Em 1954, estreou no Japão o lendário "Godzilla", um dos mais famosos e icónicos filmes de ficção científica de monstros. Realizado por Ishirō Honda, "Godzilla" apresentou ao mundo a força cruel e destruidora de Godzilla ou Gojira, um monstruoso lagarto radioativo que simboliza as consequências dos exageros nucleares da Humanidade, nomeadamente as Bombas Nucleares e os desastres de Hiroshima e Nagasaki. Este produto conquistou rapidamente a atenção do grande público nipónico, mas a sua popularidade alastrou-se rapidamente para o resto do mundo, e ainda hoje é considerado pela indústria cinematográfica como um dos principais filmes de culto deste género específico, que a partir de 1954 explodiu no Japão e também em Hollywood, tendo dado origem a outras obras igualmente icónicas, como "Rodan" (1956) e "Mothra" (1961), que também foram criadas por Honda em parceria com a lendária companhia de produção nipónica Toho Company.
O filme original "Godzilla" também deu origem a um já sexagenário franchise dedicado a este monstro, que engloba trinta e dois filmes, vinte e oito dos quais de origem japonesa e produzidos pela Toho Company. É curioso realçar que, entre os produtos japoneses, Godzilla só aparece sozinho no filme original, já que nas outras vinte e sete entregas aparece acompanhado por outros monstros gigantes, como Rodan, Mothra, King Kong, Polvo Gigante ou Hedorah. Este facto não deixa de ser curioso, já que representa uma importante divergência criativa entre a visão oriental e a visão ocidental do franchise, já que enquanto Godzilla é visto no Japão como uma parte central de um universo de fantasia onde os grandes monstros são comuns e estão sempre em combate, nos Estados Unidos já é encarado como uma singularidade única resultante de um acidente trágico. É certo que em ambas as visões existe uma aposta na vertente de ação e destruição, mas no caso da visão oriental parece haver uma maior proeminência para evidenciar uma visão mais explosiva, fantasiosa e apoteótica da trama graças ao desenvolvimento de uma espécie de battle royal monstruosa onde a Humanidade é atirada para um segundo plano, ao passo que na visão ocidental apenas existe um grande monstro, sendo a Humanidade a grande responsável por criar mas também por evitar que o abominável Godzilla destrua o mundo. É também curioso realçar que nos filmes japoneses, Godzilla nem sempre é um vilão, porque também vestiu por diversas vezes a pele de herói salvador da pátria, algo que não acontece nas versões americanas, onde este lagarto gigante é sempre retratado como um vilão solitário sem nenhum poder particular, contrariando assim também as versões japonesas, onde Godzilla tem vários poderes especiais, como a habilidade de voar ou lançar jatos ou sopros atómicos. Será que esta quarta versão americana é diferente?
E chegamos portanto agora a 2014, o ano da esperada comemoração do sexagenário da saga "Godzilla". E para comemorar este aniversário especial, a Warner Bros. lançou uma nova entrega americana de "Godzilla", que serve como reboot do filme de 1998 realizado por Roland Emmerich, que na altura foi um enorme fracasso comercial. Esta nova entrega realizada por Gareth Edwards parece ser, de longe, o projeto americano mais sério e interessante desta saga, tendo já conseguido conquistar a crítica americana com a sua brilhante componente visual, que é também apoiada por um guião aparentemente combativo que, apesar de conter vários estereótipos, foge de certa forma ao espectro de superficialidade que se esperava. Protagonizado por Aaron Taylor-Johnson, Ken Watanabe, Elizabeth Olsen, Juliette Binoche, Sally Hawkins, David Strathairn e Bryan Cranston, "Godzilla" estreia hoje, 15 de Maio, em Portugal e promete ser um cativante produto para quem aprecie filmes de monstros com muita ação explosiva à mistura, sendo também uma homenagem decente à imagem de Godzilla que, como já referi, comemora este ano sessenta anos de existência cinematográfica, algo que se nota, porque nesta nova entrega aparece mais gordinho que em filmes anteriores. E o público, o que espera desta nova entrega? Será que terá mais sucesso que os seus antecessores?
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