Crítica - Radioactive (2019)

Crítica - Radioactive (2019)


Realizado por Marjane Satrapi

Com Rosamund Pike, Sam Riley


Quando "Radioactive" foi anunciado lembro-me de pensar que poderíamos estar perante um possível candidato aos Óscares. Estamos, afinal de contas, a falar da cinebiografia da cientista Marie Sklodowska-Curie, uma das figuras mais importantes do Século XX, que, para além de ter despenhado um papel fundamental nos avanços da ciência, representa também a epítome do poder feminino e da luta pela igualdade de tratamento entre as mulheres e os homens. Ao lado do seu marido, Curie mudou o mundo ao contrariar ideias imutáveis e fez história ao tornar-se na única mulher até ao dia de hoje a ganhar o Prémio Nobel por duas vezes. A sua luta pela afirmação e pela evolução e descoberta científica acabou por ter um preço elevado para a sua vida, já que Curie acabou por falecer devido à sua investigação como consequência de um envenenamento  pela radioatividade, cujas propriedades ela própria descobriu e apresentou ao mundo.  Mas, alegadamente, Curie pagou de bom grado esse preço, já que no leito da morte não mostrou qualquer arrependimento por ter alcançado o que alcançou e, acima de tudo, por ter contribuído para o avançar da civilização. 

Tendo em conta a poderosa história  que está na sua base, "Radioactive" tinha tido para ser um estrondo. É porque para além de uma base biográfica de luxo tinha ainda a seu favor dois grandes pontos de interesse que pareciam alimentar as altas expectativas criadas em seu redor. É claro que um desses pontos assume a figura da cineasta Marjane Satrapi, cujo valor do seu trabalho é amplamente reconhecido e que com "Radioactive" tentou lançar-se num cinema mais comercial, isto após ter tido uma estreia bastante bizarra (mas à sua imagem) em Hollywood com "The Voices". Um terceiro ponto de destaque assentava em Rosamund Pike, uma atriz celebrada e de valor reconhecido a quem coube a difícil tarefa de interpretar Marie Curie. Ao analisarmos este triângulo de boas sensações e de inegável valor poderíamos pensar sem qualquer julgamento que estavam reunidos todos os ingredientes para um filme de luxo com potencial dourado, mas certo é que o resultado final ficou muito áquem das expectativas e, claramente, não veremos "Radioactive" entre os candidatos aos Óscares...

Nem todos os grandes ingredientes produzem grandes filmes e "Radioactive" é prova disso mesmo. Embora tenha uma boa história de base, uma realizadora de luxo e um elenco acima da média, "Radioactive" revela-se um drama biográfico bastante banal que não consegue fazer uma justa homenagem à ilustre Marie Curie ou às suas importantes descobertas. É importante dizer que estamos longe de estar perante um filme mau, mas não é de forma alguma tão grandioso, completo e aguerrido como poderia ser.

Marie Curie foi uma pioneira e uma força da natureza, mas "Radioactive" não é uma cinebiografia que faça jus a estas qualidades. Embora seja fatualmente correto e apresente a vida de Curie de uma forma competente, acaba por o fazer de uma forma demasiado tradicional e talvez demasiado presa a uma conceito seguro de cinebiografia. É até compreensível que se tenha jogado pelo seguro e que por isso não seja até algo que não recomendaria a quem queria saber mais sobre os factos da vida de Curie, mas a grande questão aqui é que "Radioactive" precisava de algo mais que a afastasse do conceito de telefilme. No fundo revela-se uma obra algo desprovida de emoção que se limita a relatar eventos e que os molda numa história de vida muito interessante mas que, no grande ecrã e neste caso concreto, perde muito do seu fulgor e do seu drama inerente. Esperava-se que uma cineasta tão extravagante e inegavelmente talentosa como Satrapi pudesse dar um toque de extravagância e impor uma certa diferente que rompesse com o standart, mas para surpresa pessoal, Satrapi jogou pelo seguro e acaba por ter aqui o seu trabalho mais banal e deslavado até à data e logo com um filme que poderia ter representado a sua proposta mais arrojada até hoje... A verdade é que Satrapi e Curie são ambas arrojadas e mulheres à frente dos seus respetivos tempos, mas esta cinebiografia não transmite isso em relação a nenhuma das duas.  


Classificação - 2,5 Estrelas em 5

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