Crítica - L'Illusionniste (2010)

Realizado por Sylvain Chomet
Com Vozes de Jean-Claude Donda, Eilidh Rankin

“L’Illusionniste” é, antes de mais nada, uma obra que pretende homenagear o falecido realizador/actor francês Jacques Tati. O filme foi concretizado inteiramente em sua honra e as pistas para chegar a tal conclusão abundam ao longo da película. Como se já não bastasse o facto de o argumento ser da autoria do próprio Tati, Sylvain Chomet (realizador do famoso e premiado “Belleville Rendez-Vous”) fez questão de colocar variadíssimos detalhes na película que permitem ao espectador mais atento identificar, de imediato, a inconfundível presença de Tati. Pois vejamos: Jacques Tati é o próprio ilusionista que protagoniza o filme (a personagem chama-se Tatischeff, o nome de nascença do referido realizador/actor francês); no final descobrimos que o filme é dedicado à filha de Tati; e no próprio decorrer da película, deparamo-nos com uma cena em que o ilusionista entra num cinema e dá de caras com um filme de imagem real protagonizado pelo mesmo Tati. Ora, o que poderia advir de uma obra que é concretizada com um objectivo tão especial em mente? Muito simples. O que advém de tal empreendimento é um filme singular, absolutamente diferente de tudo o que tínhamos visto até aqui (talvez o único filme que se lhe assemelhe seja o próprio “Belleville Rendez-Vous”). “L’Illusionniste” é uma ode ao antigo cinema mudo. O que aqui temos a oportunidade de visionar é animação no seu estado mais puro. Os diálogos (já de si escassos) entre as personagens são perfeitamente irrelevantes e desnecessários. Pois através das dinâmicas do desenho e da amálgama de sons e melodias, a narrativa desenvolve-se com uma naturalidade espantosa e o espectador é perfeitamente capaz de compreender tudo aquilo que Chomet (e Tati) lhe pretende trasmitir (ou quase tudo…).


A narrativa do filme é francamente simples. Tatischeff (com a voz de Jean-Claude Donda) é um simpático ilusionista que percorre o mundo com o intuito de realizar espectáculos de magia nos mais variados teatros e Music Halls. A sua carreira já conheceu melhores dias, pois o mundo não pára de se desenvolver e o público mais refinado parece ter esquecido aquilo que a magia tem de tão único e especial. Um dia, ao actuar num alegre pub da Escócia, Tatischeff conhece uma jovem chamada Alice (Rankin). Esta fica absolutamente encantada com o velhote e não mais larga a porta do seu quarto. E quando o ilusionista parte para outras aventuras, a jovem segue-o à socapa e passa a viver com ele como se fosse sua filha. Única razão, aliás, pela qual o mágico a deixa partilhar os seus aposentos: por esta o fazer lembrar uma filha perdida que, agora, apenas o acompanha no formato de uma velha fotografia a preto-e-branco…
É justo classificar “L’Illusionniste” como um filme belíssimo. E também extremamente complexo. Os aplausos vão todos para a equipa de artistas que desenhou os inúmeros (e maravilhosos) cenários da narrativa. Ao contrário do que muitas vezes se vê noutras produções do género, não existe um único frame em estado de hibernação. O que quero dizer com isto é que o cuidado empregue nos detalhes de cada cenário é extraordinário (palmas aqui para Chomet), havendo sempre qualquer coisa em movimento, por muito minúscula e imperceptível que seja. É precisamente no aspecto visual (a tal animação no seu estado mais puro) que “L’Illusionniste” mais impressiona. Estamos perante uma das animações mais belas e originais de todos os tempos, trazendo de novo para a ribalta a ideia de que o desenho à mão é uma tradição a manter. As animações por computador podem ser mais aprazíveis para o público em geral. Mas artisticamente falando, o desenho à mão continua a ser bem mais glorioso, conseguindo dar uma outra vida e singularidade às diversas personagens.


Nada a ressalvar na componente visual do filme. Mas então e o resto? Ora, aí é que “L’Illusionniste” já deixa algo a desejar. Fiquei com a nítida sensação de que esta obra funcionaria muito melhor como curta-metragem. Muito pouca coisa acontece para tantos minutos de película. E como consequência, o filme acaba por se tornar ligeiramente aborrecido e enfadonho. Ele comporta uma mensagem muito forte e bem relevante! Mas até essa mensagem não chega para abafar o sentimento de que lhe falta muita coisa para funcionar como longa-metragem de méritos reconhecidos.
De forma muito resumida, aquilo que posso dizer é que “L’Illusionniste” se trata de um filme indicado para os fãs acérrimos da animação. Esses decerto não deixarão de se surpreender com a multiplicidade de desenhos dinâmicos, coloridos e competentemente sonorizados. Mas para quem estiver à espera de assistir a uma obra com muito mais sumo que isto, a mais recente película de Sylvain Chomet adquirirá contornos de filme quase experimental e talvez até excessivamente alternativo.

Classificação – 3 Estrelas Em 5

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6 Comentários

  1. concordo inteiramente, muito bonito mas longo de mais.

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  2. muito bom esse filme, muito bem feito. Adorei e recomendo a todos. Não vão se arrepender.

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  3. Assim como descrito, o filme é muito bonito em termos de animação, sempre adorei 2D, porém peca no desenvolvimento da história, pouca coisa acontece. Ficaria realmente perfeito como curta.

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  4. O Ilusionist é um filme muito atraente sobre magia, mistério e segredos revelados por este meio. O filme me lembra da nova série HBO O Hipnotizador que está a alcançar grande sucesso.Uau que ambos são excelentes.

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  5. Temos este filme
    http://www.cineclubegdrive.ml/

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