Crítica - Tamara Drewe (2010)


Realizado por Stephen Frears
Com Gemma Arterton, Roger Allam, Bill Camp, Dominic Cooper, Luke Evans, Tamsin Greig

Quatro anos volvidos sobre o multi-premiado “The Queen”, eis que o realizador britânico Stephen Frears regressa aos cinemas com uma obra de cariz totalmente oposto. Deixando a frieza burocrática da monarquia inglesa para trás das costas, e após uma modesta incursão pelo mundo da realeza francesa com “Chéri”, Frears decidiu aventurar-se no género cinematográfico da Comédia. Mas não um qualquer tipo de comédia. Pois este “Tamara Drewe” insere-se numa categoria muito particular da Sétima Arte. Uma categoria apreciada por muitos e incompreendida por alguns; estou, é claro, a falar da fabulosa comédia negra tipicamente britânica. Fiel ao espírito de humor negro (quase mórbido) presente em filmes como o divertido “Death at a Funeral” ou o magnífico (e terrivelmente subvalorizado) “In Bruges”, “Tamara Drewe” afirma-se como uma deliciosa tragicomédia que reflecte sobre as tresloucadas peripécias da vida.


Vários anos após ter abandonado a pacata e aborrecida vila de Ewedown (e após ter executado uma mais que evidente operação plástica ao nariz), Tamara Drewe (Arterton) – uma jovem jornalista de um conceituado jornal inglês – regressa à sua terra-natal para entrevistar um músico de ego inchado chamado Ben Sergeant (Cooper). Instalando-se na casa de campo herdada da sua família, Tamara pretende apenas realizar o seu trabalho e, ao mesmo tempo, encontrar um comprador para a vivenda que ela pouco utiliza. Porém, a sua chegada a Ewedown acaba por causar mais impacto do que ela desejaria. Um modesto jardineiro chamado Andy Cobb (Evans) – seu amigo de infância e alvo de uma primeira paixoneta – fá-la repensar as suas prioridades de vida. E enquanto Tamara vive um momento emocionalmente conturbado, Nicholas Hardiment (Allam) – famoso e convencido romancista que passa a vida a cometer adultério nas barbas da sua fiel e caridosa esposa – vê a escrita do seu mais recente livro interrompida por uma súbita obsessão de cariz sexual para com a regressada rapariga. Para além disto, um académico ligeiramente neurótico tenta desviar os afectos da esposa de Nicholas para a sua pessoa e um par de adolescentes desmioladas tenta fazer a vida negra a Tamara, apenas e só porque esta inicia uma relação íntima com o músico que, para elas, é um autêntico Deus. E de forma quase absurda, esta sequência de acontecimentos desencadeada pela simples chegada da jovem Tamara a Ewedown vai fazer com que o destino deste tresloucado conjunto de pessoas mude para sempre… com consequências ultimamente trágicas para alguns deles.
Tal como nas melhores obras da comédia negra britânica, o ponto forte de “Tamara Drewe” encontra-se na bizarra amálgama de personagens ricas em vulnerabilidade e autenticidade dramática. Estamos perante um filme onde a mais recente tecnologia 3D não traria qualquer benefício ao resultado final da obra. Pois aqui, não são os efeitos visuais que servem de ferramenta fulcral para cativar a atenção do público generalizado. Em filmes como este maravilhoso “Tamara Drewe”, os grandes pontos de investimento estão num argumento robusto e num conjunto de actores que asseguram uma certa empatia com o público. De facto, esta pequena produção da BBC Films apresenta-nos uma narrativa que, a espaços, surpreende e tenta ser original. Para além disso, a câmara sempre segura de Stephen Frears filma cada personagem com um carinho e uma sobriedade por demais evidentes, obrigando a audiência a desenvolver uma certa afeição para com todas elas (mesmo para com o arrogante Nicholas Hardiment e as duas grosseiras e desmioladas adolescentes).


Meus caros, se querem apostar num bom filme de comédia para ver no cinema, esqueçam as constantes (e pouco originais) comédias românticas que invadem as salas de cinema todas as semanas como se de uma praga se tratasse. Se querem ver algo com um mínimo de consistência narrativa e soltar uma boa dose de gargalhadas provenientes de um humor sofisticadamente inteligente, “Tamara Drewe” é a opção correcta. Frears filma com inteligência, os diversos actores mantêm-se sólidos e longe de devaneios, e o bom humor britânico está presente em cada frame da película. Fruto da sua índole independente, “Tamara Drewe” pode não usufruir de uma campanha de marketing tão poderosa como outras comédias de Hollywood. Porém, podem crer que o vosso dinheiro fica muito mais bem empregue aqui do que em qualquer filme de Jennifer Aniston ou Katherine Heigl.

Classificação – 4 Estrelas Em 5

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3 Comentários

  1. Não lhe dou 4*, mas lá perto. Embora grande parte das pessoas que estavam na sala comigo, não tenham claramente gostado, ri-me várias vezes, é uma comédia burlesca, mas inteligente, com momentos memoráveis. De facto, Stephen Frears não desilude.

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  2. É uma comédia diferente daquilo a que a maior parte do público está habituado. Daí que muitos possam não gostar. Até porque nem todos gostam do bom humor britânico.

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  3. à parte os protagonistas passarem a vida a comerem-se uns aos outros ou com quem lhes aparece pela frente, o filme é bom e divertido...

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