Crítica - Antebellum (2020)

Realizado por Gerard Bush, Christopher Renz
Com Janelle Monáe, Eric Lange, Jena Malone

Em três atos, “Antebellum” conta a história de Veronica (interpretada pela surpreendente Janelle Monáe), uma autora de sucesso que, subitamente, se vê presa numa realidade inexplicável da qual tem de escapar antes que seja tarde demais. Esta é a sua premissa oficial e, para quem viu o filme, achará que se trata de um resumo algo enganoso. E compreendo, mas revelar mais do que esta informação (que admito é deturpada) é bastante perigoso, já que colocaria em causa o impacto e o próprio suspense promovido pela intriga. 
Embora seja um filme que se revela difícil de explorar, digerir e explicar sem revelar spoilers é, ainda assim, possível retirar algumas ilações. Em primeiro lugar, “Antebellum” não é de facto um filme de terror como se poderia pensar pelo seu trailer. Embora promova ao longo da sua trama um estilo misterioso que roça o fantástico, certo é que estamos perante um thriller que joga com o psicológico do espectador e que promove uma abordagem surpreendente de temas bastante sérios e reais.
Embora tenha começado a ser gravado bem antes do início do Movimento BLM, “Antebellum” revela-se um filme próximo às suas mensagens, assumindo-se como um produto bastante político e com uma poderosa componente racial, onde os ideais de Escravatura e Supremacia Branca são alvo de ataques cerrados (como devem ser). A dimensão política está, claro está, relacionada com uma crítica cerrada e direta ao “status quo” racial que existe nos Estados Unidos, um país que nunca recuperou dos efeitos divisórios provocados pela repressão racial e que ainda hoje ecoam no racismo sistémico que se observa na sociedade norte-americana. As “viagens” entre passado e presente que o enredo vai promovendo e que, assim, contrastam a Era da Escravatura com a Era Moderna ajudam a passar uma forte alegoria de repressão e desigualdade que iluminam na perfeição o caminho social e a dimensão moral que esta obra pretende transmitir. É claro que esta componente mais séria e dramática assenta numa trama repleta de simbolismos, ironias e conceitos mirabolantes que fomentam a aura de misticismo e simbolismo. E são estes elementos que de certa forma elevam e conferem a “Antebellum” aquele toque de extravagância que, lá está, o pode tornar confundível com uma obra de terror ou do cinema fantástico. 
O que há efetivamente de fantástico em “Antebellum” é a forma como constrói e desconstrói o suspense e como, num terceiro ato, promove um twist revelador que explica todo o filme e coloca-o em perspectiva. E aqui percebemos que, na realidade, a nuance de fantasia e sobrenatural que parece apresentar representa apenas e só um mecanismo para veicular uma mensagem, um ideal e um ataque. No seu espírito “Antebellum” pode até parecer um thriller, mas não há dúvidas que na sua essência se revela um drama político carregado de mensagens sociais. 

Classificação - 3 Estrelas em 5

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