Espaço Séries: Breaking Bad


Há muito tempo que andava para redigir uns pares de parágrafos a enaltecer umas das melhores séries que este ano assomaram ao pequeno écran. A sinopse é simples: professor de Química do ensino secundário, classe média-baixa, com um filho que sofre de paralisia cerebral, pai de um bebé em gestação intra-uterina, descobre que sofre de cancro de pulmão, inoperável. Apertado de dinheiros até aos quarks, com um part-time extra curricular (numa lavagem automática) que ainda assim não permite o desafogo financeiro pretendido, antes lhe proporcionando mais humilhações, e confrontado com a finitude precoce, decide o que qualquer bom pai de família decidiria no seu lugar: produzir metanfetamina.
O primeiro episódio é um sopapo televisivo impossível. O senhor Vince Gilligan não anda a brincar com o que escreve, e os realizadores têm feito justiça às potencialidades (por vezes inacreditáveis) do argumento. Nem todas as séries criam com tanta eficácia o seu microcosmos de realidade enfabulada, sobretudo quando a esta se acrescenta uma dimensão de lucidez implacável e algo sinistra. Mas com um excelso Bryan Cranston [Emmy merecidíssimo!] vestindo a pele do conturbado protagonista Walter H. White, devidamente acolitado pelos irrepreensíveis Anna Gunn e Aaron Paul, o resultado só podia consistir em 7 episódios surpreendentes, de um magnetismo irresistível até ao último minuto. Desenganem-se aqueles que julgam que em 7 episódios ficam pontas soltas e tudo tem de ser precipitado e condensado. Bem pelo contrário: leva-se o tempo todo que é preciso para cada cena, dá-se o plano todo que é preciso a cada personagem e nunca em momento algum se perde o rasto à saga de Walter White. Vítima e criminoso com quem inelutavelmente se cria empatia, o desespero silente e a luta que empreende em face dele são o mais humano dos dramas.
Por comparação, quiçá injusta para ambas, apelido Breaking Bad de "Weeds para adultos". Não proporciona gargalhadas, não é soft nem ameniza o quer que seja para ser mais "consumível" e mantém sempre uma vaga aura de concreto razoável... mas a situação-limite das finanças familiares na ruína e a opção por sacrificar valores em prol de meios menos ortodoxos para o mesmo fim do "bem maior" da família estão lá. O resto da comparação prende-se com o ramo "laboral" escolhido pelos protagonistas. A grande diferença, porém, é que Nancy Botwin só há uma, Walter White pode ser o futuro desgraçado de qualquer um de nós.

Classificação -4,5 Estrelas Em 5

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