Crítica - Origin – Desigualdade e Preconceito (2024)

Realizado por Ava DuVernay

Com Aunjanue Ellis-Taylor, Ver Farmiga


Escrito e realizado por Ava DuVernay, já nomeada ao Óscar de Melhor Realizador por "Selma", "Origin – Desigualdade e Preconceito" é um filme que explora de forma profunda e emocionante as teorias da jornalista vencedora do Prémio Pulitzer, Isabel Wilkerson, sobre o sistema de castas e a sua influência nas injustiças sociais e nos direitos humanos. Inspirado no best-seller "Caste: The Origins of Our Discontents" da própria Wilkerson, o filme é protagonizado por Aunjanue Ellis-Taylor, que nos oferece uma interpretação poderosa e comovente da autora.

Desde os primeiros momentos, "Origin – Desigualdade e Preconceito" aposta em prender e conquistar a atenção do espectador. E começa por fazê-lo ao nos mostrar os últimos momentos de Trayvon Martin, um jovem afro-americano que foi morto em 2012 e cujo homicídio deu azo a uma cobertura mediática gigantesca. Este evento serviu aliás de catalisador para Isabel Wilkerson que, após a perda repentina do marido, inicia uma jornada profunda de pesquisa e descoberta. O desenrolar do enredo prima por uma poesia visual e emocional, alternando entre a profunda dor de Isabel e os momentos de sofrimento histórico e contemporâneo causados pela desigualdade. 

Embora ativamente político e social, não se pode dizer que "Origin – Desigualdade e Preconceito" faça julgamentos diretos, mas apresenta de forma bastante direta as conclusões da pesquisa de Wilkerson, sugerindo que o sistema de castas/ etnias é uma força persistente que precisa ser reconhecida e enfrentada e que este mesmo sistema está na base da cultura racial tóxica que se vive na sociedade norte-americana. DuVernay, que já tocou no tema do racismo com "Selma", volta a abordar esta temática de uma forma portentosa, mas desta vez fá-lo usando o trabalho e a vida de Wilkerson para traçar paralelos entre a opressão racial nos Estados Unidos, o Holocausto e o sistema de castas na Índia. Esta abordagem comparativa amplia a compreensão do espectador sobre as raízes e as manifestações da desigualdade, desafiando preconceitos e convidando à reflexão.

Embora menos "ativista" que tantas obras onde a cultura racial americana está em foco, "Origin – Desigualdade e Preconceito" tem, ainda assim, uma natureza excessivamente autoritária no que toca à sua abordagem didática do tema. Há uma clara necessidade de educar o público sobre a matéria e esta parece excessivamente explícita, sobretudo quando coloca toda a questão ao nível de uma luta de bem vs mal ou certo vs errado. E este tipo de abordagem radical (por muito que se concorde com a matéria de fundo) nem sempre é a mais....democrática. Mas pese embora este lado menos positivo, "Origin – Desigualdade e Preconceito" deixa boas impressões ao proporcionar uma visão abrangente e comovente sobre as injustiças sociais e o sistema social americano. Ava DuVernay, através de uma narrativa rica e personagens bem desenvolvidas, consegue criar uma obra que é tanto um apelo à consciência social quanto uma homenagem à resiliência humana.


Classificação - 3 Estrelas em 5

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