Crítica - Milk (2008)

Realizado por Gus Van Sant
Com Sean Penn, Diego Luna, Emile Hirsch, James Franco, Josh Brolin

A longa e ainda actual luta dos homossexuais pela igualdade de tratamento e oportunidades teve no polémico e libertino político Harvey Milk o seu expoente máximo, já que foi este senhor que abriu precedentes históricos inimagináveis, ao ter sido democraticamente eleito para um cargo político, depois de ter assumido publicamente a sua homossexualidade. Trinta anos depois da sua morte, o talentoso cineasta Gus Van Sant apresenta-nos “Milk”, um intenso drama biográfico que explora detalhadamente a vida e o legado deste autêntico ícone político da década de 70. O filme aborda os principais acontecimentos ocorridos na vida de Milk após este ter trocado o seu enfadonho emprego em Wall Street por uma vida livre de preconceitos em São Francisco. A partir daqui começamos a acompanhar o trajecto politico de Milk que, de vitória em vitória, consegue finalmente o seu grande objectivo, ser eleito para um cargo público de relativa importância. Acompanhamos também a sua vida pessoal, nomeadamente os seus casos amorosos de maior relevância e a sua importante convicção de igualdade relativamente aos direitos civis do Homem. No fundo, somos presenteados com uma história de esperança e perseverança que acaba por não ter um final feliz, um pouco à semelhança de outras histórias que também envolvem grandes figuras políticas dos EUA como Martin Luther King ou JFK.
Um dos grandes atractivos de “Milk” é o seu fabuloso argumento, da autoria de Dustin Lance Black, que, ao utilizar fundamentos de vários géneros literários, conseguiu criar um argumento muito amplo e bastante fiel à realidade que se mostra capaz de provocar fortes sentimentos e emoções nos espectadores. Na minha opinião, estamos perante uma narrativa praticamente perfeita que privilegia os detalhes e que aposta numa linguagem amplamente perceptível. É óbvio que o tema principal da história é a vida de Milk, no entanto, o enredo também nos leva numa viagem pelos movimentos sociais e homossexuais da época e pelas inúmeras jogadas de bastidores do mundo da política. Apraz-me ver que uma obra intrinsecamente ligada à política não aposta em diálogos e teorias demasiado intelectuais e triviais. Em “Milk” todos os discursos e conversas sobre os direitos civis e fundamentais dos homossexuais são facilmente perceptíveis e surpreendentemente interessantes já que, em nenhum momento, somos brindados com discursos chatos e repletos de filosofias idealistas sem sentido. É claro que o visionamento de “Milk” implica uma mentalidade aberta, pois uma pessoa preconceituosa e conservadora nunca poderá apreciar esta obra e esta história de vida que, acima de tudo, enaltece e fundamenta a igualdade entre heterossexuais e homossexuais. O argumento também retrata brilhantemente as relações amorosas de Milk, que nunca roçam o mau gosto, sendo sempre caracterizadas por uma paixão ardente moderada por uma simplicidade casual. No entanto, a grande força narrativa de “Milk” não reside na vida pessoal de Harvey, mas sim na sua vida profissional. O filme foca grande parte da sua atenção nos bastidores do movimento social que apoiava a aceitação geral da homossexualidade como um modo de vida idêntico ao da heterossexualidade. Ao longo do filme, este movimento é constantemente abalado pelas ideologias mais conservadoras e religiosas, mas com Milk no comando começa a assumir uma importância crescente na sociedade americana, arrastando-se rapidamente por todos os Estados. A partir de São Francisco, cidade talismã dos homossexuais e o grande ícone da liberdade de expressão norte-americana, começam a surgir as primeiras manifestações de apoio à causa da homossexualidade, um ruído encabeçado por Milk, que é prontamente atacado por vários políticos e celebridades da época, mas que após todos os ataque sofridos, consegue finalmente chegar ao poder público, fruto da enorme massa social que o apoia em diversos bairros da cidade. Infelizmente, o sonho de Milk em chegar mais alto foi interrompido por Dan White (Josh Brolin), um ex-politico caído em desgraça e rodeado pelo desespero. Em suma, “Milk” aborda na perfeição todas as lutas que foram travadas por Harvey e pelos seus companheiros na prossecução pela aceitação social dos homossexuais. É o legado que resulta dessa luta que deve ser ressalvado e devidamente apreendido pelo público, afinal de contas estamos perante uma história que inspira qualquer um a seguir as suas crenças e sonhos.

