Crítica - Spotlight (2015)

Realizado por Tom McCarthy
Com Mark Ruffalo, Michael Keaton, Rachel McAdams

Há apenas uns meses atrás poucos diriam que "Spotlight" estaria hoje entre os principais candidatos de proa aos Óscares e à Época de Prémio, mas já não há dúvidas que esta produção independente conquistou merecidamente essa posição. Os respeitados críticos de Boston e Los Angeles já lhe atribuíram o título de Melhor Filme de 2015 e, embora ainda seja cedo para o considerar o virtual vencedor do Óscar de Melhor Filme, para mim não há dúvidas que "Spotlight" é efetivamente um dos principais filmes do ano e será justo se eventualmente conquistar esse prémio. Também na categoria de Melhor Argumento Original, "Spotlight" destaca-se como um dos principais candidatos ao título, já que explora, com a devida honestidade e interesse, uma polémica história verídica que tem como protagonistas um grupo de jornalistas do Boston Globe que tornaram público diversos casos de pedofilia no seio da Igreja Católica e que esta fez questão de esconder durante anos. 


Tais jornalistas são interpretados por um quarteto de atores com prestações muito interessantes, sendo de destacar as performances de Mark Ruffalo, Michael Keaton e Rachel McAdams, sendo que todos eles podem ter uma ou outra palavra a dizer na luta pelos prémios da representação mas numa vertente puramente secundária. E isto acontece porque em "Spotlight" não há nenhuma personagem principal apenas várias personagens secundárias que, em conjunto, ajudam a dar vida a uma trama de qualidade que puxa a todo o momento pelo interesse do espectador. O conjunto destas personagens e dos seus intérpretes fazem parte portanto de um resultado final muito positivo, onde nada parece ter sido descurado ou relativizado. É porque a juntar ao óbvio profissionalismo do seu elenco competente, "Spotlight" apresenta também outros elementos impecáveis, sendo o seu enredo aquele que mais se destaca. 
Não é por mero acaso ou por falta de escolhas que é apontado como um dos candidatos ao Óscar de Melhor Argumento Original. É bem verdade que o seu tema ajuda a exponenciar por si só o interesse e a atenção do espectador, mas "Spotlight" trata-o sempre de uma forma muito realista e natural que deixa pouca margem de manobra para embelezamentos forçados e desnecessários que poderiam arruinar este retrato de um controverso drama humano. É claro que estamos perante um drama e não perante um documentário, pelo que o retrato em questão não assume a mais pura das formas possíveis, mas percebe-se perfeitamente que a história verídica em questão recebeu deste produto o tratamento mais próximo da realidade que seria possível em Hollywood. 


O retrato da história real nunca entra por caminhos políticos, polícias ou públicos, ou seja, fica sempre preso à investigação jornalista e isto acaba por favorecer o filme, já que não dispersa o seu relato nem promove dramas desnecessários. Esta focalização ajuda a explicar com o pormenor possível o complexo caso em questão, mas acima de tudo ajuda o espectador a compreender a difícil tarefa que os jornalistas enfrentaram para revelar uma cruel realidade que afetou e abalou uma cidade inteira. E porque convém não esquecer que este caso ocorreu em Boston, um das cidades mais católicas dos Estados Unidos da América, onde a Igreja Católica é alvo de uma proteção excessiva e, como se pode facilmente prever, onde tal escândalo causou um enorme impacto social. O filme nunca nos deixa esquecer este importante pormenor e faz questão de contextualizar esta realidade no seio da difícil jornada dos jornalistas para ilustrar as dificuldades que estes enfrentaram para revelar a verdade.
O importante contexto social que nos é dado para compreender esta dura realidade é apenas um dos seus vários pormenores de calibre. Há também que destacar o detalhe impressionante com que as vítimas relatam os abusos e a forma como os jornalistas vivem este drama muito pessoal. Estas duas questões são sempre tratadas com o máximo de cuidado e reforçam a humanidade natural de uma história já de si muito forte. Todos estes pormenores poderiam ter potenciado uma onda de melodrama excessivo devido à sua imponente base dramática, mas isso nunca ocorre. Os responsáveis por "Spotlight" denotam sempre uma devoção clara pela isenção e pela realidade ao ponto de nunca os sacrificarem em prol das emoções fáceis que poderiam advir da força natural da história. Este nobre exemplo de restrição e centralização ajuda a demonstrar os objetivos claros desta obra que, em nenhum momento, promove um desvio crasso à sua missão de apresentar um produto claro e factual que faz justiça a uma nobre investigação jornalística.

Classificação - 4,5 Estrelas em5

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3 Comentários

  1. Olá, João

    Sem dúvida, um filme a recomendar, pela história horrenda que é exposta, pela interpretação excelente de todo o elenco, o qual dá, na perfeição, vida e personalidade a cada personagem que fez parte desta exposição jornalística, sobretudo Mark Rufallo que se entrega de corpo e alma à sua personagem, um jornalista incansável que não pára nem parará até que a verdade seja exposta, Michael Keaton, sempre na sua postura inconfundível, mas vestindo bem a pele de um editor que busca a verdade à sua maneira, a intuitiva e independente (ele não se senta na mesa da reunião e sim num bancada atrás...), para além de mostrar o profissionalismo jornalístico antes do “boom” das redes sociais. Enfim, o filme top como há muito não via.

    Às vezes é preciso um filme destes para que as pessoas se apercebam do que realmente se passa por este mundo cheio de cantos e recantos assustadores, onde a prática do mal é levado a cabo nos sítios onde menos se espera e por pessoas de quem nunca desconfiamos, e também porque se lê muito pouco, para mal do conhecimento, fundamental para evolução positiva da espécie humana.

    “Keep up the good work!” :)

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    1. Obrigado Lucy. Foi uma surpresa muito positiva com uma mensagem muito interessante. É realmente um filme jornalístico muito bom que faz bem à alma jurídica e inquistiva de qualquer um :)

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    2. Sem dúvida, um filme que enche o ego de qualquer bom jornalista. Muito na linha do clássico “Os Homens do Presidente”. Um dia destes vou rever este filme.

      Apesar da chuva, dia feliz. ***

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