Realizado por Richard Ayoade
Com Jesse Eisenberg, Mia Wasikowska, Wallace Shawn
Género - Comédia
Sinopse - Simon é um homem tímido, à beira uma existência isolada num mundo indiferente. Ele é negligenciado no trabalho, desprezado pela sua própria mãe e completamente ignorado pela mulher dos seus sonhos. Ele sente-se impotente para mudar a sua vida. A chegada de um novo colega de trabalho, James, perturba-o. Fisicamente, James é um duplo de Simon, no entanto em termos de personalidade é exatamente o oposto de Simon, confiante, carismático e lida bem com as mulheres. Infelizmente para Simon, James começa lentamente a assumir a sua vida.
Crítica - Há algumas vozes que apontam algumas parecenças entre "The "Double" e "Brazil" (1985), mas o que importa realçar antes de mais é que, apesar das suas valências e relativas similaridades, "The Double" não é nenhum "Brazil", já que o segundo é, sem qualquer contestação, um valoroso clássico muito peculiar, ao passo que o primeiro é apenas um bom esforço cinematográfico no género da extravagância por parte do criativo cineasta e humorista Richard Ayoade, que regressa assim à mó de cima após ter surpreendido a 7ª Arte com a fantástica comédia indie "Submarine" em 2011. É certo que ambos transportam o espetador para uma intriga algo perturbante mas desafiante de um ponto de vista criativo, psicológico e intelectual, mas é preciso recordar que a obra de Terry Gilliam vai um passo mais além no que toca à subjectividade, à fantasia e à extravagância. No fundo, "Brazil" é uma deliciosa longa metragem cheia de excessos e com um guião deliciosamente complexo e moralmente quebrado que confunde mas atrai o público que esteja preparado para aguentar um filme da sua constrangedora dimensão artística, já "The Double" é uma aposta um pouco mais comercial, mas também competente à sua maneira, que embora seja inteligente, apanha por vezes um certo espírito de pretensiosismo que acaba por minar os seus objetivos morais e inteletuais, destruindo assim o seu potencial para tornar-se num dos grandes filmes cerebrais deste ano.
Há que salientar, antes de mais, que "The Double" tem alguns pontos cativantes bem surpreendentes, como a presença de uma singular vertente técnica, que foi bem orquestrada e pensada por Ayoade, que lhe incutiu uma impressionante e pormenorizada aura visual que ajuda a acentuar o seu carisma peculiar e hipster, algo que, em abono da verdade, nem sempre funciona a seu favor. O problema é que esta classe visual, por muito categórica e competente que seja, não apaga o sentimento de confusão que reina durante o aprofundar do seu guião. É verdade que esta adaptação do homónimo conto de Fyodor Dostoyevsk não é de todo um filme generalista que seja assim tão simples de assimilar, algo que até joga a seu favor, mas pelo meio sente-se que falta ali alguma coisa. Não nego que, apesar de ser complicada de compreender, a sua intriga tem uma montagem curiosa que reforça as característica surreais e cómicas deste projeto, mas pelo meio de alguns diálogos bem competentes que estão presos a várias sequências estranhas, fica no ar o sentimento que faltou alguma espécie de ligação aos vários parâmetros da história. O seu look até pode ser singular e a sua trama até pode ter um apelo intelectual muito próprio, mas há algo neste thriller cómico e satírico sobre o existencialismo e o absurdismo que, a certa altura, parece não funcionar. O problema se calhar é a oscilação entre o humor e o drama, porque admito que por vezes o filme irrita bastante com a espécie de gozo que dá ao espetador através de uma intriga feita para pensar mas que, no fundo, tem aquele ar leviano repleto de humor que atira um pouco abaixo a sua vertente psicológica.
