Crítica - Irrational Man (2015)

Realizado por Woody Allen
Com Joaquin Phoenix, Emma Stone, Parker Posey

Há muito espaço de manobra para criticar e discutir o passado e as opções privadas de Woody Allen, mas como dedicado profissional da sétima arte há que admirar este quase octogenário cineasta pela sua quase única capacidade para realizar e lançar, desde 1980, um filme por ano. Dito isto, Woody Allen está algo longe de ser um realizador com um percurso consensual, já que as suas obras, por vezes muito parecidas entre si mas ainda assim competentemente criadas, tanto denotam a capacidade para convencer como para aborrecer um público que, verdade seja dita, ou adora ou é indiferente às suas obras. Nos últimos anos, Allen surpreendeu com o diferente "Match Point" (2005) e com os curiosos "Vicky Cristina Barcelona" (2008), "Midnight in Paris" (2011) e "Blue Jasmin" (2013), mas tais exemplos de qualidade estão entre os poucos destaques de qualidade da filmografia que Allen nos apresentou nos últimos vinte anos, já que grande parte das suas obras neste período de tempo ficam um pouco aquém da qualidade e sagacidade apresentadas pelo cineasta nos seus Anos Dourados em Hollywood. 
É certo que este seu novo projeto, "Irrational Man", enquadra-se no seu estilo muito próprio de filmar e criar cinema mas não segue o pensamento criativo das suas três últimas principais obras de qualidade já supracitadas, isto porque é composto por um enredo simples e opaco sem qualquer sentimento de magia ou sagacidade cómica, sim porque é dado muito pouco espaço de antena ao humor ou à sátira e o pouco humor que nos aparece pelo meio só pode ser classificado como pedestre e sem o potencial intelectual ou diferencial esperado. A maior falha e causa central do medianismo de Irrational Man" reside, no entanto, na crassa ausência de um protagonista memorável e icónico que se destaque pela sua diferença e que possa, assim, jogar com os seus atributos para cativar o público e ajudar a elevar a história, como aconteceu por exemplo com a maravilhosa Jasmine (Cate Blanchet) em "Blue Jasmine". É porque nem num plano mais secundário e auxiliar somos presentados com uma personagem que escape à banalidade ou ao tédio e possa assim transmitir uma certa vivacidade a uma trama já de si banal e cansativa, ou seja, para além de não ter aquele protagonista memorável e carismático que poderia fazer por si só um filme com potencial, "Irrational Man" também não tem, nem de perto nem de longe, uma personagem secundária de valor, como por exemplo a louca e vivaz Maria Elena (Penélope Cruz) de "Vicky Cristina Barcelona" que, recorde-se, conseguiu roubar todas as cenas às protagonistas e conferiu a essa obra um nível de entretenimento irrepreensível. 


Tal como os semelhantes "Magic in the Moonlight" (2014) ou "Whatever Works" (2009), "Irrational Man" é banal e não se destaca. É inexplicavelmente pedante e completamente oco no que toca a uma real complexidade humana ou existencial, um pouco como os devaneios de filosofia barata que por vezes são verbalizados por Abe Lucas, um protagonista com um excelente potencial melancólico e destrutivo que, pese embora os valentes esforços de um competente Joaquim Phoenix, nunca consegue materializar tal potencial num resultado digno de registo, muito por culpa lá está de um argumento mediano que nunca explora todo o seu potencial e falha redondamente na hora de puxar pelos atributos que tinha à sua disposição para dar vida, cor e humor a uma jornada existencial ligeiramente banal com pitadas de romance incauto pelo meio que, no final, origina um resultado ameno e banal sem o toque de excentricidade que poderia ter. 
Embora não seja tão negro ou extravagante como poderia ser, nem tão complexo ou intrigante como a sua sinopse parece indicar, "Irrational Man" tem aquele toque clássico de Woody Allen e isso confere-lhe um fulgor muito próprio e digno, nem que seja pela forma cuidada como foi filmado. Está claro que não se irá aproximar dos Óscares, mas para os apreciadores e seguidores deste icónico cineasta valerá sempre a pena apostar numa visualização porque, mesmo não sendo um dos seus melhores filmes, consegue ter aquela aura de típico filme de Woody Allen e, apesar de não ser lá muito divertido ou diferente, é um daqueles filmes que se vêem bem por não ocuparem muito espaço na mente ou tempo na agenda.

  Classificação - 2,5 Estrelas em 5

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