Com Tao Zhao, Yi Zhang, Jing Dong Liang
A Primeira Festa do Cinema Chinês, a decorrer na Cinemateca Portuguesa e no Cinema Ideal em Lisboa entre 10 e 30 de Setembro, divide-se em duas linhas temáticas distintas. Por um lado, o primeiro destes espaços apresentará emblemáticas obras do cinema chinês do século XX enquanto, por outro lado, no Cinema Ideal poderemos assistir a uma mostra significativa de cinema contemporâneo originário deste imenso país.
Esta segunda tendência contou com a exibição do mais recente filme de Zhangke Jia, Se as montanhas se afastam (2015). Análise profunda do deslumbramento capitalista e tecnológico que assola a China dos últimos anos, a obra contrapõe ao longo de 25 anos os valores tradicionais à voragem do dinheiro através do percurso de uma jovem, Tao (onda) que ao optar pelo pretendente que melhores condições de vida lhe podia proporcionar acaba por entrar numa rota crescente de solidão que atinge não só a ela como também o seu filho, ironicamente chamado Dollar.
A entrada da China no regime capitalista e o sonho de progresso económico a ele inerente opõe de forma chocante as tradições milenares chinesas a uma cultura global materialista que, em última análise, aliena o indivíduo num mundo recheado de objectos mas não de identidade.
Da paleta vibrante da juventude de Tao, onde imperam os ritmos ocidentais por oposição ao pop cantonês, a obra evolui para um esbatimento cromático análogo ao esbatimento emocional que transforma os protagonistas em zombies vencidos pela vida num espaço imenso onde não conseguem reencontrar o seu lugar.
Se esta é uma obra profundamente chinesa, pela análise aguda do mundo contemporâneo e a projecção para o futuro de uma alienação colectiva obriga-nos a nela reconhecer características universais que nos levam a reflectir sobre as nossas próprias escolhas, suas consequências, e sobre os valores que a elas presidem.
Classificação - 4 Estrelas em 5
){kind=link}
0 Comentários