Crítica - Tár (2022)

Tár

Realizado por Todd Field
Com Cate Blanchett,  Noémie Merlant, Nina Hoss

Cate Blanchett é uma força da natureza e prova-o uma vez mais com uma performance de luxo em "Tár", uma falsa cinebiografia da figura fictícia Lydia Tár, amplamente considerada pelos apreciadores de música como uma das maiores compositoras vivas e a primeira maestrina chefe de uma grande orquestra alemã. 
Para além de magistrais diálogos e da já mencionada performance de luxo de Blanchett, "Tár" destaca-se pelo olhar crítico e acutilante que lança sobre o abuso do poder e do estatuto profissional. São vários os filmes que promovem a discussão sobre o assédio sexual no local de trabalho (e fora dele) e sobre o status quo numa relação profissional entre alguém financeira ou mediaticamente mais influente que a outra. Por norma este retrato é promovido sob a perspectiva da vítima (por norma do sexo feminino) perante o abusador (por norma do sexo masculino), mas "Tar" dá-nos outra perspectiva. Desta vez é através dos olhos do abusador que assistimos ao desenrolar da trama, sendo também refrescante ver uma mulher retratada como a abusadora, isto porque, numa sociedade cada vez menos dominada pelos homens, parece-me importante que o cinema também expresse esta mudança de paradigma social e sexual e, assim, comece  também a explorar outras perspectivas e outros cenários. É certo que "Tár" retrata uma situação (ainda) incomum, mas que ainda assim não deixa de ser cada vez mais pronunciado numa sociedade ocidental onde o gap de poder entre homens e mulheres é cada vez mais reduzido.  
"Tár" surge assim como um drama que aproveita as bases do Movimento MeToo para criar mais uma grande história que traça o perfil de relações abusivas e de um abusador alimentado pelo poder e pela ambição. Mas é também um produto diferenciado pela nova perspectiva que nos oferece, apesar do conteúdo em si ser o mesmo.  Pode parecer estranho, mas "Tár" acaba por se revelar assim como um melhor campeão pela igualdade e pela defesa das vítimas do que outras obras do género....precisamente porque deixa as questões do sexo de fora ou, no máximo, como nota de rodapé. 


Classificação - 4 Estrelas em 5


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