Análise a The Last Duel / O Último Duelo: Os Pontos Mais Curiosos Sobre o Mais Recente Filme de Ridley Scott

Análise a The Last Duel / O Último Duelo: Os Pontos Mais Curiosos Sobre o Mais Recente Filme de Ridley Scott


Estreou recentemente em Portugal o drama medieval "The Last Duel"/ "O Último  Duelo", o mais recente filme realizado por Ridley Scott. Após nos ter levado numa viagem até Marte num dos seus filmes mais recentes, Scott viaja agora no tempo para nos entregar este drama inspirado em factos reais que deriva do livro "The Last Duel: A True Story of Crime, Scandal, and Trial by Combat in Medieval France".

Tal como o título do livro homónimo sugere, "O Último Duelo" desenrola-se na França Medieval do Século XIV, mais concretamente ao reinado de Carlos VI que, curiosamente,  foi um dos reinados mais longos da monarquia francesa. Foi nesta época que ocorreu o último duelo judiciário de França, ou seja, foi nesta época que foi permitido, por decreto real, que uma pessoa pudesse resolver uma disputa legal com outrem por via de um desafio para duelo, sendo que o resultado desse duelo serviria como sentença legal. Um dos protagonistas deste marco histórico e o seu principal instigador foi o cavaleiro Jean de Carrouges que, com a aprovação do Rei Carlos VI, desafiou para um duelo até à morte Jacques Le Gris, um escudeiro que Carrouges considerava responsável por um crime de violação contra a sua esposa. 

Como o próprio filme explica, a história por detrás deste evento é bastante mais rica que esta breve sinopse e, embora alguns elementos tenham sido ficcionalizados e romantizados, certo é que a base dos eventos tem como apoio relatos históricos da época. Estes mostram como o sistema judiciário funcionava à época e, apesar de algumas bases do Direito e da Justiça já marcarem presença na sociedade da altura, certo é que  tudo se resumia ainda a privilégios de classes, à corrupção, aos jogos de poder e a questões de honra. Não é por isso de estranhar que este último duelo só tenha sido possível porque Carrouges, não aceitando uma decisão inicial que lhe era desfavorável, apelou junto ao Rei para reverter essa decisão e este, quase como na forma de um recurso, deu-lhe razão e deu aval a este duelo, cujo desfecho acabou por marcar um ponto de viragem na sociedade francesa e no seu sistema judiciário.

É bem verdade que os duelos em si não terminaram, mas estes nunca mais foram permitidos como forma de obter justiça. Os duelos continuaram a existir como um método para nobres em França resolverem questões muito específicas relacionadas com a sua honra (e não como forma de justiça). O último destes duelos a ser autorizado ocorreu em 1547, mais de duzentos anos após o confronto entre Carrouges  e Le Gris. Mas foi o duelo entre estas duas personalidades que ficou marcado na História Francesa e que deu origem a centenas de mitos e lendas. Hoje em dia, o confronto Carrouges-Le Gris ainda é visto como um exemplo prático de justiça medieval e de como esta assentava em demasia em elementos extra-jurídicos que não protegiam os direitos básicos de qualquer uma das partes. 

Scott, juntamente com a sua talentosa equipa, conseguiu recriar na perfeição o ambiente medieval da época, mas acima de tudo os eventos deste curioso caso que, para além de expor as imperfeições legais do sistema, demonstra o grande fosso que existia entre classes e entre sexos. Para além de contar com um belo argumento, "O Último Duelo" apresenta também elementos cénicos de elevada qualidade. 

Entre os cenários grandiosos encontramos alguns dos castelos mais majestosos e bem preservados de França, como o Château de Beynac, que foi usado como interior da propriedade Carrouges, incluindo o casamento de Jean de Carrouges e Marguerite. O local foi ainda usado para filmar cenas dentro e fora do castelo Fontaine-Les Sorel, a casa da família de Marguerite. Também o Château de Fénelon em Sainte-Mondane e o icónico Château Berzé-le-Châtel, uma fortaleza medieval construída em cima de uma capela com 1100 anos e que é hoje considerado um dos castelos mais bem preservados do país, foram usado nas filmagens. Já a cidade de Monpazier, uma das mais bonitas e rústicas vilas da França, foi usada para recriar a Paris do Século XIV 

Todos estes locais foram transportados até à Idade Média graças à visão e talento de uma equipa técnica liderada pelo diretor de fotografia Dariusz Wolski, o designer de produção Arthur Max e a figurinista Janty Yates, todos eles colaboradores veteranos de Scott. Este trio, juntamente com a restante equipa de produção, conseguiram abrilhantar este relato histórico e projetar, no grande ecrã, uma visão medieval de um tempo quase esquecido, mas que ainda consegue dar lições às novas gerações. Neste caso concreto a grande ilação a retirar é que a justiça nem sempre é justa se esta não for alcançada por meios justos, mesmo que esses meios sejam tecnicamente legais. 

Mas chegará "O Último Duelo" aos Óscares? Estamos de facto perante um bom filme de um enorme realizador. O seu enredo, como se percebe, faz jus à história da época, mas por vezes romantiza em demasia a época e os ideias que moldaram as motivações de Carrouges. Não é um claro candidato aos Óscares principais, mas não há dúvidas que temos já aqui um grande concorrente aos Óscares técnicos de Design de Produção e Guarda-Roupa. Como já abordado o trabalho de recriação de época levado a cabo por estes dois departamentos é sublime. 

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