Crítica - A Serious Man

Realizado por Ethan e Joel Coen
Com Michael Stuhlbarg, Richard Kind, Fred Melamed

Após “Burn After Reading”, Ethan e Joel Coen regressam às comédias negras com “A Serious Man”, uma longa-metragem que é mais dramática e mais polémica que a sua antecessora, mas que é igualmente cativante e interessante. Larry Gopnik (Michael Stuhlbarg) é um inofensivo e simpático indivíduo que sempre viveu de acordo com a expectativa generalizada, tendo uma vida medianamente feliz, pelo menos até ao dia em que a sua esposa o troca por outro homem e a sua credibilidade como professor de física aplicada é posta em causa. Subitamente, tudo à sua volta parece ruir e ninguém compreende a dimensão do seu desespero e, para onde quer que ele se vire, não parece haver salvação à vista nem ajuda prestes a chegar.


O argumento de “A Serious Man” é bastante aliciante porque nos oferece vários elementos de qualidade, assim sendo, tanto podemos apreciar os devastadores efeitos que as inúmeras tragédias têm na existência do protagonista, como podemos analisar os pormenores e as mensagens que a narrativa nos transmite. A história do protagonista está recheada de acontecimentos desastrosos que lhe dificultam o quotidiano, entre as principais tragédias encontramos os seus problemas matrimoniais, laborais e morais que o colocam numa situação complicadíssima, problemas esses que aparentemente não têm solução possível mas, ainda assim, o protagonista tenta encontrar respostas para todas as questões que o atormentam junto da sua religião, uma situação que desencadeia uma profunda reflexão sobre o papel da religião no quotidiano dos indivíduos e a capacidade que tem de os confortar e aconselhar. O judaísmo é a religião que é destacada em “A Serious Man”, no entanto, podemos adaptar esta abordagem às restantes religiões mundiais que, inclusivamente, são mais populares, como por exemplo, o cristianismo e o islamismo. Os diálogos entre o protagonista e as figuras judaicas são extremamente interessantes e demonstram na perfeição as diversas vertentes e abordagens do aconselhamento religioso e como esta afecta as nossas decisões. Os restantes diálogos não religiosos também são fantásticos e demonstram na perfeição as inúmeras falhas da sociedade e da humanidade. O argumento também elabora uma crítica à sociedade através dos inúmeros comportamentos inadequados dos intervenientes da história que nunca se preocupam com terceiros, não mostrando qualquer sentimento verdadeiro de entreajuda, nem mesmo os rabinos, uma situação que contrasta com a sua aparente seriedade e humanidade, mas como “A Serious Man” demonstra na perfeição, as aparências enganam e não revelam a verdadeira natureza ou mentalidade dos indivíduos. O argumento também explora os principais defeitos da sociedade através das inúmeras personagens da história, assim sendo, somos confrontados com exemplos de adultério (Judith Gopnik), autoritarismo (Judith Gopnik), irresponsabilidade (Danny Gopnik), falsidade (David Kang), preguiça (David Kang) ou juízo errado (Sarah Gopnik). As tragédias iniciais acabam sempre por ser ultrapassadas mas nem sempre através dos comportamentos mais correctos ou justos, no entanto, mal os primeiros problemas são parcialmente resolvidos a irónica conclusão do argumento apresenta outras problemáticas ainda mais graves que colocarão o protagonista numa situação ainda mais delicada.


À margem da história principal somos confrontados com pequenas histórias secundárias que conduzem à mesma conclusão que a principal, mas que exibem situações objectivamente diferentes mas subjectivamente idênticas, assim sendo, dentro das histórias paralelas tenho que destacar a de Danny Gopnik, um pequeno drogado que tem alguns diálogos fantásticos com um rabino que é completamente o seu oposto. “A Serious Man” também nos apresenta alguns pormenores deliciosos ao longo do seu desenvolvimento, como por exemplo, pequenas críticas ao quotidiano judaico e à comunidade em questão, uma comunidade individualista e incoerente que se isolou completamente da sociedade norte-americana. O brilhante argumento da autoria de Ethan e Joel Coen é cativante e caótico, misturando habilmente intervenções irónicas com reflexões profundas sobre os elementos religiosos e sociais que compõem a nossa sociedade e sobre o verdadeiro significado de um homem sério, uma definição que segundo a história só pode ser parcialmente aplicada ao homem que é responsável pelo fim do casamento do protagonista mas que tenta emendar essa situação.


