Crítica - The Fighter (2010)


Realizado por David O. Russell
Com Mark Wahlberg, Christian Bale, Amy Adams, Melissa Leo

A história verídica de Micky Ward não é tão extraordinária ou tão comovente como as histórias dos lendários Jake La Motta ou James J. Braddock, assim sendo, muito poucas pessoas acreditaram que um filme sobre Micky Ward seria tão forte ou tão interessante como “Raging Bull” (1980) ou “Cinderella Man” (2005), no entanto, este pessimismo não impediu David O. Russell (Realizador) e Scott Silver (Guionista) de criarem “The Fighter”, um fantástico filme dramático que superou as expectativas da crítica mundial e que fascinou/maravilhou a Academia de Artes e Ciências que o nomeou a 7 Óscares, Melhor Filme e Melhor Realizador incluídos. Tal como “Raging Bull” (1980) ou “Cinderella Man” (2005), “The Fighter” é muito mais do que um filme sobre um lutador amador que ambiciona ter uma carreira de sucesso, é um extraordinário retrato sócio-familiar sobre um homem que lutou contra os seus adversários mas sobretudo contra a sua família para concretizar o seu sonho, um retrato que merece ser apreciado por qualquer pessoa que queira assistir a um filme convencional mas realista. A história de “The Fighter” é centrada em Micky Ward (Mark Wahlberg), um pugilista amador que sempre viveu na sombra do seu meio-irmão, Dicky Ecklund (Christian Bale), uma lenda citadina do boxe que ficou deslumbrado demasiado cedo com a sua fama e com o seu talento, não tendo por isso aproveitado as várias oportunidades que teve para vencer neste mundo altamente competitivo. Micky não tem o talento natural de Dicky mas é muito mais cauteloso e tenaz que o seu colérico irmão, características que o fazem trabalhar arduamente para concretizar o seu sonho de se tornar um atleta profissional de elite, sonho esse que parece estar ao seu alcance quando ele finalmente conquista uma oportunidade de lutar por um título. O seu sucesso é, no entanto, ensombrado pelos vários problemas do seu irmão e da sua família que culpam Micky pelos vícios de Dicky.


O trabalho de David O. Russell é fenomenal e Scott Silver, Paul Tamasy e Eric Johnson também criaram um enredo excelente, no entanto, não hesito em dizer que “The Fighter” deve muito do seu sucesso qualitativo ao seu brilhante elenco que é liderado por Mark Wahlberg, um actor que nos últimos anos nos ofereceu várias performances secundárias de qualidade em filmes como “The Departed” (2006), “The Lovely Bones” (2009) ou “The Perfect Storm” (2000) e que tem com este “The Fighter” o seu primeiro trabalho de qualidade como actor principal, uma performance que infelizmente não foi reconhecida pela Academia que não o nomeou ao Óscar de Melhor Actor Principal. Wahlberg interpreta Micky Ward, um atleta sério e ousado que era visto como um perdedor nato mas que soube ultrapassar as dificuldades que a vida e a sua família lhe colocaram para vencer, onde o seu meio-irmão falhou miseravelmente, uma vitória que premiou a sua comovente tenacidade e a sua enorme vontade de vencer. A performance de Mark Wahlberg é brilhante mas não é tão soberba como as de Christian Bale e Melissa Leo, dois actores inconstante que mostraram toda a sua classe e talento neste filme. Bale dá vida a Dicky Ecklund, um homem que tinha tudo para vencer mas que acabou por se autodestruir, um homem caótico e alucinado que Bale assume com muito carisma e talento. A sua fantástica performance valeu-lhe o Globo de Ouro de Melhor Actor Secundário e vai-lhe certamente valer o Óscar de Melhor Actor Secundário, um prémio que será mais que merecido. Melissa Leo também está muito bem como Alice Ward, mãe de Micky e de Dicky e que tal como este último se assume como um dos vilões da história. Alice é vista como uma “vilã”, porque inconscientemente ou conscientemente favorece constantemente Dicky em detrimento de Micky, um favorecimento claríssimo que leva este último a quebrar qualquer vínculo com ela. A um nível muito mais secundário temos Amy Adams (Charlene Fleming, Namorada de Micky) e Jack McGee (George Ward, Pai de Micky), dois actores que também estão muito bem como os apoios emocionais de Micky Ward.


O elenco de “The Fighter” é fenomenal, mas não é o único elemento de qualidade deste filme. O seu enredo também é soberbo, muito embora não nos brinde com nada de novo porque a sua estrutura é muito semelhante à de filmes como “ Million Dollar Baby” (2004), “Cinderella Man” (2005) ou “Rocky” (1976), filmes que também utilizaram uma história verídica ou fictícia sobre um lutador sem sorte para abordar temáticas sérias e/ou controversas. O enredo de “The Fighter” centra-se então na triunfante caminhada de Micky Ward até ao Título, uma caminhada extremamente acidentada que ficou marcada pelas várias lutas familiares que ele travou contra a sombra e o vício do seu meio-irmão, mas também contra a incúria da sua mãe, uma mulher que sempre se recusou em aceitar o vício do seu filho mais velho e que sempre o preferiu em detrimento de Micky, um homem que cresceu e viveu num árduo ambiente familiar mas, que mesmo assim, venceu na vida e perdoou todos aqueles que durante anos impediram a concretização do seu sonho. Esta sua surpreendente vitória prova que a tenacidade e o trabalho árduo compensam, tanto no boxe como na vida. A vitória de Micky é oposta à derrota de Dicky, um viciado em crack que tinha tudo para ser melhor que o seu meio-irmão, mas que acabou por ir para à cadeia. Esta sua caminhada descendente e desastrosa também é habilmente retratada por este filme, que não hesita em criticar as suas atitudes perante a vida e o seu sucesso inicial.


O trabalho de David O. Russell também é muito bom, sendo, no meu entender, o seu melhor até à data. O cineasta soube retirar o melhor do enredo e do elenco, mas também soube criar várias cenas que nos transmitem a essência combativa de Micky Ward, uma essência que é melhor avaliada nos seus efusivos combates ou nos seus duros treinos ao lado do seu pai ou do seu meio-irmão. Russel também criou cenas mais sensíveis e emocionantes como aquelas em que Ward enfrenta finalmente a sua mãe e o seu meio-irmão, no entanto, nenhuma destas cenas é excessivamente melodramática. A nível técnico tenho que destacar o trabalho de Hoyte Van Hoytema, um experiente cinematográfo holandês que nos oferece um deslumbrante trabalho fotográfico que só não recebeu a Nomeação ao Óscar de Melhor Fotografia devido à forte concorrência de outros bons trabalhos. É obvio que “The Fighter” tem os seus defeitos e também é obvio que o Óscar de Melhor Filme não lhe vai ser atribuído, no entanto, este é claramente um filme a ver, não só pelo seu brilhante elenco mas também pela sua excelente história.

Classificação – 4,5 Estrelas Em 5

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3 Comentários

  1. Concordo... discordando em alguns aspectos. Acredito que o cerno do filme está na familia parasitária de Micky Ward. Tanto que o expoente do filme é a interpretação de Christian Bale. As irmãs do protagonistas são os esteriótipos das americanas dos anos 80, juntas não dariam um personagem que preste.
    Um bom filme, mas quando se tratando de boxe-movies é apenas normal.

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  2. Concordo... discordando! Bale está perfeito como o exemplo da familia desestruturada do protagonista, e como um decadente esportista. As irmãs são um arremedo de esteriótipos das americanas dos anos 80. Acredito que Wahlberg está bem. Apenas isso. Um bom filme. Longe de ótimo.

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