O filme espanhol sci-fi “ReAlive”, de Mateo Gil, foi o grande vencedor da Secção Oficial de Cinema Fantástico da 37ª Edição Fantasporto. Esta coprodução entre Espanha e França explora a história de um homem com uma doença incurável que congelou o seu corpo e é acordado sessenta anos mais tarde quando a Medicina já tem uma solução para o seu caso. Esta obra obteve também o galardão destinado ao Melhor Argumento. O Prémio Especial do Júri do Cinema Fantástico foi atribuído à co-produção franco-filipina “Saving Sally”, do filipino Avid Liongoren, onde a animação e a imagem real se entrecruzam numa comédia sobre a passagem à idade adulta em que são abordados com delicadeza assuntos muito sérios. O mesmo Júri decidiu distinguir também com uma Menção Especial o filme brasileiro “A Repartição do Tempo”, de Santiago Dellape, um conto da imaginação sobre viagens no tempo em registo satírico. Este filme venceu também o Prémio do Público O irlandês Liam Gavin obteve o Prémio Melhor Realizador pelo seu filme “A Dark Song”, que valeu também à protagonista Catherine Walker o Prémio Melhor Actriz. O Prémio Melhor Actor foi para a interpretação de Frederick Koehler, em “The Evil Within”, do norte-americano Andrew Getty. O filme britânico sci-fi “The Darkest Dawn”, de Drew Casson, obteve o prémio destinado aos Melhores Efeitos Visuais. O prémio para a melhor Curta-Metragem Fantástica foi para “Cenizo”, do espanhol Jon Mikel Caballero, sobre um jovem padre que é enviado para uma ilha remota para lutar contra forças sobrenaturais.
Na Semana dos Realizadores o grande prémio foi para “Pamilya Ordinaryo”, de Eduardo W. Roy Jr., sobre um casal de pais juvenis sem abrigo que vive do roubo nas ruas até que um dia são eles as vítimas, sendo-lhes roubado o seu bem mais precioso, o que os obriga a lutar contra os ricos e poderosos. Este filme ganhou também o prémio para Melhor Actriz, atribuído à protagonista Hasmine Kilip. O Prémio Especial do Júri nesta competição foi para o filme egípcio “Sins of the Flesh”, de Khaled el Agar, uma história trágica de opressão e morte tendo como pano de fundo da revolução de Janeiro de 2011 que levou à deposição de Hosni Mubarak e à ascensão e queda de Mohamed Morsi. A protagonista deste filme, Nahed El Sebaï, obteve o Prémio para Melhor Actriz, atribuído ex-aequo com Hasmine Kilip, protagonista do já mencionado filme filipino “Pamilya Ordinaryo”. O Prémio para o Melhor Actor foi conquistado pelo sul-coreano Park Ji-Il, pela sua interpretação em “The Net”, de Kim Ki Duk, cujo filme venceu o Prémio de Melhor Filme da Orient Express. O sul-coreano Kim Jee-Woon, venceu o prémio para Melhor Realizador por “The Age of Shadows”, um filme de intriga e acção passado nos meandros da resistência sul-coreana à ocupação japonesa durante a II Guerra Mundial que abriu aliás o FantasPorto. O prémio para o Melhor Argumento desta secção do Fantasporto foi para Iván Szabó e Roland Vranik, autores do guião do filme húngaro “The Citizen”, um dos grandes filmes do festival. A curta de João Lourenço, “Um Refúgio Azul”, foi o vencedor do Prémio Cinema Português do Fantasporto 2017. O Politécnico do Porto venceu o Concurso Entre Escolas realizado no âmbito do Prémio Cinema Português. A Menção Especial-Criatividade foi atribuída pelo júri ao filme “Schlboski” de Tomás Andrade e Sousa, aluno da ETIC – Escola de Tecnologias Inovação e Criação, de Lisboa.
Foi um FantasPorto repleto de exibições cinematográficas, umas com qualidade mas outras de filmes sem qualquer mérito. Embora se tenha notado a ausência de produções nipónicas, assim como de um cinema de maior qualidade oriundo dos Estados Unidos da América e do Norte da Europa, o FantasPorto trouxe ainda assim a Portugal várias obras interessantes, como os filmes sul-coreanos "The Age of Shadows", "The Wailing" e "The Net", provavelmente os três melhores filmes que passaram pelo FantasPorto nesta edição. O grande vencedor do festival, "ReAlive", embora tenha cumprido com valores de produção de qualidade, ficou um pouco aquem das expectativas do que se esperava do grande vencedor da Seleção de Cinema Fantástico. O prémio atribuído justifica-se de certa forma porque, entre a Competição Oficial do Cinema Fantástico, foi efetivamente das melhores produções indie apresentadas. É claro que passaram mais filmes medianos do que bons nesta edição do FantasPorto, mas numa seleção tão vasta é claro que tal iria sempre acontecer. O destaque positivo vai para as representações da Coreia do Sul, já o negativo vai para a fraca presença do Cinema Lusófono nesta edição, já que não houve nenhum filme falado em português minimamente entusiasmante nesta edição. E tal é surpreendente porque a TVGlobo esteve no FantasPorto como Parceira Oficial e, embora tenha trazido ao festival nomes sonantes como Glória Pezez ou Mariana Ximenes, não trouxe nenhum projeto de valor.