A direcção de Ethan e Joel Coen também é perfeita, outra coisa não se esperava desta fantástica dupla que já nos habituou às suas obras de qualidade. As técnicas utilizadas pelos cineastas são bastante simplistas, mas retratam na perfeição a história que não precisava de grandes inovações criativas para ser contada na perfeição. O elenco de “A Serious Man” é competente mas o principal destaque vai inteiramente para Michael Stuhlbarg, um actor que nos oferece uma magnífica performance porque interpreta na perfeição um homem desesperado pela injustiça da realidade. O jovem Aaron Wolff e o veterano Richard Kind também brilham no elenco secundário. A fotografia de Carter Burwel é espectacular e as sonoridades da autoria de Roger Deakins são igualmente magníficas.


A nomeação de “A Serious Man” ao Óscar de Melhor Filme não é surpreendente porque esta longa-metragem merece esta distinção, muito embora seja praticamente impossível conquistar a almejada vitória. O inteligente humor negro e a sagaz ironia politica e religiosa de “A Serious Man” transformam esta produção numa comédia negra altamente recomendável que também nos apresenta uma reflexão bastante interessante sobre a sociedade contemporânea.


Classificação – 4,5 Estrelas Em 5

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23 Comentários

  1. o pior filme que alguma vez vi

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  2. ridiculo esse filme.... da um tempo!!!

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  3. Não é um filme para todos. É bom levar um amigo para testar o quanto ele é ignorante.
    Ótimo filme para amantes do cinema filmográficamente intelectual e que esteja preparado para vivenciar o que é a angustia de certos paradigmas humanos desde sempre.

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  4. Alguém me explica para que servem os primeiros sete minutos? E os outros noventa e oito minutos?
    Humor negro? Não acredito que um homem ceda a sua casa para entrar o amante. Morre o amante e o homem volta ao antigo lugar. Onde é que isto acontece?
    Nenhuma religião tem respostas - são todas uma grande hipocrisia mas, quem não sabe?
    Uma seca de filme e de coisas estúpidas, apesar dos críticos nos fazerem crer que; este branco é mais branco.
    Sepol Om

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  5. Nunca vi um tão horrivél como este. Como pode ter sido nomeado para um oscar?

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  6. Sofrível este filme. Péssimo!

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  7. Os filmes indicados ao Oscar realmente têm sido de péssima qualidade. E, os que ganham algo, pior ainda: Avatar, (não preciso nem assistir pra dizer que é um lixo), Guerra ao Terror (Filme pra sessão da tarde) e agora um homem sério. Esse último, sem comentários, terrível. Serve só pro cara ficar angustiado e indignado com o bobão do pratogonista. Se é pra ver um filme assim com "humor", então vou assistir "eu, eu mesmo e Irene", que é uma comédia de verdade e muito melhor.

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  8. Pra quem ficou na dúvida sobre aquilo no começo do filme:
    Pelo que entendi, aquele casal foi amaldiçoado por ter encontrado com o tal dybbuk (o velho). A mulher até fala isso. Então, a família do protagonista é descendente do casal amaldiçoado, sendo assim a maldição passou pra eles também. Todo mundo da família é fudido, o protagonista, o irmão dele, o filho dele também.
    Quando o filme acabou até fiquei na dúvida se tinha mais coisa, mas depois que pensei isso o filme começou a fazer mais sentido...

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. a diferença dos irmãos cohen pro cinema geral, é próxima dos irmãos marx pros comediantes de sucesso no brasil tipo pânico na tv.
    o humor é muito sutil, mas tem gente que só rí se tiver palavrão ou afronta de apelo racista, ou algum débil mental fazendo adolescente mela cueca rir.
    contudo o humor não serve apenas ao riso, ao contrário do que as "crianças" pensem.
    a maioria das pessoas ficam adultas de 15 anos pro resto da vida. grau de amadurecimento máximo, típico de quem assiste a rede globo.
    fazer o que?

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  11. sem falar na qualidade do filme.... O melhor de tudo são esses comentários no final... hahaha

    O filme é para poucos, é irônico e cheios de pequenas críticas, principalmente com a sociedade religiosamente ortodoxa. Daí vem os primeiros sete minutos. Acredito ser pura crítica e irônia... Não é para fazer tanto sentido mesmo. Na verdade, os diretores brincam o tempo todo com a nossa tentativa de dar sentido para coisas. O filme é uma sensibilidade especial... Muito bacana...

