Critica - Indiana Jones and the Kingdom of The Crystal Skull (2008)

Realizado por Steven Spielberg
Com Harrioson Ford, Shia Labouef, Karen Allen, John Hurt, Cate Blanchett

Aquando da estreia em Cannes da nova aventura de Indiana Jones havia a forte sensação de que não interessaria a opinião da crítica para impedir o sucesso do filme. Diga-se o que se disser, Steven Spielberg e George Lucas parecem ter a palavra final e, acredito, ganharão a aposta que fizeram com a Paramount (caso o filme não fosse um blockbuster eles pagariam a produção). Ainda assim, depois de ter juntado o meu entusiasmo ao de milhões de espectadores por todo o mundo, fica aquela sensação de vazio. De facto, os anos 80 já passaram, não há nada a fazer. Não há expectativa que resista, não há sentimentalismo nostálgico que possa esconder a enorme quantidade de erros cometidos neste Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull.
Depois de uma curiosa abertura, que quanto a mim é o momento de maior originalidade em toda a película, Crystal Skull leva-nos até 1957, anos em que a Guerra Fria atingia os seus picos de paranóia mais cerrados. Indiana Jones, a personagem que George Lucas e concebeu nos idos anos 80 como homenagem aos filmes de aventuras das matines americanas da época dourada, vê-se agora confrontado com a ameaça soviética. Começando por ser obrigado a colaborar com Irina Spalko (Cate Blanchett), um cartoon em tudo desusado de uma implacável agente do KGB que tem como arma preferencial uma espada, Indiana Jones é levado a procurar mais um mítico artefacto, desta feita uma caveira de cristal com um leve (leve!?) toque de Arca da Aliança, uma pitada de símbolo religioso, Santo Graal e, pasme-se caro leitor, toque de E.T. alienígena. Evocando desde inicio os três filmes anteriores e, assumindo-se como uma montanha russa cinemática, esta quarta apresentação do já mítico Indiana Jones conhece apenas um caminho, para baixo – rumo à ridicularização da própria personagem e de tudo o que representa.



Com todo o secretismo e paradoxal publicidade que acompanhou a produção deste Crystal Skull já deveríamos esperar o desastre, mas a desinspiração da dupla Lucas-Speilberg é total, levando-me mesmo a concluir que há de facto um problema de idade no filme – não de Harrison Ford como se temia, mas definitivamente de George Lucas e Steven Spielberg. Prometido que estava um regresso a um cinema apoiado em sets reais, bem distantes da virtualidade digital do fundo azul, esperava-se que este Indiana Jones recuperasse também a magia original, o espírito da aventura por trás de cada descoberta de Indy. Esperava-se, ingenuamente, a recuperação da personalidade deste velho amigo que reencontramos ao fim de 19 anos. A aventura está presente, a composição de John Williams continua a ser contagiante, mas na prática, este Indiana Jones não é mais do que um velho amigo que de facto reencontramos, mas que mudou e mudou muito com a idade. Em larga medida, este velho amigo teima recordar-nos quem é, constantemente tenta "auto-citar-se", criando daí um problema maior… torna-se aborrecido, chato mesmo e desinteressante. O problema não está, de todo, em Harrison Ford, que consegue aqui e ali brindar-nos com a mesma ironia que conhecíamos, está sobretudo na forma desinspirada e tremendamente deslocada da realidade como o argumento foi trabalhado por Lucas – e assinado por David Koepp. Crystall Skull tem aventura, tem perseguições frenéticas, tem formigas "gigantes" devoradores de tudo quanto aparece, tem soviéticos loucos e sanguinários, tem artefactos milenares, tem a sabedoria constante de Jones… tem tudo, em excesso, eliminando por completo a acção primária que marcava os três filmes anteriores e que, ai sim, nos fascinava. Á excepção, talvez, da perseguição por entre a floresta sul-americana, as sequências de acção são absolutamente entediantes, mecanizadas, sem a pitada de humor adicionada a um tanto de romantismo que marcavam o heroísmo inspirado da sequência de perseguição numa mina em Indiana Jones and The Temple of Doom ou a gloriosa perseguição com camiões em Raiders of The Lost Ark. A determinado ponto, o filme parece mesmo uma catalogação mais ou menos previsível de tudo o que Indy representa, fazendo-me mesmo sair da sala com uma chapa na testa com letras garrafais a gritar "idiota", dada a contínua necessidade do filme em explicar o que acontece na tela. Este quarto Indy perde-se em referências a si próprio, inferioriza-se com tentativas frustradas de fazer humor (a cena inicial é inexplicável caros cinéfilos… ) em torno do conhecimento que a audiência já tem da personagem. A verdade é que o filme desconstrói mesmo a personagem, tornando-a precisamente aquilo que não queríamos que acontecesse: envelhecida, apagada e, mais importante, no Dr. Henry Jones, o nome que o pai (Sean Connery, boa aposta ao recusar o papel) sempre usou e que Indy sempre desprezou.


