Crítica - Camino (2008)

Realizado por Javier Fesser
Com Nerea Camacho, Carmen Elias, Mariano Venancio, Manuela Vellés

“Camino” de Javier Fesser assume aqui uma crítica à Opus Dei, uma instituição da Igreja Católica que pretende divulgar a mensagem de que podemos encontrar Deus no trabalho e na vida quotidiana. Esta obra espanhola ganhou seis Goya, os prémios mais prestigiados do cinema espanhol, depois de ter estado nomeado para sete.
A história de “Camino” é baseada em factos reais, mais precisamente na vida duma menina de 13 anos chamada Alexia González-Barros. No filme, Fesser dá o nome de Camino a essa menina, adquirindo assim o título da obra um duplo significado, o nome da menina e o caminho que ela vai percorrer até à sua morte. "Camino" é claramente uma censura à Igreja Católica e principalmente a essa instituição Opus Dei. Neste caso, essa instituição serve-se da doença de Camino para fazer dela uma mártir. O filme começa com os instantes finais da vida da menina, no quarto da clínica onde se encontra e onde estão uma ou duas dezenas de pessoas para assistirem à sua morte, por ela anunciada, como que a assistir à entrada da menina no reino dos céus. Depois, a história recua 5 meses atrás para nos contar todo esse caminho de Camino até à sua morte.


Fesser vai contra Deus, nomeadamente nos sonhos de Camino com Mr. Meebles, um ser extraordinário mas que tem um problema, o de não existir, criando aqui uma relação com Deus. No pesadelo de Camino em que ela é largada pelos pais e irmã no meio de uma estrada inóspita, Fesser recria o desespero da menina, originado pelo comportamento da sua família e principalmente da sua mãe que desiste logo à partida da filha para a oferecer a Deus. Camino sente-se desapoiada, sozinha e Fesser explora essa dor, esse sentimento atroz numa menina de 13 anos que mais do que tudo queria ter o amor de Jesus, um miúdo da sua idade. Aqui se cria a crítica construtiva do filme para com a Opus Dei que alegoricamente cria a relação amor a Jesus que supostamente Camino transmite ao padre, confundida por este já que esse Jesus é o miúdo e não a personagem religiosa.
As interpretações são muito boas mas é a de Nerea Camacho (Camino) que se destaca, estando completamente brilhante, fabulosa e angelical. A realização também é muito boa com Fesser a criar uma obra alegórica, chocante, cruel, onírica e contra a Igreja Católica, a Opus Dei e o fundamentalismo religioso em que a Espanha está mergulhada. “Camino” é polémico e inesquecível, é uma crítica ao fanatismo e obscurantismo religioso mas é também uma reflexão ao amor e à redenção humana.


Classificação - 4 Estrelas Em 5

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11 Comentários

  1. No Post onde recomendei alguns filmes para o Domingo de Páscoa,um dos nossos leiores perguntou qual é o filme que actualmente reune um maior desprezo do Vaticano e tu Álvaro acabaste por dar a resposta. Na minha opinião, Camino roubou o estatuto de Filme Mais Odiado Pelo Vaticano ao Código de DaVinci e a explicação salta à vista.

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  2. Isso mesmo JT.
    E também é muito melhor filme que o Código de DaVinci.

    Abraços

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  3. muito lindo esse filme...

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  4. Extraordinário em todos os sentidos!
    Concordo com todos os aspectos referidos na crítica, sendo que a única coisa que alteraria é a cotação, de 4 para 4,5/5, pois este filme roça mesmo a perfeição.

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  5. Manipula os momentos mais dolorosos de uma família bem real, distorce esses momentos, e apresenta uma história completamente oposta dos factos que realmente ocorreram, atacando as convicções desses pais, irmãos e filha, que morreu com uma doença terrível aos 14 anos...
    Realmente muito lindo...

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    1. Realmente, o autor desse filme coloca a sua visão e distorce a história real dessa família. Antes de ver o filme eu li o livro que conta a história de Aléxia (Camino) e só assim pude ver como o autor coloca a sua visão de fé, de Deus, atacando o que ele não entende...

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  6. Se for pra ganhar um prémio de deturpação da vida real mereceria facilmente. É bem produzido, mas claramente se vê a má fé que quem fez ao inventar coisas sobre a vida das pessoas para fazê-las parecer ridículas. Mais um filme para aumentar o preconceito entre as pessoas.

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  7. Dentre tantas introduções bizarras, fica parecendo que a mãe matou o filho Alfredo quando bebê e que o pai o deixou partir. Esse mesmo Alfredo, que estava presente na morte da irmã, se disse entristecido ao ver que inventaram que a irmã teria morrido sob aplausos. Se serviu de alguma coisa foi para eu conhecer a surpreendente é verdadeira história e ao contrário dos mentores do filme eu tenho admiração por aqueles que têm a força que eu não tenho.

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  8. achei uma obra prima! tão pesado e tão leve!

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  9. Filme incrível. Tão crítico e delicado ao mesmo tempo. Atriz maravilhosa como intérprete.

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