Crítica – Ossessione (1943)

Realizado por Luchino Visconti
Com Clara Calamai e Massimo Girotti

Ossessione (Obsessão na tradução portuguesa) é uma versão não autorizada de The Postman Always Rings Twice de James M. Cain e a primeira longa metragem do génio do cinema que foi Visconti. Nesta obra, um vagabundo consegue emprego e habitação num café de estrada, apaixonando-se de uma forma muito física pela mulher do patrão. Com esta, planeia a morte do seu marido. Depois de cometido este acto e quando ambos se julgavam livres para viver o seu amor, a culpa persegue Gino Costa (Massimo Girotti) que passa a viver obcecado pelo o remorso e o perigo de ser descoberto. A sua relação com Giovanna (Clara Calamai) deteriora-se e ambos chegam quase ao rompimento definitivo, deixando à polícia cada vez mais desconfiada. Apenas quando Giovanna revela ao amante que se encontra grávida de um filho seu, o casal parece encontrar a harmonia de novo. Decidem fugir mas um fatídico acidente de automóvel mata a mulher e fere Gino que é rapidamente capturado pelos polícias que o perseguiam.
O tratamento erótico deste argumento, a química transbordante entre Clara Calamai e Massimo Girotti, o sexo fora do casamento por puro desejo cometido entre os dois logo no primeiro encontro e ainda o recurso de Gino ao serviço de uma jovem prostituta, bem como o aflorar de uma homossexualidade mais ou menos latente na relação entre Gino e um artista de rua (ao que não é alheia certamente a bissexualidade do próprio Visconti que toda a vida insistiu em escolher actores extraordinariamente belos) levaram a que o filme tivesse tido problemas com a censura do regime de Mussulini, sendo considerado um filme imoral. Também nos Estados Unidos, James M. Cain, o autor da obra original, conseguiu a sua proibição nas salas do cinema, proibição essa que só viria a ser levantada nos anos 70.
O filme peca, a meu ver, pela débil construção psicológica dos protagonistas que pouco fogem ao padrão da mulher pobre casada com um homem que não ama apenas por dinheiro e do homem sem rumo que se deixa levar inconsequentemente pelas paixões. Isto leva a que o motivo do crime surja de algum modo forçado. Parece-me pouco consistente que uma mulher que se prendeu de tal modo a uma forma de vida e a um lugar a ponto de se recusar a deixar o marido que não ama para seguir o seu coração, seja, pouco depois, capaz de premeditar o seu assassínio e levá-lo a cabo, mentindo friamente à polícia e à desconfiada companhia de seguros. Mas possivelmente estes aspectos são secundários relativamente à perturbação sexual que o filme traz consigo numa sociedade tacanha, limitada e fechada sobre si mesma como era a sociedade italiana deste período.

Classificação - 4,5 Estrelas Em 5

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