Crítica - Revolutionary Road (2008)


Realizado por Sam Mendes
Com: Leonardo DiCaprio, Kate Winslet, Kathy Bates e Michael Shannon

Baseado no romance de Richard Yates, “Revolutionary Road” apresenta-nos um casal igual a tantos outros, mas que no entanto tenta rumar contra a maré do destino e das regras ditadas pela sociedade. Frank e April Wheeler formam um casal regido pelos mesmos valores e interesses e que se conhece numa festa banal. Acabam por se apaixonar e mais tarde casam, mas com a condição de não deixarem de viver as suas vidas e nunca se deixarem cair no manto de retalhos que opera o conservadorismo, convencionalismo e comodismo da sociedade. Porém, April engravida e ambos decidem que o próximo passo é arranjar uma casa maior para viver, ao mesmo tempo que Frank arranja um emprego que vai contra tudo o que sempre desejou e April se força a tomar conta dos filhos em casa. À medida que o tempo vai passando e surge um segundo filho, ambos se apercebem que os seus sonhos não passam de uma mentira e que não conseguem escapar ao modus operandi da sociedade ocidental.
“Revolutionary Road” é um filme complexo e ousado que tenta fazer uma reflexão crítica ao modo de vida dessa sociedade. Frank e April representam todos os jovens que defendem que nunca irão deixar de perseguir as suas ambições e nunca deixarão de lutar pelos seus sonhos, mas que esbarram no casamento e nas exigências da vida familiar e profissional. O filme levanta inúmeras questões. Será que as pessoas são realmente felizes com a vida que levam? Deveremos optar pela família ou pela carreira profissional? Viveremos todos presos a uma sociedade que nos conspurca a liberdade e a criatividade, transformando-nos todos em autómatos conformistas? Questões complexas mas pertinentes.


Frank e April são a imagem perfeita de duas pessoas que se julgavam especiais e que nunca iriam ser como os seus antecessores. Frank e April são a perfeita imagem da decepção e da tormenta de quem vê a vida passar ao lado enquanto simplesmente luta para sobreviver. As regras ditadas pela sociedade são postas em causa e a concepção de família feliz é alvo de inúmeros questionamentos. Frank não quer ser o marido com o trabalho chato que vive apenas para sustentar a família. Mas a isso é obrigado. April não se conforma com a ideia de ser dona de casa e viver em função dos filhos. Mas a isso é obrigada. Imersos num mar de frustração que afoga qualquer alma, Frank e April vão então virar-se um contra o outro, desconhecendo a razão pela qual se deixaram mergulhar no quotidiano enfadonho e miserável da maior parte dos casais.
Como se percebe, os ânimos aquecem com o decorrer do filme e o duo DiCaprio-Winslet é obrigado a interpretar cenas de uma enorme carga emocional. E tanto um como outro são absolutamente excepcionais! Sam Mendes conta a história em função destas personagens e fixa a câmara nos dois protagonistas, por vezes como se de uma peça de teatro se tratasse. Este é um filme de actores e “Revolutionary Road” apresenta-nos algumas das melhores interpretações dos últimos anos. Winslet só não foi nomeada para o Oscar neste filme porque foi nomeada por “The Reader”; quanto a DiCaprio, não se percebe porque ficou de fora. Este é sem dúvida alguma o seu melhor papel desde “The Aviator”. A tensão emocional lê-se nos olhos dos actores e para além disso, Mendes conta a história com mestria, serenidade e coragem. Nota também para Michael Shannon que interpreta um homem aparentemente louco, mas que acaba por ser o único a visionar a verdade por trás da cadeia de mentiras. Como único a desafiar o funcionamento da sociedade, a sua personagem é imediatamente classificada de “louca”, algo que Mendes não introduz por mero acaso. “Revolutionary Road” é um filme que nos faz pensar e que transforma o “sonho americano” numa mentira e a “casa dos nossos sonhos” numa autêntica prisão. Um pouco à imagem de “American Beauty”, o que nos mostra que o realizador têm uma paixão mórbida por este tema. Mas “Revolutionary Road” não é uma cópia de “American Beauty” e pela sua coragem, perspicácia e ousadia, a última obra de Sam Mendes facilmente se afirma como um dos melhores filmes dos últimos anos.

