Crítica - Celda 211 (2009)


Realizado por Daniel Monzón
Com Alberto Ammann, Luis Tosar, Antonio Resines, Manuel Morón, Marta Etura

Dizer que o cinema espanhol tem crescido imenso nos últimos anos é, por esta altura, uma enorme banalidade, tal é a evidência deste facto assinalável. Ainda há poucos anos atrás, o cinema de "nuestros hermanos" vivia muito à custa dos devaneios artísticos do incontornável Pedro Almodóvar. Internacionalmente, fora os trabalhos de Almodóvar, poucos tinham o prazer de conhecer a verdadeira face do cinema espanhol. Mas agora, graças a obras como “Mar Adentro”, “[REC]”, “El Laberinto del Fauno”, “El Orfanato”, entre outros, o cinema espanhol expandiu-se e provou que consegue estar à altura dos mais exigentes mercados cinematográficos. Com todo o mérito, diga-se. Vencedor de 8 prémios na mais recente edição dos Goya (os prémios mais conceituados do cinema espanhol), “Celda 211” vem agora dar continuidade a este ilustre crescimento, mostrando, uma vez mais, que o cinema que se faz em terras dos nossos vizinhos está bem e recomenda-se.


“Celda 211” conta-nos a história de Juan Oliver (Alberto Ammann), um guarda prisional novato que decide aparecer no seu novo local de trabalho um dia antes do que estava previsto. A sua intenção era, simplesmente, fazer boa figura perante os seus superiores e começar a conhecer os cantos à casa. Porém, para seu grande azar, esse é o mesmo dia escolhido por Malamadre (fenomenal Luis Tosar) – um dos mais perigosos e tumultuosos reclusos da prisão – para despoletar um motim que fará dos guardas autênticos paus mandados. Na confusão do motim, Juan é acidentalmente encarcerado na cela número 211. E quando os restantes prisioneiros o encontram, o jovem guarda vê-se obrigado a fazer de conta que é um deles, não apenas para ganhar a sua confiança, mas também e acima de tudo para sair com vida desta árdua e inesperada provação. E tudo isto enquanto tenta obter informações de Elena (Marta Etura) – a sua noiva em avançado estado de gravidez que, ao que consta, se deslocou até aos portões da amotinada prisão mal recebeu notícias do que estava a acontecer.
Mais do que qualquer outra coisa, estamos perante uma obra extremamente séria, ambiciosa e competente. Os valores de produção são altíssimos, a realização de Daniel Monzón filma a intriga e as dinâmicas de poder entre os reclusos com louvável mestria e as interpretações de quase todos os actores são absolutamente fenomenais. É certo que, por vezes e especialmente na fase final da trama, “Celda 211” cai em alguns lugares-comuns do género que tornam a narrativa algo forçada e previsível. É certo que, a espaços, assistimos a uma dramatização exagerada dos eventos que vão decorrendo. Mas mesmo assim, no cômputo geral, é justo afirmar que estamos perante uma obra de qualidade artística bem acima da média. Pela forma como está arquitectado e pela forma como a história nos é contada, “Celda 211” possui também alguma capacidade de assombro, conseguindo mesmo surpreender-nos pelo humanismo e pela sobriedade com que encara a problemática relatada.


Mas quem rouba o espectáculo por inteiro é Luis Tosar e a sua interpretação do pérfido (embora leal) Malamadre. A simples forma como ele olha a personagem de Ammann nos momentos de maior tensão é de arrepiar e de implorar por mais. Arrisco mesmo a dizer que, caso os Óscares da Academia fossem mesmo os prémios cinematográficos internacionais que pretendem ser, Luis Tosar teria uma vaga assegurada como Melhor Actor Secundário. A sua performance é, de facto, extraordinária. Uma daquelas interpretações que, tão depressa, não conseguiremos esquecer. E o filme em geral só tem a ganhar com uma actuação tão poderosa quanto esta.
“Celda 211” é, sem sombra de dúvida, um dos melhores filmes dramáticos que as salas de cinema portuguesas acolheram nos últimos meses. Tem alma, coração, mensagem e ambição. O que mais poderíamos exigir de uma obra cinematográfica? Assim sendo, aconselho vivamente os leitores a apostarem num visionamento deste filme. E façam-no depressa, porque só pelo facto de se tratar de uma obra de língua não-inglesa, certamente (e infelizmente) não se encontrará em cena por muito mais tempo.

Classificação – 4 Estrelas Em 5

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