Crítica - Tetro (2009)


De Francis Ford Coppola
Com Vicent Gallo, Maribel Verdú, Alden Ehrenreich

Num momento histórico em que o cinema se auto-cita permanentemente, Coppola regressa com o seu segundo filme a preto e branco (o primeiro foi "Rumble Fish" em 1983) entrecortado por momentos de um bailado a cores de uma realmente extraordinária beleza plástica. Mas não é só a obra anterior de Coppola e o cinema que são evocados neste filme, a música, através da cruel personagem do pai de Tetro, o maestro Carlo (Klaus Maria Brandauer), a dança, através da namorada de Tetro, a dedicada Miranda (Maribel Verdú), e ainda pelas passagens do bailado The Tales of Hoffman, a escrita pela figura de Tetro (Vicent Gallo) e até a própria critica, na humilhada Alone (Carmen Maura) são convocadas no filme. O jovem Bennie (Alden Ehrenreich) procura o seu irmão Angelo em Buenos Aires e aí, ao reencontrá-lo, inicia uma longa caminhada pela história da sua família e pela sua própria trilhando caminhos sinuosos e muito obscuros. São as tensões freudianas a base da narrativa, as emoções reprimidas ou desviadas, a rivalidade, o ódio disfarçado, a prepotência, o abuso emocional dentro das relações familiares, o cerne da história aqui contada.


O filme, que beneficia bastante com a lindíssima fotografia de Mihai Malaimare Jr, é também profundamente teatral na composição dos quadros, no jogo de luzes que muitas vezes se foca numa personagem como em cena, na própria tensão dramática e ausência de narrativas paralelas, na contracena plena de emoção e nos muito significativos diálogos. Ao assistirmos a "Tetro" temos a sensação de recuarmos muitas décadas e regressarmos a filmes como "Rocco e i suoi fratelli" (1969) de Visconti, um tempo em que o cinema procurava, muito mais do que nos dias que correm, propor uma reflexão a partir da arte, uma reflexão nestes dois filmes em particular sobre tudo o que não se diz dentro de uma família e o modo como isso condiciona irremediavelmente o crescimento individual de cada um dos seus elementos.Para além do que já foi dito, Coppola consegue criar, uma vez mais, uma personagem masculina que perdurará, o escritor Tetro, pelo carismático Vicent Gallo.

Classificação - 5 Estrelas Em 5
Escrito por Ana Campos

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2 Comentários

  1. não é 5 estrelas, mas é um bom filme.
    3,5 estrelas

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  2. Considerei um dos melhores filmes do ano, principalmente, porque a excelente interpretação dos atores enriquecem demais a psicologia dos personagens.... Na verdade, Tetro é muito mais um filme sobre difíceis relações familiares, mas trata da dor de existir, utiliza a psicanálise como uma possível ferramenta que ajuda a entender a densidade e os dramas dos seus personagens.

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