Crítica – Hungry Hearts (2014)

Realizado por Saverio Costanzo
Com Alba Rohrwacher, Adam Driver, Roberta Maxwell 
Hungry Hearts apresenta-nos um casal que se conhece por mero acaso num W. C. nova-iorquino e que acaba por se envolver ao ponto de casar e ter um filho. Nada de extraordinário até aqui não fosse o facto de Saverio Costanzo (La solitudine dei numeri primi, 2010) desenvolver o argumento em torno da capacidade de sobrevivência do indivíduo num mundo que não conseguimos compreender. Alba Rohrwacher dá corpo a Mina, o elemento feminino do par. Mina é uma mulher esclarecida que acredita numa vivência mais próxima da verdadeira natureza humana, tão alienada pela cultura consumista em que estamos submersos. Por seu turno, o marido, interpretado por Adam Driver, não abdicando nunca do amor que os une, é um pai mais complacente com as normas sociais. Estas diferentes visões do mundo chocam a ponto de gerar uma sucessão de acontecimentos irreversíveis.



A grande questão que se coloca é a de que modo uma postura de sobrevivência que não se encaixa com a lógica dominante é, por si só, um sinal de insanidade mental ou um acto de grande bravura. Poderá um único soldado marchar correctamente dentro de um exército enganado? Não será a insanidade mental ainda uma arma fácil contra tudo o que pode, de uma forma ou de outra, subverter a ordem dominante? Que educação devemos dar aos nossos filhos para não serem alienados? Não seremos nós manipulados a todos os níveis pelas grandes corporações nas mais elementares dimensões da nossa vida como, por exemplo, a dos alimentos que ingerimos?
A imensidade de perguntas que a obra levanta e para as quais não dá resposta é a grande riqueza do filme magnificamente interpretado pelos dois actores principais, o que lhes valeu os galardões de melhores actores na última edição do Festival de Veneza. Enquanto espectadores somos incapazes de tomar posição perante o conflito que se desenrola, mais do que isso, somos levados a questionar a nossa própria lucidez e as opções que diariamente fazemos ou somos conduzidos a fazer.
Todas estas questões filosóficas são envolvidas pelo ambiente de thriller psicológico que se adensa progressivamente até um surpreendente final. Os cenários são tão belos como claustrofóbicos (assim é também a mente de Mina). Como pano de fundo ouvimos uma jovial banda sonora de Nicola Piovani criando uma tensão perante entre o que consideramos normal e o que é certo e, em última análise, entre o indivíduo e a sociedade.


Classificação - 4,5 Estrelas em 5

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