Crítica - District 9 (2009)

Realizado por Neill Blomkamp
Com Sharlto Copley, Jason Cope, Nathalie Boltt

As expectativas do público em relação a “District 9” eram extremamente elevadas. As intrigantes campanhas publicitárias que inundaram a internet contribuíram para o aumento da esperança do espectador e da crítica especializada num filme inovador e interessante, que pudesse surpreender os apreciadores de obras cinematográficas de ficção científica. A estreia norte-americana desta produção, dirigida por Neill Blomkamp e produzida por Peter Jackson, confirmou as grandes expectativas criadas e confirmou o aparecimento de uma das primeiras grandes surpresas do ano, agora, o público português pode apreciar a criatividade narrativa e o emocionante estilo cinematográfico de “District 9”.
No início da década de noventa, uma nave alienígena aterra em Joanesburgo, África do Sul, com um grupo de seres extraterrestres a bordo. Sem saber o que fazer a essas criaturas potencialmente perigosas, as nações de todo o planeta decidem enclausurá-las num gueto chamado Distrito 9, controlado pela maior empresa de fabricação de munições, denominada MNU (Multi-National United). Vinte anos depois, sem qualquer hipótese de regressar a casa, as criaturas continuam aprisionadas no Distrito 9, que entretanto se transformou num autêntico campo de refugiados. A única relação que os alienígenas mantêm com os humanos é vivida na clandestinidade, numa espécie de mercado negro, mas a MNU tem como objectivo a produção de uma arma de última geração e, para isso, envia ao local Wikus van der Merwe (Sharlto Copley), um agente cuja missão é estudar a tecnologia militar desenvolvida e transferir os alienígenas para um novo gueto, o Distrito 10. É então que, ao manusear um objecto extraterrestre, algo lhe acontece que altera a sua composição genética tornando-o numa espécie híbrida, esta transformação permite-lhe usar as tão cobiçadas armas, que para funcionarem precisam de ADN alienígena. Van der Merwe fica por isso sob custódia dos cientistas da MNU para testes laboratoriais e, depois de compreender o que lhe está a acontecer e conseguir escapar do laboratório, o agente conclui que o único possível refúgio é o Distrito 9, onde poderá encontrar uma forma de reverter o processo de mutação que está a acontecer ao seu corpo.


O apertado orçamento de trinta milhões de dólares, um valor extremamente baixo quando comparado com os orçamentos milionários de outras grandes produções norte-americanas, obrigou os produtores e os guionistas do filme a recorrerem constantemente à imaginação para criarem uma obra que pudesse competir com os elevados requisitos e desejos dos apreciadores do género que, nos últimos anos, têm-se habituado a obras visualmente magnânimes e impressionantes mas narrativamente débeis e aborrecidas. Neill Blomkamp comandou, com habilidade e destreza, os vários departamentos do filme, criando assim uma obra extremamente completa e interessante que deverá agradar à grande maioria dos espectadores.
A mentalidade comportamental da raça humana é explorada com pormenor e talento pelo argumento da obra. Através de vários monólogos e diálogos que nos são maioritariamente fornecidos pelo estilo extremamente criativo e praticamente documental da obra, somos presenteados com inúmeras informações que nos permitem analisar vários elementos de grande interesse, nomeadamente a influência negativa da mentalidade da raça humana nos comportamentos altamente repreensivos da raça alienígena. Inicialmente, os alienígenas são recebidos com surpresa e expectativa pelo mundo, no entanto, esses sentimentos positivos são rapidamente substituídos por sentimentos negativos de revolta contra os extraterrestres que entretanto começaram a revelar algumas atitudes extremamente perigosas que ameaçam a estabilidade social da África o Sul. As várias organizações governamentais competentes, principais responsáveis pela insatisfação alienígena e pelos seus comportamentos de risco, decidem separá-los da sociedade e encerrá-los numa verdadeira prisão que rapidamente se torna no sítio mais perigoso do mundo, onde humanos e alienígenas convivem em pleno estado de anarquia moral e social. Esta atitude governamental, claramente inspirada na atitude dos nazis em relação aos judeus, origina uma verdadeira sociedade clandestina que é comandada pela perversidade e ambição humana, estando as armas alienígenas no centro de todos os desejos humanos, algo extremamente plausível, tendo em conta o estado actual da nossa sociedade. A transformação acidental de Wikus num híbrido que se aproxima, fisicamente e mentalmente, de ambos os lados da barricada, desencadeia uma verdadeira reviravolta nos acontecimentos. O burocrata trapalhão e aparentemente insignificante transforma-se rapidamente na chave do conhecimento e do dinheiro para os vários humanos agrupados em agências governamentais (MNU) e bandos marginais, sendo portanto, uma reviravolta que incute interesse e acção à história. Outro momento de grande interesse da história é a aproximação de Wikus aos Aliens, já que a criação de uma relação de confiança entre elementos de ambas as raças demonstra a sua proximidade comportamental e sentimental.


O filme apresenta-nos vários efeitos especiais que são amplamente satisfatórios mas substancialmente simples, algo expectável, tendo em conta o baixo orçamento. Os pormenores estéticos são interessantes, nomeadamente o visual insectívoro dos alienígenas que está muito bem conseguido e o aspecto das armas extraterrestres que são genericamente semelhantes às recriadas em outras obras do género. A grande força do elenco é Sharlto Copley, um actor extremamente competente que carrega a história do filme às costas. A sua performance é verdadeiramente interessante e agradável. Esta produção é surpreendente e refrescante. “District 9” é um exemplo para o género de ficção científica, mostrando aos seus apoiantes e seguidores que não é preciso um grande orçamento para criar uma obra cinematográfica de luxo.

Classificação – 4,5 Estrelas Em 5

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4 Comentários

  1. Que filme fantástico. Que bela metáfora sobre a condição humana. 5/5

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  2. Uma valente surpresa! Cria inveja a super-produções do género!

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  3. Vi, gostei. Apesar de achar o terceiro acto muito mais fraco que os anteriores.

    4/5

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  4. Este é daqueles que ando a uma serie de meses para ver mas depois de ler esta critica de amanha não passa...

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