Classificação - 5 Estrelas Em 5

2ª Crítica - AQUI
3ª Crítica - AQUI

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9 Comentários

  1. Até gostei do filme, mas para 5 estrelas!!!! Não concordo...

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  2. Ás vezes há filmes que nos marcam pelo simples facto de nos identificarmos com a temática e a mensagem que é transmitida. Foi o caso, para além de ser um filme com uma boa realização, uma história bem contada e excelentes interpretações. Confesso que também tenho um certo fascínio por filmes que abordam o lado trágico da vida... Mas aceito perfeitamente que possa não ser um filme que agrada imensamente a toda a gente. É daquelas coisas... Ou nos cai no goto ou não passa de um filme bom mas banal. Mas penso que merecia a nomeação para melhor filme do ano. Disso estou certo.

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  3. Aceito que te tenhas identificado com a temática do filme. Não nego que seja um bom filme, mas como disseste, banal e até corriqueiro. E, se este merece a nomeação para melhor filme, o que dizer do The Wrestler...

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  4. Ainda não vi o "The Wrestler". Mas estou com grandes expectativas!

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  5. Só o facto de terem juntado a dupla DiCaprio/Winslet novamente no grande ecrã já lhes garantiu o sucesso comercial e uma grande atenção mediática grátis. Mas nem disso precisavam porque o filme vende-se sozinho. É claro que em comparação com filmes como Benjamin Button ou Milk (Presumo também que Slumdog Millionaire se enquadra nesse grupo) não tem quaisquer hipóteses de competição qualitativa, porque sinceramente acho que não apresenta uma história original como os casos que referi anteriormente. Mas dentro do seu género até é bastante agradável.

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  6. Achei o filme bastante banal a abordar assuntos já por si cansados e sobre os quais já se meditou demasiadas vezes. A única lufada de ar fresco acaba por ser a introdução da personagem dita "louca". Consigo reconhecer quando é dito que é um filme de actores, porque é isso mesmo que ele é. As interpretações da dupla mencionada e do "louco" levam este filme a um nível suportável de outra forma não seria sequer um banal "passa-tempo". Seria tortura.

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  7. Eu pessoalmente achei o filme interessatíssimo, apesar de ficar com a impressão de que o livro deve ser superior. A Kate e o Leo continuam a ter uma química que transborda e contagia. São excelentes interpretações e todos nós um dia sentimos alguma daquelas coisas. Não me parece uma reflexão nada banal embora aconteça em todas as casas.

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  8. sem dúvida, um GRANDE filme! apaixonante, marcante, intrigante, revoltante, inquietante e muitos outros adjectivos acabados em "ante" ou não, definem este filme de Sam Mendes!
    excelentes interpretações de DiCaprio e Kate! soberba a personagem interpretada por Michael Shannon...

    saí da sala de cinema extremamente contente, por ter gasto tempo a ver um filme com algo a dizer... não mais um filme para "casalinhos apaixonados" que querem passar uma tarde a ver um filme romântico e a comer pipocas!..

    um filme marcante, que por abordar o conformismo, comodismo e tudo e mais alguma coisa que não nos deixa "ir mais além", de forma tão nua, crua e violenta, se torna apaixonante!
    uma realidade mais que exacta da sociedade dos dias de hoje!

    sem dúvida alguma, injustas as não-nomeações para melhor filme, melhor actor e melhor actriz!
    um dos melhores filmes dos ultimos anos! :D

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  9. 3 casais no filme. O que fica como mensagem é de que o casamento é uma prisão que acaba com os sonhos pessoais de cada cônjuge. É óbvio que aborda questões cotidianas do casamento, mas penso que o sentimento que nos abate no final, é de que o casamento não vale a pena. Penso que tudo na vida é uma escolha. Penso que nem sempre as coisas acontecem como gostaríamos. Mas penso tbm que nós podemos escolher qual vai ser nossa postura diante desses desafios diários. É dessa escolha que trará o sucesso ou o fracasso no casamento.Uma coisa é certa: a gente complica demais a relação e se importa demais com a opinião dos outros. Mas casar-se ainda vale a pena e fico triste porque penso que o filme mostrou completamente o oposto...

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