Crítica - In The Heart of The Sea (2015)

Realizado por Ron Howard
Com Benjamin Walker, Chris Hemsworth

Seria de esperar que o filme que aborda a história verídica que inspirou Herman Melville a escrever o épico literário "Moby Dick" fosse tão épico como esse famoso livro. O potencial estava todo lá e, talvez por isso, as expectativas eram altas, mas "In The Heart of The Sea" não cumpre de todo o que se esperava e pedia desta mega produção É portanto um mau filme? Não. É apenas mais um filme pouco memorável entre tantos outros que, por culpa própria, não se destaca em praticamente nada. 
Não é portanto um épico que honra a sua base literária ou que irá perdurar no tempo, mas "In The Heart of The Sea" apresenta ainda assim um par de elementos de valor que evitam a sua banalizam e que até o tornam num produto razoável e apetecível para uma sessão mais relaxada de cinema. Estes elementos de valor têm como expoente os imponentes aspetos técnicos que abrilhantam as suas sequências de ação e sobrevivência, assim como os pormenores técnicos que enriquecem os seus cenários e outros detalhes. É bem verdade que estes parâmetros acrescentam-lhe uma dimensão muito positiva, sendo também verdade que o tornam apelativo e explosivo para o público. O problema é que estes elementos positivos resumem-se apenas a valores de natureza técnica, pelo que o resto desta mega produção acaba por não ter nenhum ponto que o faça brilhar ao mais alto nível. 


A sua trama, por exemplo, tinha muito potencial mas acaba por ficar muito aquém do que se esperava por culpa de erros crassos que a arrastam para o fundo de um oceano de boas intenções. Esta desenrola-se no Inverno de 1820 a bordo do Essex, um navio baleeiro de Nova Inglaterra. A meio da sua viagem, o Essex é atacado por uma baleia com um tamanho e determinação gigantescas e um sentido de vingança praticamente humano. Por força deste inesperado ataque, os tripulantes do Essex terão que enfrentar tempestades, fome, pânico e o desespero, enquanto o Capitão (Benjamin Walker) procura uma saída no mar imenso e o imediato Owen Chase (Chris Hemsworth) uma maneira de destruir a baleia gigante.
A este retrato, que em teoria apela ao poder da sobrevivência e da destreza humana, falta muita coisa, incluindo criatividade, coesão e intensidade. O facto de "In The Heart of The Sea" não ser tão acutilante ou intenso como deveria ser é um sinal de alerta. Isto leva-nos inevitavelmente a pensar no enorme potencial que os responsáveis por esta obra conseguiram desaproveitar, pese embora as ideias megalómanas que lhe tentaram incutir e que claramente não resultaram por culpa própria.  Para além das bases mal aproveitadas e das ideias mal explicadas, "In The Heart of The Sea" apresenta também uma preocupante divergência de poder e equilíbrio dentro do próprio filme. A sua intriga, apesar de humanamente surpreendente e empolgante, apresenta muitos momentos mortos que, quase nunca, promovem utilidade ou vitalidade. Estes pontos de simples exposição teriam a sua importância em outros moldes, mas em "In The Heart of The Sea" raramente são rentabilizados, não cumprindo assim sequer de forma convincente a sua simples tarefa expositiva. 
Até os momentos aparentemente mais atrativos desta produção, que assentam sobretudo nas poderosas sequências de sobrevivência e drama humano, pecam também na hora de surpreender e instigar o espectador. É certo que estes são apimentados por uma técnica visual impressionante, mas também é certo que acabam por não causar o máximo impacto que, em teoria, deveriam causar. Uns porque denotam uma implausibilidade ou um exagero claro para um projeto com um espírito mais sério, outros porque simplesmente não têm a garra necessária para conquistarem as merecidas atenções. É precisamente as gritantes ausências de garra humana e de suspense dramático que impedem a sobrevivência deste produto que, pese embora a sua base robusta, acaba por naufragar. O que se ressalva é que tal naufrágio acaba por ser atenuado por certos elementos de ordem técnica.

Classificação - 2,5 Estrelas em 5

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1 Comentários

  1. Deixe uma mensagem dessa história. Em suma, "In the heart of the sea" é um espetáculo visual muito interessante que recebe cenas específicas com força suficiente. Além disso, o filme também adiciona duas reflexões interessantes: em primeiro lugar, com Melville como eixo sobre o ato de escrever, sobre o medo de nossa própria incapacidade ea luta interna entre revelando e inventar, entre a transmissão da verdade e da captura da essência; ea segunda, sobre os interesses comerciais eternas e a tirania do dinheiro.

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