Crítica - Changeling (2008)

Realização: Clint Eastwood
Com: Angelina Jolie, Jonh Malkovich

Este é um daqueles filmes tão perfeitos, tão perfeitos, tão perfeitos que quando encontramos uma pequenita imperfeição nos sabe tão bem que não nos fartamos de a divulgar a quem passa. Pois é, Clint Eastwoodzinho, na parte em que o médico psiquiatra mostra a fotografia a Christine Collins, a fotografia não mostra as pessoas que estavam por detrás dela e do miúdo. Ah pois é! Só o olhar clínico das tickets poderia ter detectado semelhante lacuna.
Brincadeirinha… este filme, absolutamente genial e interpretado de forma soberba por Angelina Jolie (talvez só retiraríamos o batom encarnado que acaba por distrair um pouquinho), conta a história verídica de uma mãe solteira, dos anos 20, que apesar de só ter o filho na vida, o perde. O destino não poderia ter sido mais injusto, quando numa tarde de sábado em que havia prometido ao filho ir ao cinema, recebe um telefona e tem de ir trabalhar. Quando regressa a casa, esta mãe já não encontra o filho, Walter. O filme é excelente, as críticas aliás têm feito jus à beleza e fidelidade ao tempo, ao guarda-roupa, o bom gosto musical e de casting, só elogios. De louvar até algum humor conseguido na parte final, aquele "Silent Night" cantado por alguém preste a ser enforcado é simplesmente hilariante, apesar da gravidade do tema em questão.


Em relação à filosofia inerente ao filme, temos que é evidente um esforço para centralizar a impotência do cidadão comum, face à omnipotência do Poder Judicial. Mais até do que isso, espectador compreende o poder que os media exercem na sociedade e sob a opinião pública e restantes poderes. Os media que funcionam como uma espécie de contra-poder na sociedade. O poder do discurso mediático e a importância de o analisar. Não obstante, há que frisar o caso particular da personagem principal deste filme. É que Christine, apesar de tudo e de todas as vicissitudes, teve do seu lado alguma sorte e apoio. Ao contrário do que se tem escrito em muitas críticas, não se trata da luta de apenas de um cidadão. Ao longo de todo o filme, é evidente a impotência de Christine em relação a tudo, apesar de ter renunciado conformar-se ao longo do filme, temos de admitir que a história teria sido diferente, não fosse a ajudinha do reverendo Briegleb e claro, a boa vontade daquele advogado.
Outro tema explorado é a maldade, e a fragilidade das crianças, que enfrentam um mundo perigoso, que nunca estão em segurança. Um filme que pretende transparecer que de súbito a nossa vida pode tornar-se um inferno, num sofrimento só e angustiante, impotente… que nos consome. No fundo um changeling (mudança) que nenhuma mãe merece. No final, enforcam-se os assassinos mas nunca se recupera aquilo que se perdeu. Fica a esperança. A tal "Hope" com que Christine se despede de nós, no final do filme. Quanto a nós, pensamos que "Hope"poderia ter sido substituída pela palavra "Faith", já que a esperança foi coisa que Christine nunca deixou de ter ao longo de todo o filme e de toda a sua vida. Um filme excelente e imperdível mas perturbador, sobretudo para quem é mãe. E se fossemos nós? E se fossemos nós.

Enviar um comentário

1 Comentários

  1. Concordo inteiramente que o batom de Jolie e a sua sensualidade transbordante destoam do que se espera de uma mãe desesperada.

    ResponderEliminar

//]]>