Crítica - Gelo (2016)

Realizado Luís e Gonçalo Galvão Teles
Com Ivana Baquero, Afonso Pimentel, Albano Jerónimo

Lembram-se de Ivana Baquero? A jovem protagonista do já clássico "O Labirinto de Fauno" (2006), de Guillermo Del Toro, cresceu mas não esqueceu o cinema nem parou de tentar de triunfar nesta área. Nos últimos anos, Baquero entrou em vários projetos indie pouco mediáticos, quer na Europa, quer em Hollywood, mas até ao presente dia nenhuma das suas performances posteriores a "O Labirinto de Fauno" convenceu. Numa fase muito importante da sua carreira, já que se não conseguir singrar nesta altura muito dificilmente conseguirá alcançar o estatuto desejado, Baquero aceitou o desafio de protagonizar "Gelo", uma produção portuguesa, parcialmente financiada com dinheiro espanhol, realizada pela dupla familiar Luís e Gonçalo Galvão Teles.
Este desafio parecia, à partida, muito prometedor e poderia, caso cumprisse as expectativas, tornar-se num dos principais filmes nacionais do ano. E, já agora, poderia também ajudar e muito a carreira de Baquero se, por via da sua qualidade, este projeto conseguisse entrar de rompante em importantes mercados. Não será, no entanto, por via de "Gelo" que Baquero vai cimentar o seu nome já de atriz adulta junto da indústria do cinema. A responsabilidade por este mais que pervisivél facto não deve ser toda imputada ao filme, já que Baquero e o restante elenco têm que arcar com boa parte das responsabilidades. Isto porque nem Bakero nem os restantes elementos mais secundários do elenco,  como Afonso Pimentel ou Albano Jerónimo, têm performances satisfatórias. A pior é mesmo da jovem atriz espanhola, cuja performance dupla é simplesmente irritante.  
Em "O Labirinto de Fauno", Baquero notabilizou-se pela sua interpretação muito natural e dinâmica que, por toda a sua força natural, mostrou-se capaz de arrancar aplausos de todas as partes do mundo. A sua performance é, aliás, um dos principais atributos de um filme já de si sublime. O problema é que esta jovem atriz nunca mais conseguiu brilhar da mesma forma. O talento ainda poderá estar lá, mas Baquero é hoje em dia uma atriz muito diferente. A sua performance em "Gelo" é a prova disso mesmo. Esta, por ser tão irritante, não puxa pelo espectador mas, mais problemático que isso, não consegue de todo puxar por uma história complexa que tinha a obrigação profissional de rentabilizar. Os talentos que exibiu na sua infância são, por estes dias apenas, um vislumbre de um passado distante que não encontram qualquer correlação com um presente marcada por performances medianas e mecânicas, ficando a que tem "Gelo" à cabeça. Os atores portugueses, em papéis secundários, também não ajudam à festa e não fazem melhor, nomeadamente Afonso Pimentel, a quem se pedia e exigia muito mais. 
Isto posto, "Gelo" também fica muito aquém das suas expectativas por culpa de uma narrativa, cujo rendimento é difícil de avaliar. Tal como já referi, o elenco não ajudou em nada, mas embora seja uma atenuante a considerar, há que dizer que a sua trama precisava de uma boa dose de simplificação. Esta divide-se em duas histórias com duas estrelas, ambas interpretadas por Ivana Baquero. A primeira é a de Joana,  uma jovem estudante de cinema que se apaixona por Miguel, um colega mais velho obcecado pelo Gelo, paixão esta que acaba súbita e tragicamente durante uma viagem de ambos ao cume de uma montanha nevada. Paralelamente ficamos também a conhecer Catarina, uma menina concebida a partir do ADN de um cadáver congelado com mais de 20.000 anos, que cresce encerrada num palácio isolado, sob a tutela de Samuel, um investigador da VIDA FUTURA que a usa como cobaia num projeto sobre a imortalidade humana. 
Tal como se pode compreender, "Gelo" apresenta estas duas histórias de forma paralela, criando assim uma correlação entre ambas, cujo real efeito só se torna completamente perceptível no final. Não há dúvidas que a idea sci-fi quase metafísica e sonhadora que está na sua base é bastante interessante, mas a sua aplicação concreta denota várias falhas que a tornam desnecessariamente confusa e estranha. Esta desenvolve-se a partir de um enredo complexo que nunca oferece explicações plenas para as suas principais questões. É certo que no final consegue-se compreender qual é a intenção de "Gelo", mas a viagem pela qual leva o espectador acaba por ser mais acidentada que o necessário. Não havia, por exemplo, necessidade de pautar o filme com um ritmo tão pausado que torna ainda mais pesada uma história já de si difícil de assimilar. Há também pelo meio muitos desvios incompreensíveis, cujo efeito prático é praticamente nulo e que apenas acrescentam à dimensão exaustiva desta obra. Não se ataca, por isso, a opção de deixar em aberto a interpretação final, porque é bastante interessante atendendo às características do filme. O que se ataca é sim a forma extremamente pausada, confusa e, para ser franco, quase pseudo intelectual/ filosófica como tal história é explorada e que acaba, assim, por minar muita da sua emoção e do seu valor criativo. 
É assim que, por muito bonito que "Gelo" seja, acaba por não se assumir como um daqueles filmes bem pensados e equilibrados que, para além de divertirem, também nos fazem pensar. É sim um produto com boas intenções que, infelizmente, perdeu tudo na hora da aplicação e interpretação da sua ideia, sendo em parte por esta razão que não perdurará na nossa memória. Há que dar, ainda assim, os parabéns a Luís Diogo (Guionista) e a Luís e Gonçalo Galvão Teles (Realizadores) por apostarem num projeto diferente que, pelo menos, aproxima o cinema português a um estilo comercial mais inovador que, caso não tenham percebido, já está profundamente implementado há muitos anos em 90% da Europa. 

Classificação - 2 Estrelas em 5

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