Crítica – Wittgenstein (1993)

Realizado por Derek Jarman
Com Karl Johson, Tilda Swinton, Michael Gough

Ainda que não seja das obras mais conhecidas de Derek Jarman, o famoso realizador de filmes como Blue (1993), e também argumentista, cenógrafo e activista dos direitos dos homossexuais, falecido em 1994, vítima de SIDA, Wittgenstein é uma original bio-pic de um dos mais marcantes filósofos da linguagem do século XX.
O autor da célebre máxima "Os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo." é aqui apresentado , numa narrativa fragmentária mas plena de humor, como um homem demasiado atormentado pela torrente incontrolável dos seus pensamentos para poder organizar de forma sólida a sua vida pessoal e profissional. Filho de uma das mais ricas famílias do Império Austro-húngaro, nascido em Viena em 1889, Ludwig Wittgenstein, como nos é apresentado por Jarman, lutou duramente contra a instrução que recebeu em pequeno dos seus incontáveis preceptores, rejeitou ainda a fortuna imensa que recebeu em herança, distribuíndo-a pelos sete irmãos e alguns amigos, combateu na Primeira Grande Guerra, foi um péssimo professor primário na província, foi operário na União Soviética, refugiou-se numa cabana no meio do nada na Noruega, ensinou em Cambridge, viveu ambiguamente uma certa homossexualidade e produziu algumas obras fundamentais para o pensamento epistemológico, metalinguístico e lógico. O humaníssimo Wittgenstein criado por Derek Jarman surge-nos como uma pessoa demasiado genial para saber viver com as suas capacidades.


Esta obra biógráfica, ainda que siga uma ordem cronológica, não se apresenta tanto como um documentário mas mais como uma muito teatral incursão no pensamento do filósofo, o que leva, muitas vezes, a afastar-se de uma procura do realismo para mergulhar sem medos nas profundezas do pensamento e da experiência individual. Filmado sempre em estúdio, em quadros completamente negros sobre os quais se sobrepõem as coloridíssimas figuras, quase sempre usando extravagantes figurinos da galardoada Sandy Powell, o filme resulta numa obra plasticamente muito atraente. A procura do humor, no entanto, nem sempre é bem conseguida, surgindo elementos completamente descabidos como a introdução da absurda personagem do extraterrestre ou a cena com as raparigas ciclistas que lhe fazem gestos ofensivos. A musa do realizador, Tilda Swinton, tem uma pequena participação no filme mas os méritos vão sem dúvida para a excelente interpretação de Karl Johnson, valorizada também pelas grandes semelhanças físicas entre o actor e o filósofo.


Ainda que se destine a um sector muito restrito de público, Wittgenstein é um trabalho interessante, que merece ser visto e é capaz de despertar, naqueles que não a conhecem, a curiosidade para a restante filmografia do autor. O filme foi galardoado no Festival Internacional de Cinema de Berlim em 1993.

Classificação - 3,5 Estrelas Em 5

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2 Comentários

  1. Um filme excelente e bastante fiel à filosofia de Wittgenstein. Uma pena ser apreciado por um público tão restrito.

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