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  12. Essa vanguarda me envergonha! Tenho coragem de admitir que achei o filme uma bela porcaria sim! Fraco, inconsistente... a idéia pode até ter sido bem interessante, mas a concepćão ficou muito aquém do esperado...é como se eles tentassem ser um Wood Allem às avessas! Gosto de humor sutil, mas este honestamente é tão sutil que é transparente! Nem comparem isto com Fargo, pelo amor de Deus! Perdi um tempo precioso, onde poderia ter visto um filme do Billy Wilder, se quisesse humor de verdade!

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  13. Comédia? Ok, eu dei uma ou outra risada em algumas cenas...

    Na verdade nem sei se dá pra chamar isso de filme, se vc considerar que um filme deve ser uma história com começo meio e fim. É uma história só com meio... Lembra um pouco alguns filmes do David Lynch, mas sem as psicodelias nonsense...

    De qq forma, não recomendo. E isso não tem a ver com, como disse alguem acima, ser inteligente ou não. Tem a ver com o que você espera de uma história, e eu espero que uma história tenha coesão e não termine com um tornado.

    Sim, tem algum mérito... Vc fica tenso com a passividade do protagonista, acha graça... mas qual a justificativa para o início, e sobretudo o fim?

    Melhor só se acabasse com o sujeito acordando e descobrindo q era tudo um sonho... Genial...

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  14. Como uma resenha interessante de um filme tão bom pode atrair comentários de pessoas tão limitadas? O filme narra uma resposta possível.

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  15. Os comentários refletem justamente o que o filme transmite: as coisas que nos acontecem possuem o significado que damos a elas. O protagonista o tempo todo busca resposta em outros, mas ele próprio se mostra incapaz de interpretar a realidade em que se encontra. A mesma coisa o filme, pra uns nao tem significado algum, a outros já mostra muito.

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  16. curto os Coen, mas esse filme é um grande nada.

    o jeito como eles tentam mostrar como tudo rui ao redor do cara é incrivelmente maçante. Os filmes anteriores deles tiveram um feito melhor nesse quesito.

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  17. dei algumas risadas de tanto ser sem nocao algumas passagens do filme, pqp da pena do protagonista, quando o filme comecou realmente eu achei que seria tipo um "american beauty" mas na verdade soh tem o protagonista mais mediocre do mundo.

    Os koreano sao engracado.

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  18. Avaliar o "nonsense" é complicado.

    Parei para assistir um filme. Do meio em diante, antes de dormir com com sono, tentei entender o filme.
    Lendo a crítica, agora, fez um pouco mais de sentido.
    Principalmente com o comentário feito acima: "Não é para fazer tanto sentido mesmo. Na verdade, os diretores brincam o tempo todo com a nossa tentativa de dar sentido para coisas"

    É filme "cult", sem respostas, com margem à interpretações individuais. Cada um inventa a sua!

    Resumo: não sei se é bom ou não. Para o que eu estava preparado, ele é sonolento, depois que percebi que era filme filme de "mensagens", passou um pouco o sono....... mas não entendi p.. nenhuma tambem....

    deve ser bom..... tão dizendo tanto!!!

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  19. é um filme bom, mas tem que entender o contexto, pois é um filme muito judaico, e nao acho que o conteudo dele possa ser extrapolado a outras culturas, como o autor sugere. Alias, se nao me engano os Coens achavam que ao ia fazer sucesso por ser um filme yiddish.
    E ele nao deve fazer sentido mesmo. Lembrem-se da historia de Job, que também era um homem serio e sofreu desgraças sem motivo algum, e três amigos dele tentavam achar significado pra tudo aquilo, mas no fim deus fala que nao ha significado mesmo. Nesse sentido acho que é um filme que se aproxima da realidade, por nao dar nenhum significado aos eventos (em outro filme haveria algum significado, mas, na vida real o significado nao é intrinsico aos eventos, ele é dado pelas pessoas).
    Ate nos conselhos que o Gopnik recebe nao fazem sentido, e isso reflete uma face do judaismo, que foi a primeira religiao a aceitar que as coisas nao fazem sentido (eclesiastes e job). Nesse sentido o filme pode ser uma critica a religiao, mas nao a todas (as outras insistem em dar significado as coisas).

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