Crítica - Attack on Titan: Part 1 & 2 (2015)

Realizado por Shinji Higuchi
Com Haruma Miura, Kiko Mizuhara, Kanata Hongô

A popularidade de "Attack on Titan" no Japão e no Mundo é inabalável. Esta história criada por Hajime Isayama conquistou num curto espaço de tempo milhões de fãs em todo o planeta graças, em boa parte, a uma intriga empolgante e repleta de mistério que é acompanhada por violentas sequências de ação e combate. Esta fórmula de sucesso conquistou um importante ímpeto de qualidade na banda desenhada, mas foi na televisão que a sua popularidade cresceu por intermédio de um anime de luxo que é considerado por muitos como um dos melhores do Século XXI. O seu colossal sucesso tornou inevitável a sua entrada no cinema. Ao contrário de outros animes de sucesso que começaram por entrar na sétima arte com filmes de animação, como foi o caso de "Naruto", "Fullmetal Alchemist" ou até mesmo "Dragon Ball", "Attack on Titan" entrou diretamente nos filmes live-action, tal como aconteceu com o também famoso anime "Death Note". Tal estratégia, embora altamente ambiciosa e aliciante, contempla muitos riscos. Isto porque a limitação técnica da própria ação real não permite os mesmos luxos e escolhas que a animação, já para não falar que é muito mais barato e fácil dar vida a um mundo tão técnico e colossal como o de "Attack on Titan" num produto de animação do que num filme de ação real com fundos muito limitados.


Os épicos cenários medievais e as sequências altamente ambiciosas de "Attack on Titan" seriam sempre muito difíceis de replicar num filme live action que não tivesse sob a alçada técnica e milionária de Hollywood, daí esta opção ser muito arriscada para esta opção. Por isso nunca ninguém esperou que a versão cinematográfica do anime fosse ter um apelativo ímpeto visual e técnico que conseguisse rivalizar com o do anime, aliás muitos já esperavam que tivesse o mesmo impacto visual que as fracas adaptações cinematográficas de "Death Note". Mas tais expectativas estavam um pouco erradas. É claro que esta versão cinematográfica não é nenhum primor técnico e está bem distante do tipo de ambiente que o anime nos oferece, mas a maior falha que se lhe pode apontar não se prende com a sua capacidade técnica mas sim com a sua capacidade narrativa.
Vamos por partes. A tão discutida parte técnica não é assim tão má como se pensava. É óbvio que uma mega produção bem feita de Hollywood seria cem vezes mais apelativa e competente neste aspecto, mas perante o orçamento que os seus responsáveis dispunham, "Attack on Titan" até surpreende pela positiva. Os seus gráficos computorizados são bastante competentes, assim os seus cenários e as famosas muralhas da trama têm um aspecto decente. O seu grande ponto positivo e surpreendente são os Titans, os vilões do filme. Estas criaturas, que se assemelham a colossos canibais com feições humanas, têm um look muito similar ao  anime. Estas criaturas são assustadoras e credíveis e tudo fruto de uma boa parceria entre uma boa caracterização e uma decente fórmula técnica. As suas sequências de ação apresentam várias falhas de credibilidade e continuidade técnica, mas não são o desastre que se esperava e, pese embora sejam medianas, têm um certo valor atrativo que nos recorda e remete para a emoção das sequências do anime.


O seu principal problema não reside portanto nas questões técnicas, mas sim num enredo tosco e muito mal idealizado. No anime seguimos a jornada épica de três jovens (Eren, Armin e Mikasa) que ambicionam derrotar e destruir todos os Titans que ameaçam a Humanidade. A base narrativa do filme não é muito diferente, mas o seu desenvolvimento é muito menos complexo e intrigante que o do popular anime. E tal não se prende apenas com a dimensão de ambas histórias, mas também com a própria construção e desenvolvimento das personagens. Tal como se pode depreender há muitao poucas semelhanças entre a narrativa do filme e do anime. Há algumas coisas iguais mas tudo o resto é completamente diferente. A história do filme é muito mais oca e desinteressante, sendo até um insulto para a complexidade moral e dramática que em certo ponto o anime entra. Os fãs, quer do manga quer do anime, vão portanto sentir-se muito desiludidos com a trama básica e demasiado limitada que nos é oferecida. Mas também ficarão desiludidos pelo péssimo retrato que esta versão promove dos protagonistas Eren, Armin e Mikasa. Estas personagens não têm qualquer expressividade e acabam por ter propósitos muito estereotipados e sem qualquer pingo de complexidade. Os seus rumos são previsíveis e as suas personalidades são tão ocas como as mentes dos Titans. As personagens secundárias não são melhores e também pecam em dimensão humana e emocional.  
No fundo, "Attack on Titan - O Filme" é exatamente o que "Attack on Titan - O Anime" não é. É um produto pouco estimulante e nada surpreendente que dificilmente cativará o espectador, especialmente se esse espectador conhecer minimamente a espetacular base literária ou televisiva em que o filme se baseia. Há ainda que acrescer o facto negativo de esta produto cinematográfico estar dividido em duas partes, algo que desmotiva ainda mais o visionamento por partir a história e torna-la ainda mais chata e demorada. Um único filme de duas horas seria mais que suficiente para explorar a trama que estas duas obras exploram em conjunto durante quase quatro longas horas. Esta pouco eficaz elasticidade narrativa afeta drasticamente o filme e torna-o ainda mais fraco e desinteressante, mas tal escolha é apenas uma das várias opções infelizes e desnecessárias que os responsáveis por este produto tomaram. E o resultado está à vista. "Attack on Titan" não é um mau filme técnico, mas é mediano em tudo o resto, tão mediano que embaraça a sua magnífica base de inspiração que merecia claramente uma melhor adaptação cinematográfica. Os seus fãs é que serão os verdadeiros prejudicados e aqueles que ficaram mais tristes e desiludidos com esta produção japonesa que dificilmente entrará para qualquer lista de recomendações. Se quer ver o verdadeiro "Attack on Titan" veja o anime ou leia o mangá e deixe de lado o filme ou, então, espere por uma versão de Hollywood e reze para que esta seja minimamente fiel e decente à obra de Isayama.

Classificação - 2 Estrelas em 5

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