - Já é uma espécie de tradição que a Competição do MOTELx só englobe curtas-metragens nacionais, mas estão a pensar criar, num futuro próximo, uma competição dedicada a projetos internacionais, quer de longas-metragens, quer de curtas-metragens?
MX - Para já, não. Até porque para isso acontecer, o festival teria de ocorrer durante mais dias. O nosso objectivo é fazer com que cada sessão seja uma festa, e preferimos este formato não competitivo e compacto para nos concentrarmos no grande objectivo do festival: o estímulo da produção nacional de filmes de terror. 

PC - Este ano o MOTELx tem dois convidados de luxo, os realizadores Hideo Nakata e Tobe Hooper. Como é que o MOTELx conseguiu trazer a Portugal estas duas lendas do cinema de terror, e o que esperam que a presença destes dois ícones cinematográficos acrescente ao festival?
MX - O MOTELx desde o primeiro ano que tem uma lista de cineastas prediletos que gostaria de trazer a Portugal. Feito o convite é tudo uma questão de agendas. Este ano estamos muito felizes porque conseguimos reunir estes 2 grandes nomes no mesmo ano. O MOTELx funciona também como um workshop intensivo de cinema de terror, nesse sentido, a presença de realizadores tão importantes e experientes é uma mais valia absoluta.

PC - Uma das secções que mais curiosidade suscita em todas as edições do MOTELx é a Secção Quarto Perdido, onde são exibidos (e descobertos) vários filmes clássicos de terror nacionais. Este ano, “A Promessa” e o “O Crime da Aldeia Velha” foram os filmes selecionados. O que esteve na origem das suas escolhas? O público ficará agradavelmente surpreendido com estas duas produções portuguesas? 
MX - Estes são filmes que também nós vamos descobrindo e a ideias para este ano nasceu do visionamento d’ "O Crime de Aldeia Velha", com argumento do próprio Santareno. Lembrámo-nos que "A Promessa" do Macedo também era adaptado de uma peça do mesmo dramaturgo. O que não sabíamos era que estes foram os únicos filmes adaptados de obras de Santareno; que os três costumavam participar em tertúlias em café lisboetas; e que foram vítimas da censura em Portugal. Trata-se de duas obras injustamente esquecidas que serão apresentadas pelos intervenientes e que esperamos sejam do interesse do público.

PC - A programação do MOTELx 2013 também inclui um pequeno espaço dedicado aos documentários, onde poderão ser vistos três filmes documentais muito diferentes uns dos outros, mas com potencial para agradarem ao público do festival. O que é que motivou a seleção destes três projetos?
MX  - "Shooting Bigfoot" é um híbrido entre o documentário, o mockumentário, a comédia e o terror em torno da eterna busca ao mítico animal. Trata-se de um filme que desafia o espectador e obriga-o a participar numa autêntica experiência. "Room 237" é um filme acerca das múltiplas teorias em torno do clássico "Shining", de Stanley Kubrick, que foi um dos destaques do último Sundance e prepara-se para mudar para sempre a forma de fazer documentários acerca de filmes. Finalmente, "Despite the Gods" relata a conturbada experiência da realizadora Jennifer Lynch em Bollywood e é pertinente pois o último filme da realizadora, "Chained" será exibido no festival.

PC - Não há dúvidas que o público se interessa pelas secções paralelas, pelas retrospetivas, pelas masterclasses e pela competição principal, mas o que, todos os anos, chama mais a atenção dos espetadores que tencionam visitar o MOTELx é, sem dúvida, a programação da Secção Serviço de Quarto, onde normalmente estão presentes os maiores títulos deste festival. Este ano consigo encontrar muitos destaques, mas gostaria que a organização desse primeiro a sua opinião sobre a composição geral desta secção, e quais são os filmes que deverão centrar a atenção do público? Há algum tema específico que una as longas-metragens desta secção?
MX - Este ano temos a presença inédita de 5 filmes realizados por mulheres dos quais destacava: "Chained" da filha de David Lynch, Jennifer Lynch; "Dark Touch" da gaulesa Marina de Van; e a estreia em cinema de outra filha de pais famosos, Xan Cassavetes, em "Kiss of the Damned". Temos dois dos melhores filmes de zombies dos últimos tempos em "The Battery" e "The Desert". E dois exemplos de cinema de terror militante com "Cheap Thrills" e "Countdown". Este ano temos duas maratonas na Sala Manoel de Oliveira, nas quais o público poderá assistir ao regresso de James Wan no campeão de bilheteiras "The Conjuring"; a um slasher pró-feminista mas realizado por um homem "Girls Against Boys"; e duas antologias, "The ABC’s of Death" e "V/H/S/2".

PC - A maior parte dos festivais nacionais queixa-se da falta de verbas para realizar um evento à altura das expetativas dos espetadores. O MOTELx também tem esses problemas financeiros? Quais são as expetativas, a nível de números, que têm para esta edição? Há alguma barreira específica que desejem quebrar?
MX - No início de cada ano temos feito previsões mais contidas em termos de receitas para estarmos preparados para o pior e temos apostado muito forte na apresentação do festival junto de novos potenciais parceiros e, principalmente, junto dos patrocinadores da edição anterior. Felizmente, este esforço tem dado frutos e temos conseguido manter grande parte dos parceiros de ano para ano e acrescentar novos, como foi o caso da Yorn, nesta 7.ª edição. Paralelamente a este objectivo a grande prioridade é manter uma programação de qualidade que continue a suscitar interesse do público em participar.

PC - O que é que podemos esperar do MOTELx? Quais são as expetativas gerais para este evento?
MX - São as melhores possíveis. Temos uma programação muito variada, três homenagens e muitos convidados, esperamos (como em todos os anos) que seja esta a melhor edição de sempre, porque nunca sabemos se será a última.

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