Crítica - Capitalism: A Love Story (2009)

Realizado por Michael Moore

As maiores potências económicas da actualidade foram inegavelmente afectadas pelas devastadoras consequências financeiras do enorme colapso da economia internacional, no entanto, essas grandes potências económicas foram indirectamente responsáveis pelo agravamento e pelo desenvolvimento deste colapso que foi provocado por inúmeros responsáveis de inúmeras classes e nacionalidades. As consequências sociológicas e psicológicas que esta crise económico-financeira provou nos norte-americanos, um dos povos mais afectados pelo colapso, são agora abordadas por Michael Moore em “Capitalism: A Love Story”, um documentário extremamente acutilante que infelizmente, sobrepõem o sensacionalismo à imparcialidade.
A ausência de “Capitalism: A Love Story” da famosa lista dos pré-nomeados ao Óscar de Melhor Documentário não é uma coincidência, todos sabemos que todos os anos, os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, escolhem os documentários que melhor exprimem o verdadeiro espírito informativo deste género, é verdade que num passado recente, Michael Moore arrecadou duas nomeações para este prémio, uma das quais resultou numa vitória, no entanto, esses dois documentários, "Bowling for Columbine" (2002) e "Sicko" (2007), obedeceram aos critérios de selecção da Academia porque, apesar das suas polémicas características, conseguiriam informar o espectador sobre questões extremamente pertinentes, algo que “Capitalism: A Love Story” não consegue fazer. À semelhança de "Fahrenheit 9/11" (2004), “Capitalism: A Love Story” é um hino à polémica e à destabilização, características que obtêm receitas nas bilheteiras e atenção na imprensa mas que não resolvem nenhuma questão. As informações contidas neste documentário são extremamente sensacionalistas e em nenhum momento contribuem para uma explicitação concreta desta grave crise internacional, no entanto, à luz da subjectividade narrativa deste documentário, cada espectador é livre de concordar ou discordar com as informações apresentadas, consoante a sua opinião pessoal. A análise efectuada por Michael Moore é, na minha opinião, bastante deficitária porque se restringe ao culpado mais conhecido do colapso financeiro, ou seja, as grandes corporações norte-americanas, esquecendo por exemplo, a esmagadora percentagem da população norte-americana que desde a última grande crise económica (1929), tem vivido acima das suas possibilidades, desejando tudo aquilo que materialmente não pode adquirir numa tentativa fútil de prosseguir o sonho americano. As grandes corporações norte-americanas são culpadas mas não são as únicas responsáveis pelo actual estado da economia, no entanto, ao visionarmos este documentários ficamos com essa sensação que simplesmente não corresponde à verdade, assim sendo, é impossível obtermos um documentário verdadeiramente informativo quando não são explorados outros culpados, outras justificações ou outras versões menos populistas e mais académicas.
O desenvolvimento do documentário é composto por algumas exposições críticas dos fundamentos históricos e actualistas do capitalismo, exposições que infelizmente pecam pela falta de objectividade e imparcialidade. A história romântica prevista no título desta produção é exteriorizada numa análise da relação dos norte-americanos com o capitalismo, uma relação duradoura que remonta ao inicio do século passado e que tem conhecido alguns altos e baixos ao longo dos tempos, atravessando actualmente uma fase claramente negativa. Os exemplos fornecidos pelo cineasta para justificar o desgaste do modelo económico são extremamente tendenciosos, sendo amplamente incorrectos em alguns casos, uma situação que exemplifica novamente a falta de neutralidade deste cineasta que utiliza o seu sentido crítico para manipular a realidade. Ao longo das explicitações das consequências da falência capitalista na economia nacional e internacional, Michael Moore comete o grave erro de vitimizar as classes sociais mais baixas e vilanizar as classes sociais mais altas, uma atitude populista que poderá incorrer numa injustiça social porque nem todos os pobres são inocentes e nem todos os ricos são culpados, uma atitude que também poderá descambar para uma construção comunista, amplamente criticada pelos norte-americanos. As opiniões de Michael Moore são traduzidas em críticas destrutivas, quando neste caso, era altamente aconselhável uma abordagem baseada em críticas construtivas que apresentassem soluções que os norte-americanos pudessem reivindicar publicamente, como conseguiu fazer em “Sicko” ou em “Bowling for Columbine”, “Capitalism: A Love Story” é portanto uma expressão activista substancialmente vazia e polémica.
O colapso financeiro não representa o colapso do capitalismo, uma ideia que infelizmente não é vincada por Michael Moore que apela ingenuamente à extinção de um modelo que actualmente se encontra em processo de remodelação, uma reestruturação que deverá evitar crises desta magnitude no futuro. O sensacionalismo de “Capitalism: A Love Story” era dispensável, os norte-americanos precisavam de um documentário mais abrangente e mais fiável que lhes fornecesse uma explicação concreta dos acontecimentos que levaram ao colapso e não um verdadeiro desfile de polémicas inconfirmáveis que aumentam a destabilização e a desconfiança dos consumidores numa época de recuperarão do espírito competitivo. Os espectadores nacionais não encontrarão grandes elementos de interesse neste documentário que é claramente direccionado à população economicamente frustrada dos Estados Unidos da América.

Classificação – 2 Estrelas Em 5

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1 Comentários

  1. Desculpe pela discordância, mas sua habilidade em manipular o que prefere ver te impede de perceber a realidade demonstrada no filme (a solução da empresa democrática, cujos donos são os empregados sequer foi citada e a alusão a um Cristo capitalista também não).
    Sem dúvida, o filme amplifica alguns aspectos, para aumentar a ênfase no que quer demonstrar, porém, absurdos como lucrar com a morte de empregados não parece, nem de longe, ser uma atitude ética, na realidade o ser humano é tratado como mera fonte de lucros, este o problema principal.
    Os responsáveis também foram claramente enunciados: a própria população, movida pela cobiça de estar na 'elite' monetária.

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