Critica - Blade Runner (1982)

Realizado por Ridley Scott
Com: Harrison Ford, Sean Young, Edward James Olmos, Daryl Hannah

Sinopse: Num futuro próximo, colonização espacial e a clonagem já é uma realidade. Numa sociedade corporativista, e saturada pelo seu crescimento exponencial, a população divide-se em humanos e replicants, andróides usados para trabalhos de escravo nas varias colónias terrestres. Criados pela Tyrell Corporation, estes são concebidos para parecer mais humanos que os próprios humanos, sendo que mais fortes e mais ágeis, mas com um tempo de vida mais curto (4 anos), como forma de controle. Existe uma força policial, os Blade Runners, que os caça e os mata se o trabalho assim o exige. O filme é a viagem de um ex-blade Runner Rick Deckard que é chamado ao serviço para eliminar um grupo de Replicants que evadiram em busca de um significado para as suas vidas que brevemente se extinguirá.

Pode-se considerar Blade Runner como o verdadeiro filme de culto? Este foi um filme que foi mal recebido pela opinião critica e pelo publico, aquando a sua estreia, e só ganhou “momentum”, em 1992 quando surgiu o primeiro “director’s cut”, desde então o filme adquiriu uma mística diferente, ganhando a sua legião de fãs que até então estava adormecida. E sejamos justos, este é um grande filme, ultrapassável por muito poucos, um filme à frente do seu tempo, e injustamente mal recebido na altura, devido a uma conjectura muito desfavorável. Senão vejamos:
  • O Publico quando viu anunciado o filme de Ridley Scott, pensou que iria ver um espectáculo no género de Star Wars. A produtora assim o fez promover, e a partir do momento em que o filme estreou rapidamente, o Word of Mouth do publico fez com que o filme saísse rapidamente das salas de cinema.
  • Na semana em que o filme estreou, foi muito próximo de estreias como E.T e The Thing de John Carpenter. Concorrência feroz, e objectos distintos do filme de Scott, mas que dá para ilustrar um pouco qual era a procura do publico norte-americano. E neste caso quem ganhou foi o Senhor Spielberg...
O problema foi mesmo esse… Blade Runner oferece muito, mas nada do que podemos estar à espera. E provavelmente os cinéfilos da altura sentiram isso e alienaram o filme. Adaptado de um romance de Phillip K. Dick Do Androids Dream of Electric Sheep? O filme é uma reflexão sobre o maniqueísmo do homem perante as coisas que cria. O complexo de Deus e a perda de controlo sobre a criação. Um eterno dilema entre criação e criador. A permanente busca de um sentido para a vida.

Aqui está o maravilhoso do filme, uma alegoria à alienação da vida perante a própria vida. À inevitabilidade da morte, e como se sentimos mais vivos a partir do momento em que se sabe que a vida se extinguirá. Esta temática desde então tem sido explorada em melodramas ou em inúmeras comedias românticas  porém é no filme de Scott onde é melhor explorada. As personagens estão em permanente conflicto interior e andam em busca de algo que ninguém lhes pode dar... mais tempo.

O filme é um prodígio visual e técnico. Não há um visionamento que se faça onde, não se aprenda algo de novo. Todos os aspectos técnicos estão polidos nesta versão comemorativa. De fora da versão definitiva ficou:
  • O final feliz da primeira versão, algo descontextualizado do ambiente do filme onde está sempre escuro e a chover, e no final temos sol e paisagens… Muitos não entenderam este final… e confesso que eu também não na altura.
  • A voz-off de Harrison Ford muitas das vezes desnecessária e que retirava ao filme um pouco de intensidade dramática. Ao ter acesso aos pensamentos de Deckard estamos a perder o pouco de mistério que a personagem oferece.
Foi introduzido uma nova cena onde é visto um sonho de Deckard, onde é visto um unicórnio. Muitos especulam na possibilidade de Deckard ser um Replicant, uma vez que é sugerida a hipótese das suas memorias serem meros implantes. Reparem também na parte final do filme. Conseguirão ver algo que diga o contrario?

Esta versão definitiva é apenas uma versão melhorada do director’s cut de 1992, que desde então ganhou uma maior ambiguidade que não tinha nas suas primeiras versões.

Ao terceiro filme, Ridley Scott filma a sua obra-prima, ainda à espera de ser superada. Um filme onde a ficção cientifica é mais real do que parece. Um projecto algo maldito para Ridley Scott, que depois disso, andou numa espiral de projectos que não fizeram jus ao seu potencial. Uma referencia cinematográfica para qualquer cinéfilo que se preze, objecto de estudo para muitos estudantes e admiradores. Este é um filme que irá transpor as barreiras do tempo. Isto é Blade Runner. Simplesmente um dos grandes acontecimentos deste ano.

Tenho pena que o filme tenha sido estreado só agora, quando a sua edição em DVD saiu no final do ano passado. Penso que é uma má estratégia de marketing usada pelas distribuidoras, que assim impede que o filme seja visto num circuito mais alargado e chegue a um novo publico. Mas como dizem os populismos portugueses. Mais vale tarde que nunca.

Classificação - 5 Estrelas Em 5

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6 Comentários

  1. Gostei dessa crítica. Em especial quando você cita o fracasso de crítica e público no ato do seu lançamento o fato do uso errado de marketing junto ao público e as estréias de ET e "The Thing". Não tinha pensado isso até então.

    Blade Runner é um belo filme. Filosofia pura!

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  2. Um excelente filme de ficção cientifica, uma obra de referencia para muitas outras que se lhe seguiram. Visionária e inovadora inclusivé nos nossos dias. Vale a pena ver esta sua nova edição.

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  3. Eu tenho a edição de coleccionador e se ele vier ca para o porto... acreditem que vou ve-lo outra vez... :)

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  4. bom trabalho antonio. ainda n tive a oportunidade de ver a estreia claro, mas sou um grande fã da edição dvd de blade runner. é realmente um daqueles filmes emblemáticos... uma mistura explosiva de film noir com ficção científica, que vem criar uma atmosfera até agora inigualável. Blade runner levanta todo um conjunto de tópicos muito interessantes e visionários... mesmo por padrões de 2008! (relação máquina-humano, inteligência artificial, natureza dos sentimentos, etc.)realmente a ver, sem dúvida.

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  5. Obra Prima demasiado a frente do seu tempo!nota:5

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  6. Desde que vi este filme pela primeira vez, penso que foi estreado no verao de 1982 , e vi-o na costa da caparica nas ferias.....e desde entao ja vi este filme umas 50-60 vezes!!! e' um filme como foi dito, a frente do seu tempo, a banda sonora de Vangelis, simplesmente divinal, desde vhs, dvd e copia digital, tenho todas, a continuacao de 2017 tambem sera dado o seu devido valor a seu tempo!! #ridleyscott#harrisonford#rudgerhauer#vangelis.

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