Crítica - The Road (2009)

Realizado por John Hillcoat
Com Viggo Mortensen, Kodi Smit-McPhee, Charlize Theron, Robert Duvall

Já muitas vezes foram aqui elogiadas as qualidades e os méritos da fantástica trilogia “The Lord of the Rings”. Um dos inquestionáveis méritos dessa trilogia foi também o de revelar definitivamente Viggo Mortensen para o mundo da Sétima Arte. Anteriormente um actor discreto e com pouco relevo na alta-roda do cinema, com a trilogia de Frodo e do anel Um, Mortensen passou a ser reconhecido como um dos mais ilustres valores desta tão amada arte. A partir desse momento, mais realizadores e produtores começaram a apostar na versatilidade e sobriedade deste actor, que aos poucos vem demonstrando o grande profissional que é. E quem agradece é o espectador. “The Road” não é um filme para os mais sensíveis ou fracos de coração. Mórbido, pessimista, negro e imensamente melancólico, “The Road” afirma-se como uma obra ambiciosa, corajosa e infinitamente realista. E verdade seja dita, a história e a personagem assentam que nem uma luva a Viggo Mortensen.


Ao longo que quase duas horas de película, o espectador é presenteado com um autêntico e fenomenal tour-de-force de Mortensen, que assim carrega quase todo o filme às costas. E com um sucesso tremendo, ao alcance apenas dos melhores actores de Hollywood. A narrativa simples e linear relata-nos a forma como um homem (Mortensen) e o seu filho (Smit-McPhee) tentam desesperadamente sobreviver num mundo que tem os seus dias contados. Situada num espectacular, aterrador e espantosamente realista cenário pós-apocalíptico, a narrativa apresenta-nos os últimos dias de vida de um planeta Terra em auto-destruição. Praticamente todos os animais pereceram e os restantes membros da espécie humana tentam, a todo o custo, evitar o mesmo destino. Para sobreviver, os humanos vêem-se obrigados a recorrer a brutais técnicas de canibalismo e passam a funcionar sob um certo regime de “salve-se quem puder”, onde tudo, desde o roubo à violação em todos os sentidos, é considerado válido. E é assim, num mundo putrefacto, sem regras e numa sociedade que depressa esquece todo e qualquer moralismo social, que a personagem de Mortensen se concentra num único e obrigatório objectivo: proteger o seu filho, último vestígio de uma pureza fatalmente desaparecida, a todo o custo.


Cru, duro e desconcertante, “The Road” prima pelo seu arrojo visual e por uma sólida narrativa, composta por personagens credíveis, profundas e com as quais o espectador facilmente se identifica. Estamos perante um dos melhores filmes do ano que findou. Uma obra séria, intensamente dramática e que, uma vez mais, apela à consciência de que mais não somos do que animais disfarçados numa teia de socialismo moralista. Uma teia que facilmente se quebra perante o caos. De certa forma, “The Road” faz lembrar “The Dark Knight” – filme que, através da brilhante personagem do falecido Heath Ledger, nos transmitia esta mesma mensagem – e também “Blindness”, de Fernando Meirelles (obra que igualmente critica a nossa falsa superioridade enquanto seres vivos). Como facilmente se percebe, “The Road” não é um filme para se ver de ânimo leve, mas antes para se mergulhar nestas questões e nelas reflectir. Como tal, poderá não agradar à grande maioria, mas acreditem que é bem melhor do que qualquer comédia romântica presente nas salas de cinema da actualidade. Destaque para a temerária realização de Hillcoat e para a banda-sonora que perfeitamente marca todo o compasso emocional da história.
A apontar defeitos, talvez apenas o facto da sua narrativa linear e monocórdica poder aborrecer alguns espectadores mais habituados a rasgos de adrenalina frenética. Para além disso, nunca é explicada a forma como o apocalipse despoleta, algo que poderia facilmente ser demonstrado numa imagem ou num fotograma. Se bem que este facto em nada prejudique a qualidade da película. Em suma, “The Road” é uma boa aposta para os amantes do cinema indie. Um filme sobre pessoas, suas emoções e suas escolhas de vida.

Classificação - 4 Estrelas Em 5

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9 Comentários

  1. Adorei este filme. recomendo vivamente.

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  2. Parece a história de um homem que resolveu amar algo além de si, quando tudo parecia perdido. e como amor e esperança andam de mãos dadas, ele ganha como prêmio a certeza de que fez aquilo que era preciso para manter a chama do amor acesa em si e no seu dear boy.
    Discordo do autor do texto quando questiona uma suposta superioridade humana, in fact, somos superiores a todos os animais que nos cercam, mesmo quando cometemos as piores atrocidades, simplesmente por que se nós podemos cometê-las, também somos capazes daquilo que dá sentido as nossas vidas, e o personagem principal do filme mostra isto de forma extremamente singela. No mais, parabéns e Pax Dominus!
    Vanderlei Júnior. vanderzulu@yahoo.com.br

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  3. The Road é muito mais que uma história pós-apocalíptica é mais uma história familiar onde se demonstra os riscos que se tem de forma a manter a família feliz, um exemplo a seguir. E não é um blockbuster, aliás, foge completamente a esses panoramas possuindo soberbas interpretações e uma extaordinária banda-sonora.

