Gravity - A Magia de Hollywood Vs A Impossibilidade Científica

Já passaram vários anos desde a última vez que vimos alguma coisa de relevo da parte de Alfonso Cuáron, que nos seis anos que se seguiram ao lançamento mundial do razoável drama sci-fi “Children of Men” (2006), dedicou-se apenas a trabalhos menores em curtas documentais e série televisivas. Esta sua espécie de hibernação cinematográfica chega agora finalmente ao fim graças ao lançamento do já aclamado thriller dramático “Gravity”, que estreia já esta semana em Portugal, após já ter estreado a semana passada nos Estados Unidos da América, onde foi recebido com críticas efusivas e recordes de bilheteiras. É provável que este sucesso seja replicado na grande maioria dos mercados mundiais, até porque “Gravity” já vem sendo rotulado como um dos possíveis êxitos do ano desde a sua breve mas ilustre passagem pelo Festival de Veneza de 2013, onde conseguiu arrancar uma grande variedade de elogios da imprensa internacional, elogios esses que ajudaram a impulsionar a grande onda de expetativas positivas que se montou em redor deste projeto sufocante, onde seguimos a história de dois astronautas que, após sofrerem um grave acidente no espaço, tentam todas as estratégias de salvação possíveis para regressarem a casa sãos e salvos. O grande problema de "Gravity" é que, embora esteja a ser aclamado pela crítica, já começou a ser alvo de duras críticas por parte de especialistas em questões espaciais, que já vieram a público criticar a sua gritante falta de credibilidade e realismo. 
Nos últimos dias, vários peritos ligados a instituições de prestígio, como a NASA ou o MIT, já vieram dizer que “Gravity” é um poço de incongruências e impossibilidades físicas e científicas, que se notabiliza claramente como um exemplo perfeito de uma produção hollywoodiana onde reina o irrealismo e a fantasia. Os peritos que já se manifestaram argumentam que 99% do que se passa em “Gravity” é impossível ou extremamente improvável, já que praticamente tudo o que acontece, desde que os dois protagonistas chegam à estratosfera terrestre, não se deveria processar da forma que se processa no filme, aliás os mais cépticos até dizem que, seguindo um plano meramente lógico, a história terminaria de forma trágica mal se dá o catastrófico acidente espacial que dá verdadeiramente início à jornada sufocante dos dois astronautas. Os puristas e especialistas criticam, entre muitas coisas, o facto de ser impossível para um astronauta, com o equipamento já muito avançado que existe hoje em dia, passar tanto tempo no gélido ambiente espacial e deslocar-se com tanta rapidez e agilidade numa zona altamente volátil como aquela onde se dá o acidente, mas a grande crítica prende-se com o facto de ser completamente impossível saltar de estação espacial em estação espacial da mesma forma que a personagem de Sandra Bullock faz durante grande parte do filme, já que todas as estações mencionadas estão separadas umas das outras por grandes distâncias, que nem um vaivém espacial ultramoderno poderia percorrer em menos de dois dias. Os especialistas também criticam o facto da personagem de Sandra Bullock ter um cargo e uma especialização completamente incompatíveis com a missão espacial em que participa, bem como a sua surpreendente polivalência para compreender vários sistemas complexos originários de diferentes nações, algo que nem as pessoas mais inteligentes da NASA conseguem dominar na perfeição, devido ao secretismo que reina na indústria espacial. É claro que estas são apenas as críticas principais relativas aos pontos centrais do filme, porque existem muitas mais para além das que acabo de referir. 
Estas críticas não passaram ao lado de Alfonso Cuarón, que já veio admitir que o filme aposta realmente em muitas coisas impossíveis, mas confirmou também que o seu objetivo nunca foi criar um filme cientificamente exato e realista, mas sim um bom produto de entretenimento capaz de agradar ao público-geral. Os pozinhos mágicos da imaginação hollywoodiana estão portanto bem presentes em “Gravity” que, à parte de todas as improbabilidades e impossibilidades científicas, tem conseguido reunir o consenso da grande maioria do público, que não se tem cansado de comentar nas redes sociais que este filme é uma experiência cinematográfica digna do preço do bilhete. É claro que os mais puristas a nível científico vão encontrar um grande variedade de falhas e erros crasso, mas o espetador geral encontrará um bom e intenso filme, que puxa pelo lado mais paranóico do ser-humano mas que não ganhará nenhum prémio científico nos próximos tempos.

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