O certo é que, no final, podemos até compreender o ponto de vista que nos é apresentado, mas ficamos, por ventura, um pouco desiludidos por tais conclusões não terem sido exploradas com um pouco mais de seriedade. Eu compreendo a lógica que se esconde por detrás da espécie de mistura que é feita entre a comédia e o thriller, mas não posso dizer que o seu ambiente tenha beneficiado gradualmente com tal aspeto, muito pelo contrário, acho que a leviandade que é conferida pelo seu lado cómico contribui em grande parte para a falta de garra e surpresa de uma obra que, embora seja curiosa, poderia ter dado algo mais. Dito isto, "The Double" mantém-se para mim como um filme razoável, um pouco partido e exagerado de mais, mas ainda assim um bom projeto que, convém dizê-lo, é interpretado com valor por duas jovens promessas de Hollywood: Jesse Eisenberg e Mia Wasikowska.
Há que salientar, antes de mais, que "The Double" tem alguns pontos cativantes bem surpreendentes, como a presença de uma singular vertente técnica, que foi bem orquestrada e pensada por Ayoade, que lhe incutiu uma impressionante e pormenorizada aura visual que ajuda a acentuar o seu carisma peculiar e hipster, algo que, em abono da verdade, nem sempre funciona a seu favor. O problema é que esta classe visual, por muito categórica e competente que seja, não apaga o sentimento de confusão que reina durante o aprofundar do seu guião. É verdade que esta adaptação do homónimo conto de Fyodor Dostoyevsk não é de todo um filme generalista que seja assim tão simples de assimilar, algo que até joga a seu favor, mas pelo meio sente-se que falta ali alguma coisa. Não nego que, apesar de ser complicada de compreender, a sua intriga tem uma montagem curiosa que reforça as característica surreais e cómicas deste projeto, mas pelo meio de alguns diálogos bem competentes que estão presos a várias sequências estranhas, fica no ar o sentimento que faltou alguma espécie de ligação aos vários parâmetros da história. O seu look até pode ser singular e a sua trama até pode ter um apelo intelectual muito próprio, mas há algo neste thriller cómico e satírico sobre o existencialismo e o absurdismo que, a certa altura, parece não funcionar. O problema se calhar é a oscilação entre o humor e o drama, porque admito que por vezes o filme irrita bastante com a espécie de gozo que dá ao espetador através de uma intriga feita para pensar mas que, no fundo, tem aquele ar leviano repleto de humor que atira um pouco abaixo a sua vertente psicológica.
O certo é que, no final, podemos até compreender o ponto de vista que nos é apresentado, mas ficamos, por ventura, um pouco desiludidos por tais conclusões não terem sido exploradas com um pouco mais de seriedade. Eu compreendo a lógica que se esconde por detrás da espécie de mistura que é feita entre a comédia e o thriller, mas não posso dizer que o seu ambiente tenha beneficiado gradualmente com tal aspeto, muito pelo contrário, acho que a leviandade que é conferida pelo seu lado cómico contribui em grande parte para a falta de garra e surpresa de uma obra que, embora seja curiosa, poderia ter dado algo mais. Dito isto, "The Double" mantém-se para mim como um filme razoável, um pouco partido e exagerado de mais, mas ainda assim um bom projeto que, convém dizê-lo, é interpretado com valor por duas jovens promessas de Hollywood: Jesse Eisenberg e Mia Wasikowska.
Classificação - 3 Estrelas em 5
1 Comentários
Acabei de assistir o filme e devo dizer que no âmbito profundidade ele é bem amplo podendo gerar inúmeras interpretações. Não d e um.profundidade tanta quanto laranja mecânica, que depende muito da visão que cada ser que assiste possui, porém é un filme inteligente e compreensível dentro do nivel sensocomun da coisa. Concordo que em alguns momentos fica uma esfera vaga, não sei se pela atuação do ator principal ou por mais riqueza de detalhes em certas ocasiões do filme, não consegui distinguir de quem era a culpa pela não exatidão do tema abordado na cena em questão. Porém devo admitir que quando vamos ler um livro de Dostoiévski existe um ar que o filme.consegui captar e isso, convenhamos, é magnífico de se ver.
ResponderEliminarLogo, pra mim the double não é de todo o tempo perdido. ��