Crítica - Fantasia Lusitana (2010)

Realizado por João Canijo
Vozes de Hanna Schygulla, Rudiger Vogler e Christian Patey

O novo trabalho cinematográfico de João Canijo, “Fantasia Lusitana”, é um documentário que acompanha as consequências sociológicas de uma fantasia nacional, fantasia essa que consistiu numa neutralidade politica que foi assumida pelo nosso país durante a 2ª Guerra Mundial. O documentário é composto por inúmeras imagens de arquivo e alguns testemunhos individuais de alguns refugiados que utilizaram o nosso país como uma passagem para o continente americano. “Fantasia Lusitana” não é um trabalho documental muito explícito, ou seja, não consegue oferecer ao espectador uma mensagem histórica concreta porque o seu conteúdo está sujeito à nossa interpretação individual e à concepção histórica que temos desse confuso período da nossa história. O cineasta português tenta analisar o comportamento dos portugueses durante esse período histórico mas não chegou à conclusão histórica mais evidente, ou seja, nunca diz expressamente que os portugueses não contestaram a neutralidade portuguesa porque simplesmente não se queriam envolver num confronto sangrento e violento que estava a ser travado pelas maiores potências mundiais. A neutralidade militar não implica, no entanto, uma neutralidade emocional e é neste aspecto que a politica portuguesa não passou de uma fantasia generalizada porque é impossível um país assumir uma posição neutral quando o confronto está a ser travado à sua porta e quando milhares de refugiados invadem as suas fronteiras à procura de segurança, assim sendo, podemos facilmente concluir que os portugueses seguiram a politica portuguesa porque não se queriam envolver militarmente no conflito armado mas também porque tinham a esperança de conseguir afastar do seu país e das suas vidas as violentas consequências psicológicas dessa guerra. O contraste que é feito entre a devastação europeia e a relativa pacificidade portuguesa é muito interessante e demonstra na perfeição como é que a neutralidade serviu para justificar a nossa inacção a um nível moral e ideológico porque é sempre melhor viver numa fantasia pacifica que numa realidade violenta.
A selecção de imagens e de testemunhos é muito interessante e a sua apresentação ao espectador é efectuada com uma grande simplicidade. Os testemunhos efectuados pelos estrangeiros que “invadiram” o nosso país são extremamente elucidativos sobre a mentalidade portuguesa daquela época, mentalidade essa que infelizmente ainda se mantém muito presente entre o nosso povo, no entanto, acho que é seguro afirmar que muito dificilmente se verificaria hoje a inacção social que se verificou naquela época até porque os tempos actuais são mais abertos à globalização e à colectivização, ou seja, cada vez mais vivemos num mundo onde o individualismo não tem lugar. “Fantasia Lusitana” não é um documentário de grande qualidade mas merece ser visionado por todos aqueles que se interessem por um temática tão badalada como é a 2ª Guerra Mundial e as consequências que esta teve nos vários povos europeus.

Classificação – 3 Estrelas Em 5

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3 Comentários

  1. Já tinha vontade de ver e agora ainda mais.

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  2. Não faço ideia quanto tempo gastaram - realizador, editor e investigadores - para encontrar e seleccionar tantos e tão significativos excertos de jornais cinematográficos de 1940 a 1944. Os comentários sobrepostos às imagens, quando não são os dos locutores oficiais), são de três refugiados em Portugal e de discursos de Salazar por ele póprio, o salvador da Pátria.
    O resultado é imperdível, pelo documento de memória histórica, pelo argumento de debate ideológico e pela prova insofismável das imagens e das expressões pró-nazis dos senhores da política e do aparelho cultural (e cinematográfico) da época.
    Portugal foi assim - e de outro modo, ainda é.

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  3. Concordo com a crítica e com o comentário de Rafael Prata, realço apenas uma certa injustiça histórica do documentário. A neutralidade portuguesa, num país assumidamente de direita e portanto dificl de manter, salvou a vida a mulhares de pessoas, mesmo aos autores dos depoimentos tão pouco gratos ao nosso país. Independentemente da nossa opinião sobre o Regime a neutralidade foi uma das suas melhores coisas bem como a talvez extemporanea exposição do mundo português, pena é que depois tenha contrariado tudo o que conseguiu antes com a guerra colonial.

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