Crítica - La Marseillaise (1938)

Realizado por Jean Renoir
Com Pierre Renoir, Lise Delamare, Andrex e Edmond Ardisson 

"Aux armes, citivens,  Formez vos bataillons, Marchons, marchons! Qu’un sang impur. Abreuve nos sillons!

Um hino de coragem, um canto aos corações valentes dos soldados que iam no combate de fronteira, na região do Rio Reno. La Marseillaise foi entoada com orgulho durante a Revolução Francesa, como uma melodia de determinação e força contra os aristocratas. Todo este filme de Jean Reinor pode ser descrito pela poderosa letra da canção, os sentimentos desta encontram-se em cada parte desta obra de 1938. Tudo começa com uma revolta…não. Com uma revolução. Na zona rural de Provença, Junho de 1790, Jean Roux, um pobre camponês é apanhado a caçar um pombo numa zona proibida e é levado para o tribunal. Desprezando os fundamentos de Roux e do prefeito da aldeia, o juiz condena o camponês à forca. No entanto, este consegue fugir e esconde-se nas montanhas encontrando-se com três homens, Arnaud (Andrex), Bonnier (Edmond Ardisson ) e um padre. Quando têm conhecimento de que uma revolução está a efervescer, voltam todos para a cidade excepto Roux. Numa maneira simples e rápida, mas não apressada, começa a história do povo de Marseilles.
O filme pode facilmente ser dividido em oito cenas, maior parte delas decorridas em Marseilles, indo desde Versailles, 14 de Julho de 1789, até Paris, 10 de Agosto de 1792. Ao longo deste percurso bem marcado em termos de espaço, tempo e história, podemos observar os pontos de vista tanto dos revolucionários como dos aristocratas, os seus pensamentos e ideologias. 
Estendendo a abordagem coletiva do seu documentário "La Vie est à nous" (1936), Jean Renoir leva o disfarce da Revolução Francesa para retratar e discutir as preocupações do seu tempo. A França, como em muitos outros países europeus, começou a sentir os efeitos da crise em 1929. Nos anos seguintes, a estabilidade política foi afetada, ao mesmo tempo que as ideias fascistas e comunistas começavam a surgir entre a população. Foi então que, em 1936, o partido socialista, radical e comunista se associaram formando assim a Frente Popular. Dando como exemplo, no momento em que o prefeito de uma aldeia recusa-se a aceitar a condenação de um camponês faminto, podemos ver uma alusão à aliança entre as classes médias. Quando Renoir filma um confronto entre monarquistas e patriotas na Champs-Élysées, é evocar implicitamente a violência das ligas de extrema-direita.


Recheado de momentos marcantes e cómicos, La Marseillaise viaja numa linha carateristica do cinema de Renoir: o Realismo Poético francês. Com esta corrente as narrativas são focadas nas angústias presentes entre todas as classes sociais de França entre os anos 30 e 40, porém sem abrir mão do lirismo característico do cinema daquele país. Situações satíricas e irónicas nas entrelinhas do quotidiano davam volume aos roteiristas que na época pouco destacados eram. Seguimos o percurso de alguns grupos de personagens, destacando-se Bonnier e Arnaud, personagens retratadas com grande simpatia, arrojo e persistência positiva que ganham imediatamente o coração do espectador. 
Ainda no capítulo das personagens, seria impossível não mencionar os retratos caricatos que algumas personagens têm, especialmente de Luís XVI. A caricatura no cinema muitas vezes é usada numa maneira excessiva e quase infantil para obter uma melhor caraterização de uma certa personagem, no entanto, esta descrição simbólica é um dos pontos positivos do filme.
Este modo de elaborar as narrativas num sentido cómico e trágico no jogo das ilusões de teatro ao mesmo tempo é típico de Renoir, no entanto, a parte dramática encontra-se muito aquém das expectativas, não sendo uma obra que muitos levarão a sério. 
Seja referido aqui o cenário e o figurino que correspondem historicamente ao seu devido tempo, dois elementos que deslumbram o espectador, dando destaque ao pormenor da roupa dos aristocratas e da vaidosa Marie-Antoinette.  Errar erra pouco esta obra de Renoir, mas a parte trágica da narrativa definitivamente contribui para uma leveza um pouco excessiva. No entanto, com um argumento divertido e personagens carismáticas, o filme acerta em cheio em permanecer na memória das pessoas que o assistem. Vive la révolution!

Artigo Elaborado por Bellatrix Alves

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