Queer Lisboa 2013 - Entrevista a Daniel McIntyre




Durante o Queer Lisboa 2013, que se realizou entre 20 e 28 de Setembro em Lisboa, o Portal Cinema teve a oportunidade de entrevistar o jovem realizador canadiano Daniel McIntyre, que veio a Lisboa para se juntar ao Júri da Principal Competição do Queer Lisboa. O Daniel é uma pessoa extremamente acessível, que nos falou um pouco sobre o seu ainda breve percurso profissional e, claro está, sobre os seus planos e objetivos na industria cinematográfica. É claro que também acabamos por falar um pouco sobre o Canadá e sobre a aliança com Hollywood, que tem ajudado várias artistas canadianos a darem o salto profissional, mas tal como Portugal, o Canadá também parece ter vários problemas ao nível de apoios comerciais a jovens cineastas. 

Portal Cinema - O público português não está muito familiarizado com o seu precursor profissional, por isso será que nos pode dar uma breve sinopse da sua carreira até ao momento?
Daniel McIntyre - Eu licenciei-me na Universidade de York em 2008, e terminei em 2009 o meu primeiro filme indie chamado “The Reason Why”. Eu lutei por criar um novo método de realização que se adequasse à minha forma de ver o mundo e conseguisse expandir conceitos diários que tivessem uma grande relevância no meu quotidiano. Foi graças a esse primeiro filme que consegui fazer um estágio no Canadá, algo que me permitiu fazer o meu segundo filme: “Goodbye”, que acabou por ter uma estreia internacional em Londres. Desde então terminei mais dois projetos: “Some Day My Prince Will Come” e “Happy”, que ganhou um prémio de financiamento através do Canada Council for the Arts. De momento estou a completar uma série de curtas-metragens sobre uma temática muito importante, a radiação.

PC - Quais são os seus planos e objetivos nesta indústria? O que o fez seguir esta carreira?
DM - Eu pretendo criar um conjunto de obras originais e conceptualmente fortes que mereçam ser alvo de estudo e discussões. Eu luto por criar um trabalho honesto e desafiante que também seja acessível para o público, para que este possa falar sobre ele. Há um grande legado de magníficos, inteligentes e prolíferos artistas no Canadá, e o meu grande objetivo é um dia ser considerado um desses grandes artistas. Para além disso, também gostaria de ter a oportunidade de viajar um pouco por todo o mundo e estabelecer uma audiência global.

PC -  Está atualmente a trabalhar numa série de sete curtas sobre a radiação. O que é que nos pode dizer mais sobre esse projeto?
DM - O “Lion” é um conjunto de curtas que exploram a radiação, a memória, a rotina e várias histórias de sobrevivência. O meu método de trabalho consiste em filmar tudo o que queira em 16MM, e posteriormente processar tudo o que filmei de forma pessoal numa sala escura. É através deste método que consigo obter as imagens que quero. A maior parte do meu trabalho assenta muito na minha memória, por isso tento sempre replicar nas filmagens as imagens que me vêm a cabeça. Eu sempre fui obcecado pelo Desastre de Chernobyl, e lembro-me perfeitamente de ver em criança várias imagens e fotografias do desastre e do processo de limpeza que se seguiu, onde eram bem visíveis as consequências do desastre. Eu comecei a pensar nessas imagens e na forma como esses artefactos fotográficos foram obtidos, e comecei a pensar que talvez os pudesse duplicar usando novas tecnologias. Este meu novo projeto é uma tentativa de explorar a ideia de criar algo invisível como a radiação e transformá-la em algo que possa ser visto a olho nú. A parte narrativa do projeto assenta sobretudo em metáforas e relatos de sobreviventes, mas também tem um pouco das minhas próprias experiências durante os anos que passei a viajar, incluindo a viagem que fiz a Chernobyl.

PC - Está a trabalhar em mais alguma coisa para além e "Lion"? Tem algum projeto em mente para o futuro?
DM -Eu acabei agora de editar uma curta do Mark Pariselli, que deverá estrear em breve. Mal termine o “Lion” irei fazer uma curta de animação sobre um ex-amor, e um filme sobre famosos diamantes e mentiras.

PC -  O que pensa da indústria de cinema do seu país? O que mudaria? Acha que o Canadá está demasiado próximo a Hollywood?
DM - A industria profissional no meu país está atualmente muito dividida. A maior parte dos meus amigos estão atualmente a trabalhar em várias produções de Hollywood que estão a ser filmadas no Canadá, que montou um grande sistema profissional para acolher com todas as condições os grandes estúdios norte-americanos e os seus filmes. Esta aliança com Hollywood tem beneficiado largamente o cinema canadiano, sendo por isso que acredito que num futuro próximo vamos ver grandes coisas dos nossos artistas. O problema está na outra parte da indústria, que não recebe assim tanta atenção por parte da imprensa. Os projetos mais independentes dos artistas e cineastas canadianos estão completamente à parte dessa aliança com Hollywood, e acabam por cair por vezes no esquecimento. É por isso que são muitas as pessoas que sabem muito pouco do verdadeiro cinema canadiano. Para além do mais, quanto mais o filme for artístico e desafiante, mais difícil é obter distribuição. Eu não acho que isto aconteça por falta de interesse do público, mas sim por medo dos distribuidores, que têm a tendência de meter nos cinemas os filmes que mais probabilidades têm de levar mais gente aos cinemas. É claro que há várias expeções a esta regra, mas acho que no geral o Canadá também tem que acolher os projetos mais experimentais. O cinema é o lugar perfeito para isso.

PC - O que pensa de Portugal? Gostou da sua visita a Lisboa? E o que achou do Festival Queer Lisboa? Será que o vamos voltar a ver por cá?
DM - A minha visita a Portugal foi fantástica. É um país com uma beleza clássica que não estou acostumado a encontrar no Canada, e todas as pessoas que conheci são muito afáveis e amáveis. O problema é o tempo, que é demasiado quente para quem adora o Inverno. Eu acho que o Queer Lisboa está muito bem programado. Os programadores parecem gostar de correr riscos e de exibir projetos mais desafiantes que representem uma ampla variedade dos aspetos da comunidade queer. Eu fiquei honrado por fazer parte deste festival, e para além de ter visto muitos projetos interessantes, também me diverti imenso. É claro que planeio voltar a Lisboa.

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