Crítica - O Ultimo Ano em Marienbad (1961)


Realizado por Alain Resnais
Com Delphine Seyrig, Giorgio Albertazzi

Filme extremamente complicado de perceber, sinceramente deixo aqui esta critica para ver se alguém me ajuda a perceber melhor este filme de Alain Resnais (famoso realizador francês da Nouvelle Vague). Antes de mais não sou nenhum especialista em Resnais (penso que este foi o terceiro filme dele que vi até agora), em comparação dentro do género sempre preferi Godard, Truffaut ou Buñuel, pela simples razão que estes três tem filmes muito bons e acessíveis ao espectador médio.
Voltemos ao filme, existem três personagens principais, uma mulher que parece ser objecto de desejo de um homem e o seu suposto marido. O nome destas três personagens nunca é apresentado no filme, o mesmo acontece com o local onde elas estão. Um majestoso palácio barroco com uns grandes jardins e com uma simetria clássica perfeita mas cheio de ilusões ópticas estranhas (quadros tromp d'oeil, arvores sem sombra, empregados do palácio silenciosos, uma serie de jogos que os 'hospedes' usam para passar o tempo). Estas três personagens estão rodeadas de outras pessoas e empregados que se comportam de forma ainda mais mecânica que as estatuas do jardim. O próprio cenário é talvez o actor principal do filme, parece ter saído de um sonho e segundo o wikipedia, o filme foi filmado em dois castelos da Baviera (Marienbad está na Republica Checa). No filme é uma espécie de hotel de grande luxo para as personagens que parecem ser da alta sociedade mas que parece cada mais irreal saído do sonho conforme se avança no filme. A história começa e continua com a pergunta do primeiro homem à mulher: 'Não nos encontramos em Marienbad o ano passado? Deixa o teu marido e vamos fugir daqui. A mulher responde não, embora não evite o homem no palácio que continua a fazer a mesma pergunta repetidamente e por vezes mostrando fotos desse eventual encontro. A mulher responde sempre que não mas sem disfarçar o fascínio (ou possível recordação) pelo homem. Por vezes o passado aparece em flashbacks que ela se recusa em aceitar.
Aliás aqui o conceito de tempo não é linear como o próprio espaço. Por vezes parece que estamos a voltar ao passado para voltar ao presente e o futuro parece a repetição do passado como também é difícil separar aqui o que é a memória do que é o presente, o mesmo acontece com o próprio espaço. A própria existência das outras personagens parece mesmo irreal, incluindo o marido, A única personagem que parece mesmo existir é o amante e por vezes a mulher e as estátuas do jardim. Interpretar este filme é realmente complicado: Será uma história sobre o existencialismo (Sartre)? Apenas a descrição de um sonho? Sobre a memória e a sua relação com o tempo e o espaço? Sobre a fuga da ilusão (Matrix, Truman Show)? O paraíso perdido que imaginamos ao existir e viver? Andei a pesquisar pela internet sobre este filme e ninguém se entende. Há quase tantas teorias de interpretação como pessoas a falar neste filme, apenas que quase todos consideram que é um dos filmes com mais classe de sempre e cuja forma se mantém actual e inimitável até agora na historia do cinema.

Classificação - 4 Estrelas Em 5

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4 Comentários

  1. Nunca vi o filme mas de acordo com a 3ª edição do "1001 filmes para ver antes de morrer" esta obra-prima "montava um assalto sangrento às entricheiradas assunções do filme narrativo interrogando e subvertendo cada aspecto da realização «correcta» desde a estrutura temporal, passando pela composição fotográfica e até ao desenvolvimento das personagens". Ainda de acordo com a mesma fonte as personagens têm nome. Delphine Seyrig é "A", Giorgio Albertazzi é "X" e Sacha Pitöeff é "M". Mas não te preocupes mais adiante afirmam "fábula indicifrável" e para finalizar que é uma evocação dos "trabalhos labirínticos da consciência e da memória".

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  2. Falou bem a Ana, da memória. Esta obra-prima de Resnais é sobretudo um exercício de uma memória. INDICIFRÁVEL? Sem dúvida, como um filme de Lynch. FASCINANTE? Muito. É um exercício de cinema para nos por a pensar. Memórias? Já o Tarkovsky o fez com o Zerkalo(O Espelho). Mas há que tentar compreender. E não é vendo o filme uma vez que se vai compreender.
    Este filme é o melhor filme do Resnais e quiça da própria nouvelle vague.
    Mas a compreensão do filme é impossível, são memórias do narrador, não sabemos se são verdadeiras ou só oníricas, e sobretudo não sabemos sequer o espaço e o tempo real da história.
    Narrativamente, um assombro. Nunca antes visto.
    Fotografia, nem vale a pena falar.
    E de resto....obra-prima.

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  3. Tenho este filme, aliás tinha mesmo que o ter! O que me agrada mesmo é o incompreensível...É um filme extremamente visual, arquitectónico. O som também me parece bastante importante , não tanto para perceber seja o que for, mas sim como parte desta composição plástica. A fonética aqui reforça as sequências espaciais, acompanha os planos. As expressões faciai dos actores também são um elemento desta composição, quase gráficos e estáticos, por vezes revelam uma total ausência de expressividade. O espectador é quase alguém que "caminha" pelo filme e vai apanhando coisas aqui e ali... concreto demais para parecer um filme.
    Para mim é um filme genial.
    (Quem gosta deste pode também gostar de Fellini Satyricon...não sei bem porquê)
    Joana G.

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  4. Karl Langerfeld Inspirou-se neste filme para fazer a coleçao de Verão 2011 da Chanel, inclusive o desfile foi realizadonum cenário inspirado nos Jardins do Palácio. Muito Lindo.

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