Indiana Jones tem ideias interessantes, que deveriam ter sido melhor exploradas. A actualização da narrativa para os anos 50 é positiva porque não querendo, por um lado, esconder a idade de Indy, acaba por funcionar muito bem, pois trás para a tela os loucos anos 50 nos EUA, com toda a ebulição conspirativa que marcava a sociedade Norte-Americana de então. A personagem do tão badalado Shia LaBeouf – Mutt, o contributo de Spielberg para o seu já clássico tema do "pai-filho" – também traz, parece-me, um bom contraponto para Indy, criando bons momentos de cumplicidade. É certo que ainda assim fica a anos-luz da dupla Connery-Harrison Ford ou mesmo do fabuloso "Shortie" ("Minorca"), mas, dada a falta de originalidade que pauta o texto deste Indy IV, consegue trazer alguma frescura para a acção. A filmagem de Spielberg não compromete, mas também acaba por contribuir para a desinspiração global, já que é de um conservadorismo constrangedor que poderia ser imitado por um qualquer tarefeiro de Hollywood. No fim fica, tão só e apenas, a imagem de um Indiana Jones apagado, literalmente, pela sua sombra ao longo de todo o filme.
Em suma, mais um mito cinematográfico que é destruído pela indústria. Quanto a mim, prefiro cautelosamente ignorar este Indiana Jones de 2008. Irritante a forma como se tenta sumarizar neste Crystall Skull tudo o que os três filmes anteriores trouxeram e, mais ainda, o sabor "alienigena"... Sintomático da crise de ideias que marca o cinema de Hollywood é a classificação que darei a este filme –consegue duas estrelas, o que mostra que ainda assim não é um mau filme.

Classificação - 2 Estrelas Em 5

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4 Comentários

  1. Realmente Ricardo tenho que concordar contigo. O filme deixa muito a desejar parece-se mais com um filme Tomb Raider do que com um Indiana Jones. A acção e a intriga são fracas e o final...bem o final é algo muito mau que não tem nada a ver com os outros tres filmes. Tiro o chapeu a Harrison Ford que na minha opinião está muito bem já o restante elenco apresenta mediocres actuações. Spielberg e Lucas poderiam ter feito muito mas muito melhor.

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  2. Concordo 100% da crítica feita.
    Neste filme veio dar confirmação de um medo antigo mas sempre recusei em aceitá-lo.
    O facto de George Lucas e Steven Spielberg não terem lidado bem com os efeitos gerados por computador (os chamados CGI se não tou em engano).
    Bem podemos comprovar isso com o filme Starwars 1 : Ameaça Fantasma.
    Construção da história bastante má , pular de local em local de modo brutal e para não falar do final.
    Para poupar o trauma Indiana Jones continua a ser uma triologia.

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  3. Indiana Jones e extraterrestres são ótimos temas de filmes, mas separados. Juntar os dois não ficou nada bem...
    E a cena inicial... o que foi aquilo?
    Esperei muito mais desse filme!

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  4. Amigos

    O quarto filme tem tudo aquilo que os outros 3 tiveram excepto que agora no final do filme aquilo que se sente é que ja nao temos a mesma idade nem o cinema é o mesmo que era aquando da trilogia.

    Sim porque alem disso 20 anos depois em apenas 2 horas era impossível fazer muito mais. Porque a força de 3 filmes não é igual a apenas à de 1 com tanta expectativa!

    Mesmo assim o filme foi pensado para todos nós fans, e sinceramente façam mais dois ou três, porque o cinema precisa de salas cheias, alegria e entusiasmo.

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