As presenças de Perez e Ximenes foram, aliás, o ponto alto do FantasPorto no que toca aos convidados. Estas duas fortes personalidades brasileiras espalharam simpatia pelo FantasPorto, tendo até sido atribuída à guionista Glória Perez um justíssimo Prémio de Carreira. Também ao simpático e experiente cineasta holandês Ate de Jong foi atribuído este ano um prémio semelhante. A presença da guionista foi aliás muito mais relevante e interessante que a da atriz Mariana Ximenes que, pese embora a sua enorme simpatia, acabou por acrescentar pouco ao FantasPorto, tendo apenas estado presente como Embaixadora da TVGlobo. Num capítulo pessoal, quer Ximenes, quer Perez demonstraram ser pessoas excelentes com muito para contar, quer à imprensa, quer ao público geral. Neste capítulo destaco Mariana Ximenes que, num momento de pura ternura, afastou-se um pouco do plano que o FantasPorto provavelmente tinha para ela e perdeu cerca de trinta minutos do seu tempo no meio do hall de entrada do Teatro Tivoli a privar com uma fã de dez ou onze anos visivelmente emocionada por estar a conhecer a estrela da Globo. O curioso é que, exceptuando a pequena jovem, a esmagadora das pessoas que passavam à sua volta e que até se cruzaram com ela não reconheceram a atriz e nem mesmo a imprensa nacional se mostrou muito preocupada em falar com ela. Talvez porque a mesma tem presença marcada para o FESTin em Lisboa, onde certamente será alvo de uma maior atenção, até porque estará a apresentar dois filmes protagonizados por si.
A estas duas convidadas juntaram-se muitos outros convidados em representação dos filmes apresentados no FantasPorto, tendo também eles espalhado a sua simpatia. A maior parte dos convidados centrou-se em jovens cineastas, produtores e criadores que deram a conhecer o seu trabalho, sendo que acredito que poucos deles conseguiram alguma tração mediática atendendo ao nível da maioria dos seus projetos. O que se ressalva, no entanto, é a aposta do FantasPorto na apresentação de talentos do cinema indie e, embora os filmes nem sempre tenham sido os melhores, o que é certo é que a Seleção Apresentada condiz com as pretensões do festival que, cada vez mais, aposta na exibição de um cinema independente e na aposta de jovens cineastas do que na exibição de projetos mais seguros e com maior aptidão comercial e mediática. Nada contra esta aposta, porque entre a Seleção encontramos por vezes algumas pérolas bem interessantes.
A estas duas convidadas juntaram-se muitos outros convidados em representação dos filmes apresentados no FantasPorto, tendo também eles espalhado a sua simpatia. A maior parte dos convidados centrou-se em jovens cineastas, produtores e criadores que deram a conhecer o seu trabalho, sendo que acredito que poucos deles conseguiram alguma tração mediática atendendo ao nível da maioria dos seus projetos. O que se ressalva, no entanto, é a aposta do FantasPorto na apresentação de talentos do cinema indie e, embora os filmes nem sempre tenham sido os melhores, o que é certo é que a Seleção Apresentada condiz com as pretensões do festival que, cada vez mais, aposta na exibição de um cinema independente e na aposta de jovens cineastas do que na exibição de projetos mais seguros e com maior aptidão comercial e mediática. Nada contra esta aposta, porque entre a Seleção encontramos por vezes algumas pérolas bem interessantes.
A Edição de 2018, embora já anunciada pela organização, ainda não está a 100‰ confirmada porque, como referido pela organização, a mesma vaio depender de apoios mais concretos da Cidade do Porto e do Estado. Seria uma pena que o FantasPorto, um dos festivais mais antigos de Portugal, fechasse as suas portas por falta de verbas, atendendo á sua clara importância para o Porto e para o Norte de Portugal. É certo que o festival já conheceu melhores dias na vertente mediática, mas continua a ser um festival muito forte que é, sem sombra de dúvidas, um dos mais importantes de Portugal e até da Península Ibérica. É difícil que o seu passado rico em convidados extravagantes e de competições mais coerentes venha a repetir-se no futuro, mas o FantasPorto ainda tem muito que dar ao Porto e a Portugal, daí que seja sempre um festival a manter dentro das perspetivas políticas. O Portal Cinema continuará a apoiá-lo por todas estas razões.
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