Crítica - Ursos Não Há (2022)

Realizado por Jafar Panahi

Com Jafar Panahi, Naser Hashemi, Vahid Mobasheri


Jafar Panahi é uma instituição da 7ª Arte. É certo que (ainda) não chegou aos Óscares, mas já foi premiado nos grandes palcos do mundo do cinema, como Cannes, Berlim, Veneza, Locarno, San Sebastain ou Toronto e, para além da sua grande visão artística, há também que destacar Panahi como uma voz do povo, sobretudo do povo iraniano. E foi esta voz que o tornou num dos inimigos públicos do regime iraniano e, como consequência, levou ao exílio do cineasta que, verdade seja dita, nunca morrerá de amores por quem governa atualmente o seu país. E esse ódio mútuo acaba (quase) sempre por surgir como tema nos filmes de Panahi. Um dos maiores críticos do regime iraniano, Panahi vive há anos em exílio e usa os seus filmes para tecer críticas (umas subtis, outras bem diretas) ao Irão e à forma como este é comandado. "Ursos Não Há" não foge à regra e volta a ter várias diretas e indiretas à situação social que se vive no Irão, mas também  há própria condição do cineasta perante o regime.

Este é um filme que através de duas histórias de amor dispares e complexas acaba por desenvolver uma narrativa política e sociológica sobre o poder, a superstição e religião, mas sobretudo sobre os mecanismos do poder que controlam a vida dos cidadãos comuns....seja num grande país ou numa pequena vila habituada a costumes centenários. 

É um daqueles filmes que se desenvolve lentamente, mas cuja voz é bastante acutilante e ensurdecedora. Panahi promove uma dura crítica aos costumes e à ditadura, mas sobretudo lança um ataque cerrado à ausência de liberdade e de escolha, algo que afeta, de uma forma ou de outra, a maior parte da população mundial. Seja por força da religião, tradição, sexismo, racismo, poder, economia ou descriminação, Panahi mostra que a liberdade e a autonomia são uma ilusão e até numa questão tão universal como o amor existem poderes externos capazes de interferir e ferir um curso normal de uma relação. É portanto um exercício delicioso sobre as consequências do autoritarismo que pode (e deve) ser extrapolado para todos os campos possíveis e, claro, olhando para a situação atual do Irão, é inevitável não olhar para este seu trabalho como mais uma crítica do cineasta às atuações do regime que controla o país. 


Classificação - 4 Estrelas em 5

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