Crítica – Ararat (2002)

Realizado por Atom Egoyan
Com David Alpay, Charles Aznavour, Marie- Josée Croze, Arsinée Khanjian

Ararat não é um grande filme mas é certamente um filme que tinha de ser feito e um filme que merece ser visto. Ararat é também a maior montanha do actual território da Turquia, próxima das fronteiras com o Irão e com a Arménia, e o símbolo nacional deste último país, ainda que se encontre em território turco. Ararat assistiu a partir do dia 24 de Abril de 1915 ao extermínio maciço de cerca de um milhão de arménios pertencentes ao então decadente Império Otomano. Ainda hoje o Governo Turco nega que tal genocídio tenha acontecido. Antes da invasão da Polónia, Hitler terá dito aos seus oficiais “Afinal quem se lembra do extermínio dos arménios?”. Atom Egoyan nasceu no Egipto de uma família de sobreviventes arménios, tendo-se depois mudado para o Canadá. Neste filme, o realizador busca as suas origens e luta para que justiça seja feita ao seu povo. Afinal ainda há quem recorde o extermínio dos arménios.
Charles Aznavour, também ele um descendente arménio, é Edward Saroyan um realizador de cinema filho de uma sobrevivente do genocídio arménio que vai para o Canadá fazer um filme sobre esse momento da História. A libanesa Arsinée Khanjian é Ani, uma professora universitária de História de Arte, viúva de um primeiro casamento com um arménio que tentou matar um diplomata turco e viúva novamente de um canadiano que se suicidou. Ani dedicou parte da sua investigação ao estudo do pintor arménio Gorki, também ele um sobrevivente do genocídio que, depois de emigrar para o Canadá, sucumbiu ao pesadelo que vivera, suicidando-se. O filho de Ani, Raffi (David Alpay), namora com a filha do último marido da mãe, Celia (Marie- Josée Croze), uma jovem que vê no trabalho de Ani sobre Gorki uma declaração de culpa desta relativamente ao suicídio do seu pai. Celia vende droga na internet e falsifica cartões de crédito. Ani e Raffi são chamados a trabalhar com Saroyan na feitura do filme que é para todos eles uma forma de homenagem aos seus ascendentes. Todos estes fios narrativos se juntam na boca de um guarda fronteiriço que conta aos seu filho homossexual como se apiedou de um jovem que deteve no aeroporto por transportar droga. Esse jovem era Raffi que tinha ido à Turquia filmar os cenários naturais do drama arménio e o tráfico de droga foi o preço que sem saber teve de pagar para conseguir esses minutos de filme.
O argumento de Ararat é bem urdido e as suas personagens, ainda que bastante fora dos padrões comuns de normalidade, são psicologicamente complexas e coerentes. O modo como os diferentes fios narrativos se entrelaçam é interessante e cativante. Este filme foi criticado, acima de tudo, por razões políticas. Egoyan deu voz ao ponto de vista turco também mas a personagem que apresenta a versão oficial de que se tratou de uma guerra pela posse das terras com vítimas de ambos os lados é uma figura negativa, má e egoísta o que a descredibiliza automaticamente. Como vemos esta obra prima sobretudo pela insistência na denúncia do Holocausto arménio e pela capacidade de cativar o público para a causa arménia. Contudo e apesar de conter os ingredientes violência, sexo e drogas não é um filme para o grande público talvez pela ingenuidade e candura com que esse dados são apresentados.

Classificação - 3,5 Estrelas Em 5

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