Realizado por Jeff Nichols
Com Matthew McConaughey, Reese Whiterspoon, Michael Shannon
Género – Drama
Sinopse - Intrigados com a história de Mud (Matthew McConaughey), um fugitivo escondido numa ilha, Ellis e Neckbone (Tyler Sheridan e Jacob Lofland) decidem ajudar o homem que, apesar de ser acusado de homicídio e ter caçadores de recompensas no seu encalce, justifica os seus atos criminosos com o seu grande amor, Juniper (Reese Witherspoon), que aguarda na cidade para fugir com ele. Mas nem tudo corre como planeado e os maiores receios de Mud tornam-se realidade...
Crítica - É impossível resistir à peculiaridade e à genialidade de Jeff Nichols, um jovem e promissor cineasta norte-americano, que após ter deslumbrado a elite cinematográfica com os magníficos “Shotgun Stories” (2007) e “Take Shelter” (2011), regressa agora ao grande ecrã com mais um projeto independente absolutamente genial, que valida sem qualquer contestação a sua pequena mas já espantosa carreira, que para mim é um pouco mais cativante que as de outros jovens realizadores altamente promissores, como Nicolas Winding Refn, Spike Jonze ou Derek Cianfrance. Este seu novo projeto chama-se “Mud” e apresenta-se como mais uma produção independente de alto nível que ilustra na perfeição todo o talento e confiança deste jovem realizador, que mais uma vez juntou a sua brilhante capacidade de direção e edição à sua incrível capacidade de escrita para criar este belo produto, que nos apanha de surpresa com a sua doce e inocente intriga, que deriva de uma história base algo rudimentar que este jovem cineasta conseguiu valorizar ao acrescentar-lhe uma enigmática doçura romântica que reforça o lado mais sensível e inocente do ser-humano.
O guião de “Mud” apresenta portanto uma delicada mistura entre o melodrama humano e o romantismo incurável, cujo delicado balanço tem como principais intervenientes o jovem Ellis e o enigmático Mud, que parecem partilhar a mesma ideologia romântica com toques de justiça poética. O facto de Mud e Ellis partilharem as mesmas ambições e ideais românticas leva-os a formarem uma improvável mas inquestionável amizade, que mais perto do final é validada por uma prova de fogo, onde o passado de Mud regressa para o atormentar e para colocar em perigo a vida do seu novo amigo. Este aspeto mais violento fornece um complemento interessantíssimo ao aspeto romântico e melodramático que domina o valioso guião desta obra, que aproveita a sua tendência romântica para evidenciar o lado mais esperançoso e aprazível dos dois protagonistas, que embora sejam românticos incuráveis, acabam por nunca conseguir concretizar na plenitude os seus desejos românticos mais íntimos, seja Ellis com a jovem May Pearl, ou Mud com a problemática Juniper, mas no final fica bem patente que ambos não desistiram do amor e que, mais cedo ou mais tarde, poderão voltar a acreditar no máximo sentimento humano. Para além dos ideais amorosos, “Mud” também realça vários valores importantes relativos à amizade e à confiança através do evoluir da forte cumplicidade entre os dois jovens amigos (Ellis e Neckbone) e o misterioso fugitivo (Mud), sendo também muito aprazível de seguir a forte ligação que existe entre os dois jovens, que parecem sempre dispostos a sacrificar o seu bem-estar um pelo outro. Uma parte muito importante e significativa de “Mud” também diz respeito às ligações familiares, sejam elas diretas ou indiretas. Uma das principais particularidades desta fase está presa à curiosa relação semi-parental entre Mud e Tom (Sam Shepard), que nutre alguns paralelismos com as mais objetivas relações familiares entre Ellis e o seu pai (Paul Sparks), ou entre Neckbone e o seu tio (Michael Shannon). Esta curiosa ligação familiar entre os protagonistas e as suas figuras paternas também se alastra aos vilões, já que as suas motivações para atacarem Mud também estão relacionadas com questões familiares. No fundo, “Mud” mexe com pontos fulcrais, como a família, a amizade ou o amor. Este conjunto de importantes uniões e sentimentos dá origem a uma narrativa cheia de significado emocional que, por força da enorme capacidade criativa de Nichols e da sua magnífica idoneidade para contar e desenvolver uma história aprazível, consegue estimular o lado mais impressionável do espetador, sem que para isso tenha que recorrer a estereótipos frustrantes ou excessos comportamentais, já que tudo em “Mud” parece fluir com uma impressionante naturalidade e com uma polivalente mística espirituosa que o tornam num projeto muito fácil de seguir e que desde cedo agarra a nossa atenção às histórias dos dois protagonistas, que por sinal são interpretados na perfeição pelo sempre inconstante Matthew McConaughey e pelo jovem Tyler Sheridan, que se bem se lembram estreou-se nestas andanças da representação com uma boa performance em “The Tree of Life”; de Terrence Malick.
Classificação – 4,5 Estrelas em 5
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