Crítica - The Nest (2020)

Crítica - The Nest (2020)

Realizado por Sean Durkin

Com Jude Law, Carrie Coon


Seja bem vindo de volta Sean Durkin! Porque demorou tanto? Após um interregno (demasiado longo) de quase dez anos, Sean Durkin volta finalmente a apresentar no grande ecrã uma longa metragem da sua autoria e, por incrível que possa parecer, "The Nest" é apenas o seu segundo trabalho neste registo. O primeiro foi o saudoso drama "Martha Marcy May Marlene" que, em 2010, arrebatou a crítica e vários festivais de cinema, entre eles o Festival de Cannes, onde Durkin conquistou o Prix Regards Jeune.

É um regresso de certa forma inglório ao grande ecrã, não pela qualidade inegável de "The Nest", mas pelo momento em que nos chega. A pandemia impediu (e de que maneira) que este regresso de Durkin fosse triunfal a todos os níveis, porque Durkin e este seu novo trabalho mereciam uma maior apoteose, um maior respeito mediático e, acima de tudo, um maior destaque nas salas de cinema e nos festivais de cinema. Mas infelizmente as novas regras ditadas pela pandemia impediram-no de ser recebido nas salas da forma como deveria ter sido recebido, mas pelo menos ainda bem que lhe foi dada a possibilidade de efetivamente chegar às salas, já que outros não tiveram a mesma sorte. O filme merece e o seu realizador também. É certo que será no streaming que "The Nest" acabará por conquistar mais espectadores, mas o regresso de Durkin tinha que ser comemorado nos cinemas tradicionais e ainda bem que a sua estreia nas salas (embora fortemente limitada) pôde acontecer.

O que nos reserva então "The Nest"? Em "Martha Marcy May Marlene", Durkin deu bastante trabalho a um elenco poderosissímo encabeçado pela então jovem promessa Elizabeth Olsen, o elemento menos conhecido (à época) da Família Olsen e que aproveitou a oportunidade que lhe foi concedida para conquistar Hollywood. Pois bem, Durkin parece ter um talento nato para encontrar grandes talentos da representação feminina, já que em "The Nest" entrega também o protagonismo a Carrie Coon que, embora seja hoje mais conhecida do que Olson era em 2010, não deixa de ser uma figura ainda secundária em Hollywood. Mas acredito que isso mudará a partir de agora. 

Coon tem uma estrondosa performance na pele de Allison O'Hara, a esposa de Rory, um empresário carismático que se muda com a sua família para Inglaterra na esperança de lucrar com a Londres em expansão. Os planos de Rory acabam no entanto por ser desviados por Allison, uma dona de casa em desespero que sente dificuldades para se adaptar a Londres, levando assim o casal a ter de encarar as verdades indesejadas que residem sob a superfície do seu casamento. 

A contracenar com Coon surge o veterano Jude Law que finalmente regressa aos dramas mais sérios que lhe permitem mostrar as suas capacidades. Este duo de luxo interpreta na perfeição um casal em crise que, por sua vez, surge como o fio condutor de um intrigante drama familiar que pretende traçar um retrato social e económico da classe média do final dos anos oitenta, mas também uma metáfora da sociedade atual. Em cada cena que nos apresenta, Durkin promove um jogo de aparências que disfarça um jogo emocional interno que vai intensificando e, como se pode esperar, vai demolindo barreiras, sentimentos e realidades. 

É assim curioso e irónico reparar que a decadência da mansão decrépita (o tal Ninho do título) ao qual os protagonistas chamam casa seja, na realidade, uma metáfora perfeita para a sua relação e para as suas ambições sociais e económicas. Embora pretendentes a uma outra classe e a uma outra vida, os O'Hara, tal como a sua casa, são na realidade uma sombra da imagem que pretendem passar e só com profundas renovações podem esperar atingir os seus reais objetivos. Mas as renovações não são fáceis nem módicas, são sim um desafio e, de certa forma, um luxo. É a esta trágica conclusão que vamos chegando em relação ao futuro pouco luminoso dos protagonistas, mas o que Drukin realmente pretende transmitir é uma portentosa dinâmica social e familiar que pretende explorar a superficialidade do status e da ambição.

De certa forma, Durkin usa os Anos 80 sem internet ou redes sociais para tecer duras críticas e iluminadas metáforas à sociedade moderna que, cada vez mais, parece viver das aparências. E não falamos só da classe média, claro está....

Quem viu "Martha Marcy May Marlene" achará "The Nest" bem menos negro e bem mais preciso na sua mensagem. É certo que os dois promovem acessas críticas e metáforas sociais, mas neste seu novo projeto Durkin acabou por enveredar por uma abordagem com um lado mais requintado. É certo que também ressalva que as aparências enganam e que a natureza humana está podre, mas desta vez não usa um culto à margem da sociedade para transmitir tal ideia, mas sim um outro tipo de culto que já está enraizado na nossa sociedade....


Classificação - 4 Estrelas em 5

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