Crítica - Spectre (2015)

Realizado por Sam Mendes
Com Monica Bellucci, Ralph Fiennes, Daniel Craig, Ben Whishaw

Se tivesse que limitar a minha descrição de "Spectre" a apenas uma simples frase diria que se trata de um filme que regressa às origens da saga, mas que o faz sem qualquer recorrer à diferença ou à criatividade. Na sequência de um competente "Skyfall" (2013) que primou pela surpresa e por um estilo mais pessoal, "Spectre" aparece-nos como um produto mais comercial que puxa mais pela ação desmedida e que, assim, parece recordar os primórdios do franchise. O problema que salta à vista é que não o faz da forma esperada ou mais competente, ou seja, quase todos esperavam que esta nova entrega fosse direcionada  um pouco mais para a ação pura, mas poucos esperariam que o fizesse de uma forma tão simplória e quase desprovida de elementos que primassem pela diferença. No fundo pode-se dizer que "Spectre" não desilude por ser demasiado simples, mas sim  por ser mais típico do que se esperava, especialmente após um "Skyfall" tão surpreendentemente positivo.


Tal como já referi, "Spectre" aposta mais na ação que o seu nobre antecessor. É desta forma um puro blockbuster de ação que parece recuperar a fórmula base que foi edificada pela maior parte dos seus antepassados cinematográficos. Neste sentido acompanhamos novamente uma complexa missão de James Bond que, desta vez, aparece um pouco  distante ao seu coração e memória, aproximando-se mais de um simples trabalho digno de um espião de classe mundial, ou seja, um pouco como acontecia no passado. Esta missão, pautada pelas já habituais passagens pelos quatro cantos do mundo e pelos habituais clichés do popular franchise, denota uma aposta mais direta e clara na violência física, aproximando-se assim mais do estilo de "Quantum of Solace" (2008) do que de "Skyfall". Tal aposta fará as delícias dos fãs das sequências de ação desmioladas dos filmes "James Bond", mas deixará os outros um pouco desiludidos pela clara ausência de sentimento e criatividade que afetam uma trama mais simples e com menos suspense do que seria de esperar. 
A referência a "Quantum of Solace" não é um acaso. Este filme também desiludiu porque defraudou as expectativas do público ao seguir um caminho muito mais típico do que o seu muito superior antecessor "Casino Royal" (2006). O mesmo se aplica a esta produção que, apesar das elevadas expectativas que foram criadas, apresenta um conteúdo mais comercial e não tanto intelectual ou emocional que, francamente, precisava de se tornar na base nuclear de um franchise que já parece ter dado tudo o que poderia dar à sua simples fórmula de ação alucinante e irreal.


É por isso que se diz que "Spectre" aplicou um reboot à saga "James Bond" e ao próprio protagonista,  porque a verdade é que este filme devolveu James Bond à sua essência mais básica, libertando-o de todos os pesos emocionais que marcaram presença nas duas entregas mais profundas da saga: "Casino Royal" e "Skyfall". Tal reboot não é necessariamente positivo, pelo menos para mim o franchise precisava de evoluir e seguir o caminho positivo trilhado por essas duas obras, não revertendo assim para uma fórmula do passado já um pouco gasta. Esta mudança, no entanto, deixará muitos fãs satisfeitos, pelo menos aqueles que sempre apreciaram mais James Bond pela sua aptidão bélica do que pelas suas características emocionais.  
O James Bond que aparece portanto em "Spectre" regressa às origens, melhor dizendo, às suas complexas missões que visam, apenas e só, livrar o planeta de uma ameaça impertinente que mais ninguém parece ser capaz de travar. E esta sua nova missão até é cativante e não é aborrecida, mas de uma forma ou de outra, não é inovadora. Os traços bases das típicas missões de James Bond estão todas lá, mas os seus maiores problemas não se resumem à sua parca originalidade, mas sim  à sua previsibilidade e à completa ausência de surpresas. Não se nega que esta jornada de espionagem de James Bond empolga a espaços e apresenta certos toques de astucidade, mas nem as suas sequências de ação são espetaculares e surpreendentes, nem a jornada de ação propriamente dita consegue deixar qualquer um surpreso ou pregado ao ecrã, especialmente os fãs da saga que já estão mais que habituados á fórmula que está à sua frente. 
Sem o já mencionado ímpeto de humanidade e sentimento para elevar tal jornada e sem muitas sequências de ação de elevada qualidade para o tornar memorável, "Spectre" não é nenhuma maravilha. É um blockbuster que entretém, mas que no fundo não passa de mais um filme do franchise que não promove nenhuma diferença significativa à fórmula nem se destaca pela sua especialidade. É mais um produto que diverte mas que não será lembrado como um marco do franchise, sendo  pouco provável também que vá figurar na lista de melhores filmes "James Bond" elaborada por qualquer fã da saga, O que quero dizer é que é um filme razoável mas que não puxa ao seu visionamento, uma coisa que nunca se diria acerca, por exemplo, do seu brilhante antecessor. Sam Mendes despede-se assim de "James Bond" com um produto mediano e nada memorável, resta saber se um sempre razoável mas visivelmente saturado Daniel Craig também abandonará este barco numa nota menos positiva ou se, pelo contrário, vai optar por se redimir num próximo filme que se espera que seja mais memorável. Uma nota final mais positiva para certos elementos do elenco secundário de "Spectre", nomeadamente para Ben Wishaw que, quando aparece, entrega-nos uma performance sólida que rouba todas as atenções. No espectro oposto está um surpreendentemente apagado Christoph Waltz e a jovem francesa Léa Seydoux, que interpreta sem aquela emoção já característica da atriz uma bond girl inexplicavelmente fraca e insossa. 

Classificação - 2,5 Estrelas em 5

Enviar um comentário

0 Comentários

//]]>