    Abraço
    Cinema as my World

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Na minha opiniao existe neste filme algo muito profundo,algo que ultrapassa a própria razão.o rio vai pelo caminho mais fácil, o corpo tende a encontrar o equilibrio, a corda arrebenta pela parte mais fraca.se a natureza é assim porque é que homem há-de ser diferente.alimentar primeiro o corpo e depois a alma!sinto que existe uma forte carga religiosa neste filme.a comparação com passagens na biblia tornam-se inevitáveis.o apocalipse aparece do nada a ferros e fogo(sodoma e gomorra)dando fim a um ciclo para uma humanidade que perdera toda a sua humanidade,não há volta a dar, é essa a ideia que fica.até a propia natureza entra no complo, como é possivel toda a natureza padecer quase em simultanaeo,dando a ideia de que o fim esta mesmo para vir, tornando a terra inabitavel e hostil.o homem simplesmente faz o seu papel, que é o de marioneta,faz aquilo para esta programado,sobreviver a todo custo, nem que isso implique destruir-se.o derradeiro teste veio com a chegada do velho.quase cego,com dificuldade em deslocar-se,sem força, moribundo, parace uma presa fácil, ou não!?o velho para mim significa a personificação de DEUS, não foi por acaso que tira a lata de fruta e a bebe em frente do pai e do filho esfomeados, foi um teste!ou mesmo o assunto do suicidio,aos olhos da igreja o suicidio não é bem visto!e o facto de ele mencionar um filho, que ja tinha morrido,e de não querer explicar mais nada, o filho era jesus!?partilham comida mas no fim o pai não estende a mão ao velho, setenciando para uma morte quase certa, esse foi o seu unico erro,levando a uma morte digna com absolvição.o jovem signica a pureza, pureza essa necessária para dar um novo ciclo a humanidade.a familia que ele encontra no fim não são mais do que anjos, anjos que estiveram sempre presentes e que os acompanharam sempre durante a viagem.objecto de atenção é o simples facto de a mulher, mãe do menino ter sido o elo mais fraco, é comum na religião a mulher ser infriorizada em relação ao homem.em relação a familia que acolhe o menino, temos uma familia perfeita,homem,mulher,um casal e um cão.o homem transportava uma arma, era ele quem defendia a familia, o cão dava a ideia de segurança, de confiança(afinal ainda não o tinham comido).mas para quem quer passar despercebido, um cão sempre ladra, e as crianças são sempre imprevisiveis.no fim fica a esperança...

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  6. Sou professor de sociologia. Quem quiser, leia textos de Norbert Elias sobre o processo civilizador e a descivilização que tenho certeza que vão pirar assistindo ao filme. Era o que me faltava para discutir algumas teorias do sociólogo do século XX que mais fez minha cabeça.

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  7. Um bom filme e uma boa critica.

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  8. Não concordo com a critica em alguns pontos. Começo pelo maior erro gritante que qualquer espectador atento gostaria de perceber, que é como foi (suavemente) dito no fim pela critica, a falta de uma explicação para cenário devastador. Teria dado um argumento bem mais forte. Foi decepcionante a pouca presença de Charlize Theron que considero excelente actriz, que quanto a mim, não teve aproveitamento e destaque que se merecia. Ela que já não é nenhuma novata neste tipo de filmes como mostra por exemplo em "North Country". A história desta personagem foi tão fraca que devia ter sido mostrado a força e a coragem de uma mãe para com a familia. Desaparecer no abismo mostrou falta de criatividade e outro final que não este iria certamente dar mais profundidade ao filme. O final do filme também desiludiu-me na medida em que não transmitiu coisa nenhuma, juntar-se simplesmente a outra família não traz esperança nem qualquer significado ao drama. Aspectos positivos, a interpretação de Viggo que como foi dito é mesmo ao jeito dele como em “The Lord of the Rings" e não desiludiu, os cenários estavam fantásticos e realistas. A relação pai-filho foi bem construída. Quanto à tematica sobre os valores da vida, distinguindo o certo do errado mas que em casos extremos como neste caso de sobrevivência nem sempre fazendo o certo é o caminho porque a ingenuidade levaria-os à morte numa questão de tempo. Penso que transmitiram muito bem essa mensagem. Filme que vale a pena ver mas também não é brilhante. Nota 3,5

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  9. Parabéns pelo site que realmente me agradou.
    Sobre o filme realmente, ele tem toda uma questão de interpretação em termos do real significado.
    Em minha visão o filme foi perfeito tanto na fotografia quanto na atuação de Viggo que realmente se afirma como um dos grandes atores de sua época, ele conseguiu captar a essência de um personagem que estava sincronizado com o contexto do filme.
    O único cisco que chega em alguns momentos a incomodar o desenrolar dessa história é a falta de coerência do menino que parecia estar indiferente a tudo o que acontecia ao seu redor, como se o ser humano não fosse nem um pouco influenciado pelo ambiente que o cerca. O personagem em determinados momentos parecia ter uma inocência exagerada, principalmente para uma criança que está mais apta para se adaptar a um meio como aquele, tanta sensibilidade realmente tornava o menino incoerente.
    Ainda que o filme fosse ruim (o que não é verdade) valeria a pena assistir pela atuação de Viggo Mortensen.
    Nota 4.0

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