Crítica - Maps To The Stars (2014)

Realizado por David Cronenberg 
Com Julianne Moore, Robert Pattinson, John Cusack

A primeira coisa que posso dizer sobre "Maps To The Stars" é que é um filme que se enquadra perfeitamente na imagem cinematográfica de David Cronenberg. É um projeto estranho, que chega mesmo a roçar o bizarro e o excêntrico, mas que por isso mesmo leva-nos numa viagem sinuosa por estranhos laços familiares tresloucados que, pelo meio, brinda-nos com uma vista privilegiadamente louca sobre o mundo supérfluo e tortuoso das celebridades egoístas. Esta é a premissa simplificada do guião escrito por Bruce Wagner, guião esse que demorou aproximadamente seis anos a ser transposto para o grande ecrã, algo que se compreende atendendo à excentricidade desta obra que, como se pode calcular, teve grandes problemas em atrair financiamento externo porque, como o próprio Cronenberg admitiu, sempre foi considerado uma aposta de risco. É precisamente isso que "Maps To The Stars" representa para o público, ou seja, uma aposta de risco para qualquer espectador que não esteja familiarizado com projetos ditos diferentes e repletos de particularidades excêntricas que, tanto podem entusiasmar e prender o espectador até final, como podem afastá-lo logo desde o início sem qualquer hipótese de redenção. É por isso difícil ficar indiferente a este filme e a tudo o que nos oferece, mas ainda assim é provável que “Maps to The Stars” seja o projeto mais ameno que Cronenberg lançou nos últimos tempos.


Já se sabe que Cronenberg gosta de correr grandes riscos com os seus projetos e, apesar de "Maps to The Stars" não ser, nem de longe nem de perto, tão estranho e difícil de compreender como "Cosmopolis" (2012), ou tão arriscado como outros projetos mais consagrados como “The Fly” (1986), a verdade é que é, à sua maneira, um drama satírico e familiar bem complicado de absorver na sua plenitude moral e narrativa. Na sua génese está uma trágica história familiar que, apesar de ser digna de qualquer telenovela mexicana mais respigada, é explorada com um certo primor sinistro que lhe confere uma psicótica atração digna de registo. Esta importante característica impede “Maps to The Stars” de decair para um melodrama banal sem apelo, porque podem acreditar que, apesar da sua trama parecer simples à primeira vista, nem sempre é fácil compreender onde é que por vezes quer chegar com as suas insinuações psicológicas e psicóticas que aparecem sempre rodeadas por um imponente clima de tensão, loucura e mentira. É claro que, pelo meio, torna-se percetível que Cronenberg e Wagner quiserem criar um quadro pleno de drama familiar que consiga reforçar os extremos da loucura e da excentricidade por via de acasos do destino e da vida, utilizando para esse efeito um cenário propício a este clima, ou seja, o mundo glamoroso e por vezes exagerado de Hollywood. Assim, Mia Wasikowska, John Cusack, Olivia Williams e Evan Bird interpretam, os dois primeiros com mais potencialidade dramática que os dois últimos, quatro estranhas personagens com as suas próprias particularidades que vivem, sempre de forma subtil mas com implicações bem diretas e violentas na sua personalidade, um intenso e incerto drama familiar que explora, tenuemente mas convictamente, os limites da razão e da consciência no seio de uma intriga cujo final é sempre difícil de calcular. 
Pelo meio desta intriga familiar sempre tumultuosa existe uma espetacular subtrama que tem como protagonista Havana Segrand, uma excêntrica e envelhecida atriz que é maravilhosamente interpretada por Julianne Moore. Embora Moore e a sua Segrand não façam parte da trama central, são ainda assim peças instrumentais no potencial deste projeto. A performance de Moore é simplesmente fantástica e confere uma gigante dimensão lunática a uma personagem também ela espetacular. No fundo, Segrand aparece em "Maps to The Stars" para dar um rosto à loucura de Hollywood, mas também para ser uma estranha perspetiva comparativa de loucura em relação aos quatro protagonistas e aos seus respetivos dilemas, porque Segrand também desenvolveu uma loucura especialmente maníaca graças à estranha relação familiar que teve com a sua mãe que, ocasionalmente, aparece em cena de uma forma fantasmagórica para a assombrar. É assim que esta personagem cria uma ligação psicológica com os problemas familiares dos quatro protagonistas, porque também ela enfrenta grandes doses de instabilidade mental e emocional devido ao seu passado familiar e, como consequência, também tem que enfrentar visões do seu grande medo, tal como as jovens personagens de Bird e Wasikowska. É certo que, em separado, a história particular desta personagem secundária até não é assim tão empolgante e apresenta certas lacunas importantes, mas a sua peculiaridade é mais que suficiente para puxar por nós e para nos fazer gostar dela, aliás importa referir que cabem a Segrand as sequências mais polémicas e extravagantes deste filme, todas elas interpretadas com uma perfeição notável por Julianne Moore, que claramente pertence a uma gigante dimensão de talento sem  grande rival.

   

A magnífica performance de Julianne Moore aliada a peculiaridade da sua excêntrica Havana Segrand são, para mim, as únicas coisas que me fariam rever este novo esforço de David Cronenberg, porque ambas representam a sua primordial tour de force dramática e o seu principal atrativo. É certo que a sua intriga tem valor, apesar de ser por vezes confusa e incomportavelmente lenta, mas está longe de ser um esforço narrativo perfeito, quer seja de um ponto de vista dramático, satírico, familiar ou artístico, sendo apenas um bom exercício mental que poderá ou não resultar junto de cada espectador, mas prepare-se para não ficar deslumbrado ou emocionalmente demolido por uma história interessante mas nada extraordinária.

Classificação - 3 Estrelas em 5

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