Crítica - The Founder (2017)

Realizado por John Lee Hancock
Com Michael Keaton, Patrick Wilson, Nick Offerman

Não existe má publicidade. Será este o pensamento que a popular cadeia de restaurantes de fast food McDonald's terá relativamente a “The Founder”, a cinebiografia do primeiro CEO da empresa e que, de certa forma, ilustra as origens fortemente capitalistas deste império comercial. Trata-se da cinebiografia pouco elogiosa de Ray Kroc, um ambicioso empresário que começou por ser um simples caixeiro-viajante do interior dos Estados Unidos até que, em 1954, comprou um franchise do restaurante de hambúrgueres dos pouco ambiciosos irmãos Mac e Dick McDonald. O sucesso e as inovações introduzidas por Kroc permitiram-lhe adquirir a empresa aos irmãos McDonald, em 1961, por apenas 2,7 milhões de dólares e transformá-la na maior cadeia de restaurantes do mundo. 
Escusado será dizer que “The Founder” não traça uma imagem positiva ou agradável de Ray Kroc, pelo menos do ponto de vista moral. Neste capítulo, o primeiro CEO do império McDonald's é retratado como uma pessoa sem escrúpulos que apenas se interessa pela ambição e que está disposto a tudo para conquistar os seus objetivos. Esta sua pura ambição capitalista tornou-o, como é óbvio, num empresário de sucesso mas, consequentemente, numa pessoa moralmente desprezível. O filme dá aliás vários exemplos das suas atitudes revoltantes. Para além de ter tomado decisões desprezíveis na sua vida pessoal e de ter enganado vários investidores ao longo da sua carreira, Kroc acabou também por trair, de praticamente todas as formas possíveis, os verdadeiros fundadores da McDonald's. É neste capítulo que “The Founder” mancha um pouco a imagem pública da McDonald's, já que nos é demonstrado que por detrás do rápido crescimento deste enorme império esteve uma panóplia de negócios obscuros, atitudes desleais e comportamentos imorais. Esta ilustração negativa abala, mesmo que seja de uma forma inconsciente, a perceção pública da companhia, pese embora o responsável por tais atitudes já ter falecido há mais de 30 anos. A grande questão negativa é que se percebe, no final de contas, que a McDonald's foi edificada sobre mentiras, enganos e erros de um empresário sem escrúpulos que se aproveitou de tudo e de todos à sua volta para cumprir as suas ambições egoístas.


A contrariar as péssimas atitudes de Kroc estão as nobres atitudes dos irmãos McDonald, os verdadeiros criadores da McDonald's. Estes dois irmãos são um exemplo de moralidade, mas também de ignorância e ingenuidade. Embora as suas atitudes sempre corretas sejam de louvar, estas acabaram por custar-lhes o negócio que criaram e pelo qual tanto trabalharam. O filme faz aliás questão de reforçar, por intermédio de uma sequência magistral, as verdadeiras origens humildes da McDonald's e a forma como este projeto só chegou onde chegou graças aos Irmãos McDonald. O problema é que esta sua dedicação foi minada pela perseverança e pela ambição capitalista de Kroc e, pese embora as suas imorais atitudes, este é que acabou por triunfar e por deixar os verdadeiros criadores na miséria. No fundo, “The Founder” ilustra na perfeição o velho ditado que os bons rapazes acabam sempre atrás daqueles com mais vontade de triunfar.
Esta lição de moral invertida demonstra a crueldade do mundo dos negócios e a base do capitalismo. A história de Kroc e do Império McDonald's é, no fundo, o derradeiro exemplo de como os fins justificam os meios, mesmo que esses meios sejam os mais imorais possíveis. Também é a derradeira história de como a perseverança, quando aplicada num ótica sem escrúpulos, pode dar resultados verdadeiramente impressionantes. No fundo, “The Founder” exterioriza o que já se sabe há muito, ou seja, que para alguém triunfar no mundo dos negócios é quase sempre preciso quebrar as regras morais e eliminar qualquer obstáculo sem ficar com um peso na consciência. É no fundo um hino ao capitalismo mais puro e negativo. Afinal de contas não seria qualquer pessoa que poderia ter impulsionado a McDonald's, já que perante todos os entraves colocados pelos fundadores originais, tinha mesmo que ser um homem como Kroc a conseguir aquilo conseguiu. Se não fosse a sua persistência imoral, provavelmente não existiria hoje em dia um restaurante McDonald's em cada grande cidade mundial.
A McDonald's não seria, hoje em dia, nada sem Kroc, mas “The Founder” também seria muito menor sem Michael Keaton. A sua interpretação do impiedoso Kroc é absolutamente magistral e ajuda a transmitir a imagem dura e ambiciosa desta icónica personalidade. A sua performance ajuda, no fundo, a vender e a honrar esta cinebiografia que felizmente não se foca apenas nos pontos positivos e vai também buscar os podres de uma empresa e de uma personalidade. Esta naturalidade e honestidade transformam-no numa obra razoável e informativa que, no final de contas, expõe como é que os negócios de milhões chegam onde chegam.

Classificação - 3,5 Estrelas em 5

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