Pérolas Indie - Ida (2014)

Realizado por Pawel Pawlikowski
Com Adam Szyszkowski, Agata Kulesza Agata, Trzebuchowska
Género - Drama

Sinopse - Polónia, 1962. Anna é uma bonita jovem de 18 anos que irá em breve celebrar os votos definitivos para se tornar freira no convento onde vive enquanto órfã desde criança. A madre obriga-a, no entanto, a conhecer antes a única familiar viva, a tia Wanda. Juntas, as duas mulheres embarcam numa viagem à descoberta de si próprias e do passado que têm em comum. Anna descobre que é judia e que o seu verdadeiro nome é Ida. Esta revelação leva-a a dar início a uma jornada para desvendar as suas raízes e confrontar a verdade sobre a sua família. Ida terá de escolher entre a sua identidade biológica e a religião que a salvou dos massacres provocados pela ocupação Nazi na Polónia. E Wanda terá de confrontar as decisões que tomou durante a guerra quando optou por colocar a lealdade à causa, à frente da sua família.

Crítica - Vencedor do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2015, "Ida" não é definitivamente um filme para todos os gostos ou para todo o tipo de espetadores, mas não é difícil de compreender porque é que esta obra polaca conseguiu tornar-se numa das maiores surpresas cinematográficas de 2014. Filmado com elevado pormenor e primor por Pawel Pawlikowski e acompanhado por um belíssimo e tocante trabalho de fotografia por parte de Łukasz Żal e Ryszard Lenczewski, "Ida" retrata, sempre a preto e branco, o peso dos dramas pessoais e das sombras do passado que se escondem no seio de uma intriga muito pessoal que tem como protagonistas duas personagens femininas (Ida e Wanda) muito completas e repletas de alusões dramáticas e emocionais que, apesar de no início aparentarem ser completamente diferentes uma da outra, acabam por deixar cair, com o passar do tempo e o evoluir da intriga, muitos dos seus opostos e começam a desenvolver mais parecenças entre si do que qualquer um poderia pensar no início. A ligação entre estas duas protagonistas representa, sem dúvida, a espinha dorsal dramática deste belo produto graças à forte conexão familiar e humana que ambas desenvolvem por intermédio da sua profunda demanda para descobrir e desenterrar um passado doloroso que remonta à 2ª Guerra Mundial e que tem como principal motivador as crueldades do Regime Nazi e, por influência direta, o próprio desespero da população polaca e a repressão política que viviam, quer antes, quer após, o fim da Guerra. Esta descoberta e redenção do passado acaba por desaguar, apesar da igualdade dos objetivos em comum e da ligação que ambas desenvolvem entre si, uma história de redenção relativamente diferente para ambas, porque embora tenham o objetivo comum de enfrentar e enterrar o passado e seguir em frente com as suas vidas após descobrirem a verdade e afugentarem assim os fantasmas que as atormentam, acabam por tirar ilações diferentes da complicada aventura que vivem e, por isso, seguem eventualmente caminhos opostos relativamente à forma como optam por lidar com as sequelas desta sua demanda, mas sem antes porem em dúvida as suas atuais existências e optarem, dessa forma, por seguirem desvios drásticos que terão desfechos completamente diferentes nas opções finais de cada uma, porque apesar de ambas desistirem de certa forma de uma vida normal, fazem-no de uma forma drasticamente diferente mas fiel à sua forma muito própria de pensar. 
Embora seja curto em duração, "Ida" é um produto muito cheio, não só porque é uma obra poderosa e engenhosamente dramática, mas também porque se trata de um projeto muito rico do ponto de vista social e intelectual, não só por causa da pormenorizada construção narrativa que nos é apresentada relativamente à evolução dramática de ambas as personagens, mas também como consequência da curiosa visão histórica, política e social que nos é apresenta da Polónia Pós-2ª Guerra Mundial e que ajuda a humanizar, explicar e contextualizar toda a intriga pessoal protagonizada por Ida e Wanda, duas personagem muito fortes e bem elaboradas que são também brilhantemente interpretadas por Agata Trzebuchowska e Agata Kulesza que, em algumas cenas mais fortes do ponto de vista humano, denotam um talento muito digno dos maiores aplausos possíveis. Também o próprio "Ida" é digno de tais aplausos, porque mesmo sendo um daqueles filmes que são difíceis e lentos para a maior parte do público, tem ainda assim uma profundidade muito própria e digna que reforça visões políticas, sociais, religiosas, humanas e até criminais.

Classificação - 4,5 Estrelas em 5

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