 

Quem conhece o trabalho de Gus Van Sant, sabe muito bem que este cineasta raramente emprega o seu tempo e talento em obras de fraca qualidade. “Milk” não é a excepção à regra e mostra-nos mais uma vez a genialidade e mestria de Gus Van Sant na realização. O seu talento e criatividade começam por vir ao de cima logo no inicio do filme, onde é revelado ao público o trágico final de Harvey Milk. Esta jogada de génio de Van Sant, em cooperação com o guionista Dustin Black, “obriga” o espectador a prestar atenção ao desenvolvimento do filme e a todos os seus aspectos para que possam entender melhor as razões que ditaram a morte do político. Este é só um dos vários exemplos da genialidade de Van Sant, mas a este juntam-se outras técnicas e momentos que só atribuem mais qualidade e criatividade ao produto final, falo por exemplo da inclusão de imagens da época e dos vários planos que o cineasta escolhe para captar da melhor maneira a atitude e a paixão de Milk pela sua causa. O elenco oferece-nos, no geral, uma prestação completa e forte a todos os níveis. A qualidade geral do filme não depende apenas da criatividade e valor do argumento e da realização, já que também é necessário um elenco que exteriorize a vontade do realizador e interprete na perfeição a história escrita pelo guionista. Este elenco faz exactamente isso, já que transmite vida, paixão e realismo a uma história que dependia desses três factores para singrar. Sean Penn dá vida a Harvey Milk e a sua performance é inegavelmente espectacular. Este experiente actor conseguiu assumir uma personagem homossexual na perfeição, sem demonstrar qualquer estereótipo e preconceito. Penn conseguiu transmitir ao público a paixão e perseverança de Milk, encarnando na perfeição o seu espírito combativo e esperançoso que fizeram do político uma autêntica lenda social. Na minha opinião, os elogios e prémios que tem recebido pela sua prestação são mais do que merecidos. James Franco protagoniza a grande surpresa do elenco. Este jovem actor dá vida a Scott Smith, uma das grandes paixões amorosas de Milk. A sua prestação é bastante emotiva e natural, o que eventualmente cria uma boa química entre a sua personagem e a de Sean Penn. Outro grande nome do elenco é Josh Brolin, que interpreta um dos vilões da história, neste caso o maior vilão porque a sua personagem (Dan White) foi responsável pela morte de Harvey. Tenho que dizer que o único aspecto negativo de “Milk” recai precisamente na construção desta enigmática personagem, já que nunca se percebe muito bem a sua evolução profissional e mental, no entanto, nada disto interfere com a prestação de Brolin, que é bastante competente. Estas três componentes principais (Argumento, Realização, Elenco) são acompanhadas por outras componentes de valor qualitativo idêntico, como é o caso da magnífica banda sonora da autoria de Danny Elfman ou do correcto guarda-roupa que veste adequadamente os intérpretes do filme
É impossível alguém ficar indiferente à qualidade e às mensagem de “Milk”. A magnífica realização de Gus Van Sant transmite na perfeição uma poderosa e emocionante história sobre a igualdade e a força de acreditar nos nossos sonhos, história essa que é brilhantemente exteriorizada por um elenco extremamente competente e talentoso. Aposto que a população homossexual irá adorar este filme, mas a população heterossexual com mentalidade aberta também deverá apreciar este filme, pelo menos por mim falo.

Classificação - 5 Estrelas Em 5

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3 Comentários

  1. Grande crítica. Fiquei com vontade de ver o filme.

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  2. Enorme Filme. Se Sean Penn não ganha o Óscar de melhor actor principal a academia perde ainda mais credibilidade. Tres vivas para Danny Elfman que merece um Óscar e um Grammy (deviam criar uma categoria só para ele :D) por esta BS.

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  3. Filme que incetiva o homossexualismo que é uma coisa tao triste , se passase apenas cenas deles lutarem pelos seus direitos estaria certo , agora cenas pesadas de sexo , uma merda de filme de bichaasdf

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